Palin: manutenção impenitente do conservadorismo

Dias atrás, os democratas indicaram o Senador Joseph Biden, presente no parlamento há mais de três décadas, para compor a chapa com o Senador Barack Obama. O nome do representante do pequeno estado de Delaware exprimiu decerto um posicionamento defensivo

A antecipação dos democratas proporcionou aos republicanos a possibilidade de escolher um nome politicamente denso, ao corresponder à expectativa de setores eleitoralmente desassistidos até o momento. Não se podia desconsiderar, por exemplo, que a Senadora Hillary Clinton havia arrebanhado quase 20 milhões de votos, em parte pelo fato de ter sido a primeira candidata com chances reais de postular a legenda de um grande partido.


 


Assim, a comissão de campanha do Senador John McCain optou por uma mulher, Sarah Palin, sem notoriedade política mesmo na sua agremiação. Entrementes, a adesão maciça à campanha republicana em decorrência meramente do sexo será questionada. Nem todas as eleitoras observaram, por exemplo, com bons olhos a decisão de Palin de retornar ao trabalho apenas três dias após o nascimento prematuro do filho, portador de síndrome de Down.


 


Embora esteja à frente da administração de um estado desde o final de 2006, o Alasca, a sua experiência administrativa não é significativa – previamente, ela foi prefeita de uma diminuta localidade, Wasilla, com menos de 10 mil habitantes. Além do mais, o seu perfil político alinha-se bastante ao do cabeça de chapa, isto é, ambos compartilham o conservadorismo, ela de maneira mais extrema por agregar religião à política.


 


Outrossim, destaque-se que a candidata à vice-presidência posiciona-se de modo veemente contra o direito de escolha concernente à mulher, desacolhe a educação sexual para adolescentes em escolas públicas, minimiza bastante preocupações ambientais e não se contrapõe, por outro lado, ao ensino do criacionismo nas escolas.


 


Ante o quadro delineado, em que se beneficiaria a postulação republicana com a inclusão de Sarah Palin? Às vésperas da indicação, McCain dispunha de nomes mais representativos como o do titular da Segurança Interna, Tom Ridge, favorável, por exemplo, ao direito de escolha. Havia ainda Bobby Jindal, governador da Louisiana, ainda que considerado excessivamente religioso para muitos eleitores dos grandes centros urbanos.


 


Por fim, restou Mitt Romney, ex-governador de Massachussets. Conquanto fosse bem aceito pela base partidária, McCain não demonstrou muito entusiasmo em dividir o proscênio político com ele, talvez em vista das lembranças da tensão ainda do período das primárias. Embora no final ele não tenha chegado aos 20% dos delegados, Romney desempenhou-se muito bem em vários estados, entre os quais Califórnia, Geórgia, Flórida, Illinois etc.


 


O fato de Palin ser politicamente quase uma desconhecida para os eleitores norte-americanos pode auxiliar o Partido Republicano de início. Durante os próximos dias, os meios de comunicação procurarão biografá-la de maneira mais acurada, o que desviará momentaneamente a atenção dos desmandos da administração Bush.


 


O desafio dos democratas reside em demonstrar de forma cabal ao eleitorado que o duplo quatriênio de George Bush não desaguou em êxito não por causa da constituição da equipe, mas sim exatamente em função da plataforma selecionada. Como as mulheres têm proporcionalmente participado mais nas últimas eleições, acredita-se no meio republicano que a escolha feminina para compor com McCain poderia auxiliar a assegurar estes votos.


 


Virgílio Arraes é professor de Relações Internacionais da UnB