Violência compromete campanhas eleitorais

Ministério Público e Justiça Eleitoral aumentam o rigor contra a corrupção eleitoral e o fanatismo político

Dinheiro e poder. A campanha eleitoral no Interior do Estado esquenta do litoral ao sertão. Atentados à vida, brigas nas praças e até de candidatos dentro de delegacia, sabotagem em comícios, divulgação de pesquisas falsas, perseguições ao voto dos eleitores na calada da madrugada, muitos são os artifícios usados por candidatos a prefeitos e vereadores em cidades do Interior para vencer as disputadíssimas eleições.


 


Contrariando a lógica matemática, municípios menores são a maior preocupação dos juízes eleitorais. Pelo menos 4.407 policiais militares e outras centenas de federais e civis estão nas cidades na Operação Eleições. Destes, 919 são da Capital, 383 do Interior e 3.193 das próprias companhias. Mas faltam viaturas. Temerosos, moradores da Capital que votam no Interior já pensam em justificar a ausência no dia do pleito em outubro.


 


Desafiando a lei e o bom senso, grupos políticos tentam comprar, antes do voto, a coragem do eleitor. Apesar da coligação de partidos, não é a linha ideológica destes, mas a combinação de nomes de peso e interesses nas alianças locais que define os lados da disputa.


 


O acirramento político, comum em qualquer lugar do País, no Interior do Estado tem faceta própria. Os municípios pequenos – com entre seis e dez mil eleitores – são geralmente divididos em dois grupos, notadamente o que já está no poder disputando com uma coligação de oposição. Mais do que em qualquer outra eleição municipal já realizada, Ministério Público e Justiça Eleitoral aumentam o rigor contra a corrupção eleitoral e o fanatismo político das militâncias e dos simpatizantes. Os excessos continuam. “A nossa maior preocupação ainda é no município menor, onde é culturalmente mais forte o acirramento entre os grupos, mas é possível observar que o clima está mais tranqüilo”, afirma Luciana Teixeira, juíza eleitoral responsável por Limoeiro do Norte e São João do Jaguaribe, este com apenas 8.344 habitantes e pouco mais de sete mil eleitores.


 


Carros de som


 


“Isso aqui é um barril de pólvora”, afirmou um policial militar de São João do Jaguaribe. Mas dois dias após uma confusão entre candidatos do PSDB e do PT dentro da delegacia da cidade, com trocas de acusações e, por sua vez, socos e tapas, a Justiça Eleitoral impôs rigor contra os carros de som que vociferassem acusações e incitassem o embate. A reportagem flagrou uma cidade calma, pelo menos por enquanto. “Existe intimidação de eleitores por parte do outro candidato, as pessoas não denunciam porque falta confiança nas instituições, mas é dever da imprensa e das autoridades ficarem alertas, mas sem fomentar a violência ou assustar a população. Aqui já está muito tranqüilo”, afirma Marilack Chaves, integrante do comitê do candidato Antônio Carlos (PT).


 


Para Júlio Vernes, coordenador da campanha do outro candidato, Zé Carlos (PSDB), “não existe intimidação da nossa parte, fazemos uma campanha de propostas e sem ameaças, ocorreu o incidente da delegacia, mas da nossa parte a campanha sempre foi de paz, dentro da lei”.


 


Aliada ao Ministério Público, a Justiça Eleitoral em Limoeiro do Norte e São João do Jaguaribe realizou Termos de Ajustamento de Conduta com coligações partidárias, imprensa e polícias civil e militar, para definir as infrações e assegurar que os espaços para comícios e passeatas fossem respeitados. Tem dado certo. Ainda assim, ações misteriosas e “sem culpados” têm atrapalhado o pleito. Duas semanas atrás, em um comício do candidato a reeleição João Dilmar, faltou energia elétrica minutos antes do pronunciamento do governador Cid Gomes, apoiador político da candidatura. O blecaute atingiu milhares de residências.


 


Um laudo preparado pela Coelce está em fase de conclusão, mas já assegura que houve sabotagem na rede elétrica, conforme o engenheiro da Coelce, Ronildo Carlos de Sousa, que alertou para os danos materiais que uma atitude dessa pode causar aos consumidores. Enquanto se descobria o ponto de falha na rede elétrica, hospitais ficaram sem luz por até 40 minutos.


 


Funcionários da companhia energética encontraram cerca de dois metros de fiação — com parafusos fazendo contrapeso, enroscados em um trecho da rede elétrica no Bairro Cidade alta, local do comício. O material está apreendido até agora na delegacia da cidade.


 


Um dia depois, igual artefato — pendurado até hoje — foi encontrado na rede elétrica em outro bairro onde também havia comício. Sorte da população que não houve blecaute e prejuízos mais graves.


