Crise nos EUA e onda de desemprego

No mesmo dia em que a Câmara dos Deputados dos EUA aprovou, por 263 votos a favor e 171 contra, a nova versão do pacote de socorro ao sistema financeiro, que sugará US$ 850 bilhões dos cofres públicos, o governo ianque divulgou um novo recorde de desem

Foi o nono mês seguido de corte de vagas, na pior sequência desde 2001, ano da última recessão neste país. A taxa de desemprego bateu em 6,1%; quando Georg Bush tomou posse, em 2001, ela era de 3,9%. As reduções mais drásticas ocorreram na indústria (51 mil) e no comércio varejista (40 mil). A construção civil, principal vítima da crise do subprime do setor imobiliário, eliminou 35 mil vagas e as atividades financeiras cortaram 17 mil empregos.
 


Miséria bate recorde
 


Até setembro, já foram eliminados 760 mil postos de trabalho. As projeções indicam que o ano terminará com mais de 1 milhão de trabalhadores demitidos – algo raro na história dos EUA, que só aconteceu quatro vezes (1946, 1949, 1982 e 2001). Com mais este desastre, George Bush, o presidente-terrorista desta nação imperialista, deverá deixar a Casa Branca pela porta dos fundos. Nem o candidato do seu partido, o republicano John McCain, aceita aparecer ao lado do “homem bomba”, já considerado em pesquisas com o pior presidente da história dos EUA. Nos seus dois trágicos mandatos, a vida dos trabalhadores virou um verdadeiro inferno.
 


O Census Bureau, instituto oficial de estatísticas, divulgou recentemente que o número de pobres atingiu 36,5 milhões de pessoas. Já a Academia Nacional de Ciências, órgão independente e mais rigoroso nos cálculos, fixa em 41,3 milhões de pobres, um recorde histórico. O trabalho parcial, temporário e precário é um dos mais altos do mundo, já que impera no país a total desregulação trabalhista, e os salários não têm aumento real, acima da inflação, há anos. Cerca de 47 milhões de pessoas não têm proteção à saúde e 8,7 milhões de crianças estão sem assistência social.
 


O inferno dos imigrantes
 


A crise atinge mais duramente os imigrantes – os milhões de miseráveis da periferia capitalista atraídos pelo “paraíso do consumo”. Há 12 milhões de latino-americanos – incluindo um milhão de brasileiros – na triste condição de ilegais, já chamados de “escravos modernos”. O imigrante coloca a vida em risco ao atravessar o “muro da vergonha”, que separa o México dos EUA. Na parte mexicana, ele é espoliado por máfias criminosas que cobram até US$ 12 mil pela travessia ilegal – dormindo em barracas de lona, sem higiene e com péssima alimentação.
 


Já no território ianque, o imigrante é perseguido por 17 mil soldados – só em abril passado, 4.802 brasileiros foram detidos, uma média de 160 ao dia. Ele também é alvo dos sádicos empresários, que pagam para participar das caçadas organizadas por grupos racistas, como a Gatekeeper. Em 2006, ocorreram 441 mortes na fronteira. Os que ingressam nos EUA são explorados como mão-de-obra barata, nos trabalhos mais penosos e perigosos e sem direitos à rede pública de hospitais e escolas. O imigrante é o retrato da miséria na pátria do capitalismo, que agora afunda na crise.
 


Revolta contra o pacote



Este cenário explica o forte repúdio ao pacote de socorro financeiro elaborado pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson. Diariamente ocorrem protestos na Casa Branca contra a ajuda de US$ 850 bilhões aos bancos. A sociedade não quer arcar com o aumento da dívida interna, que cortará investimentos públicos e, como efeito, causará mais desemprego e miséria. Não aceita “salvar”, com o dinheiro dos seus tributos, dezenas de bancos investigados por práticas ilícitas e nem topa pagar a conta da desregulamentação financeira. Não quer jogar cash for trash (dinheiro no lixo).
 



Conforme relata o jornalista Luiz Carlos Azenha, “há muito tempo não se via revolta tão grande como nos últimos dias nos EUA. Num movimento aparentemente sem lideranças, centenas de milhares de norte-americanos protestaram contra o plano de socorrer Wall Street… A oposição ao pacote juntou gente da esquerda à direita. Eleitores republicanos comparam a intervenção estatal ao ‘socialismo’, enquanto democratas protestam contra o que seria uma recompensa àqueles que estão na origem da crise”. O clima é de repulsa, o que alavanca a candidatura de Barack Obama.