Luis Nassif: O crescimento do PIB e a taxa Selic

A divulgação do PIB do segundo trimestre de 2008 traz bom conforto em relação a eventuais riscos de inflação. O crescimento foi robusto: de 6% em relação ao mesmo período do ano passado. Um dos fatores de possível pressão sobre os preços são os chamado

Outro componente de demanda é o FCBC (Formação Bruta de Capital Fixo), os novos equipamentos adquiridos pelas empresas. O crescimento continua bastante superior ao consumo das famílias: 16,2% contra 15,2% de crescimento anual no trimestre anterior. Em um primeiro momento, tem impacto sobre o Nível de Utilização de Capacidade Instalada (NUCI) – que mede o grau de ocupação das fábricas. Em um segundo momento, significa ampliação da capacidade instalada. E o crescimento é bem maior do que o consumo das famílias, assegurando a oferta necessária ao aumento de consumo. Esse item foi impulsionado pela Construção Civil e pela importação de máquinas e equipamentos.



O NUCI é um indicador que pode apontar para futuras pressões de preços. A partir de determinado nível de utilização da capacidade instalada, as empresas tendem a subir os preços. O nível é elevado (de 83,52% em julho), mas mantém-se estável desde o ano passado, refletindo o aumento dos investimentos em novos equipamentos e os ganhos de produtividade.



A importação de bens e serviços continua bastante elevada, de 25,8% contra 18,9% no trimestre anterior. Em parte, reflete os efeitos da greve dos auditores fiscais, que andou represando as importações. Vamos, agora, entender um pouco o que pode acontecer com esse quadro em caso de manutenção ou ampliação da desvalorização cambial.



Hoje em dia, parte do consumo está sendo atendido pelas importações. A contribuição das exportações tem sido diminuta – menos 2,1% (em bases anuais) no primeiro trimestre; 5,1% no segundo trimestre.



Com a desvalorização cambial, haverá menos contribuição das importações, e maior das exportações. Significa que se utilizará mais a capacidade interna para suprir a demanda. Pressão a mais.



Na outra ponta, a desvalorização cambial, com o conseqüente encarecimento das importações, reduzirá o ritmo de consumo das famílias.



Tem mais. Há um vício recorrente de algumas consultorias, de projetar para o todo e sempre bolhas de consumo com data certa para terminar.



Por exemplo, durante anos ficou reprimida a venda de carros novos, seja pela ausência de financiamento e de renda. Liberada, há um salto inicial nas vendas. À medida que essa demanda reprimida é atendida, o crescimento tende a refluir. As pessoas não irão trocar de carro todo ano.



Do mesmo modo, o aquecimento do mercado imobiliário deverá refluir, depois dos exageros dos lançamento imobiliários impulsionados pela captação de recursos em Bolsa.



Juntando-se com os índices de preços – IGP-M registrando variação zero, IPCA mostrando redução – não há motivos para nova alta da Selic.