 


Mais informações:
Operação Eleições 2008: (85) 3101.4956 / 3101.4958
Ministério Público de Limoeiro do Norte: (88) 3423.4272
Fórum Eleitoral: (88) 3423-4262


 


CENTRO-SUL
Segurança pública recebe reforço policial


 


Na semana que antecede as eleições municipais, o clima de acirramento entre militantes partidários tende a aumentar, elevando ainda mais o clima de tensão. Juízes e promotores eleitorais mostram-se preocupados. Na região Centro-Sul, o quadro é considerado mais grave nas cidades de Iguatu e Icó. Nesses dois primeiros municípios, além de policiais militares chegou, no fim de semana passado, reforço da Polícia Federal.


 


Discussões, empurrões, agressões físicas leves, tiros disparados em via pública e tentativa de compra de votos são as principais ocorrências registras nas delegacias de Polícia Civil, na região. Os delitos ocorrem à noite e durante a madrugada, quando os militantes das coligações partidárias fazem uma espécie de fiscalização particular, perseguindo carros e motos. O bate-boca e a violência ficam inevitáveis.


 


O juiz eleitoral de Iguatu, Carlos Ademá da Rocha, disse estar preocupado porque o município vive um clima de tensão pré-eleitoral. Ele solicitou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) reforço da Polícia Militar e uma equipe da Polícia Federal, que chegou dia 20 passado. “Já tivemos disparos de arma de fogo em via pública envolvendo segurança de candidatos a prefeito e diariamente há pequenos delitos”, contou. “A Polícia Federal vai cumprir mandados de busca e apreensão e vamos procurar coibir a compra de votos, pois há muitas denúncias”, afirmou.


 


O promotor eleitoral de Iguatu, Antônio Monteiro, avaliou que o acirramento está maior do que no pleito municipal passado. “Agora tivemos conflitos entre seguranças com disparo de arma de fogo. A polícia está apurando o caso”, adianta. Ele mostra-se preocupado com o vai-e-vem de carros e motos de militantes no período da madrugada e com as tentativas de compra de votos. “Vou a partir de hoje acompanhar a Polícia Federal, fazer revista nos carros, condutores e passageiros como forma de coibir a violência e a prática de delitos”, disse. “A aglomeração de militantes e as provocações geram atritos”.


 


Força bruta


O município de Icó recebeu reforço de dez policiais militares, uma equipe da Polícia Federal e um delegado da Polícia Civil. O juiz eleitoral, Francisco Jaime Medeiros Neto, disse que o ambiente de violência e de agitação política é o mais acirrado em sete eleições que ele presidiu. “Aqui a força bruta prevalece sobre a inteligência e a população tem despertado o instinto selvagem. Há desrespeito no uso de carros de som e os políticos e o povo precisam despertar para a cidadania”.


 


O promotor eleitoral de Icó, Nelson Ricardo Gesteira Monteiro, revelou apreensão em face do estilo da campanha eleitoral local. “Se aproxima de ações primitivas”.


 


O coronel da Polícia Militar, Domingos Barroso, está em Iguatu para coordenar a segurança realizada pela PM em 13 municípios da região. No total veio um reforço de 88 policiais. “Sabemos que o clima é acirrado em quase todas as cidades, mas a nossa preocupação é com Mombaça, Iguatu e Icó”, disse. “Vamos intensificar as patrulhas noturnas e abordar os carros suspeitos”.


 


Mais informações:
Fórum Eleitoral de Iguatu: (88) 3581. 2104
Cartório Eleitoral de Icó: (88) 3561.1411;


2ª Companhia Militar de Iguatu: (88) 3581. 9457


 


AUTORIDADES DE PLANTÃO
Disputa mais acirrada no Litoral Leste


 


Na região jaguaribana, a disputa parece mais acirrada em cidades do Litoral Leste, que, dentre outras benesses, têm prefeituras com milionárias receitas públicas, com o recebimento de royalties de petróleo extraído no mar. Em Aracati há 60 policiais militares, outra leva de civis e federais vindos de Fortaleza e Russas. No município de Icapuí, há uma semana houve confusão com simpatizantes políticos do PT e do PSDB, levando 42 pessoas para o hospital, incluindo o prefeito candidato Edilson da Silva (PSDB). E em uma caminhada com a presença do governador Cid Gomes, simpatizantes de Dedé Teixeira (PT) relataram que houve arremesso de ovos por pessoas desconhecidas.


 


Numa das maiores operações de segurança realizada no Estado, a procuradora do Tribunal Regional Eleitoral, Nilce Cunha Rodrigues, disse que ficará de plantão em coordenação com as autoridades da segurança para garantir a tranqüilidade do pleito na Capital e no Interior. Conforme o Coronel Severiano, comandante da Polícia Militar na Operação Eleições no Ceará, um dos pontos mais críticos e de preocupação da polícia é a região da Serra Grande, que envolve os municípios de Tianguá, São Benedito e Viçosa.


 


Por telefone, admitiu à reportagem que o reforço militar é feito com muitos homens e poucas viaturas, “mas estamos pedindo que os juízes eleitorais disponibilizem carros nos municípios para ajudar no trabalho”. Em São João do Jaguaribe, o reforço dobrou de oito para 16, mas só há um carro e uma moto. “Se tem ocorrência, vamos, mas a pé não dá”, afirmou um sargento do reforço vindo de Fortaleza.