Brasileiros ajudam a elaborar reforma agrária paraguaia

Um grupo de brasileiros, entre eles funcionários do governo do Paraná, vem ajudando a preparar nas últimas semanas um projeto de reforma agrária para o Paraguai, numa iniciativa que teria tido o aval do novo presidente paraguaio, Fernando Lugo.

Pelo documento, em fase de discussão, associações e grêmios de produtores rurais no Paraguai – entre os quais estariam incluídos os chamados “brasiguaios” – teriam o papel de ajudar as famílias de assentados com transferência de capacitação técnica, além de arcar com financiamento de parte do programa.



De acordo com uma advogada brasileira que participou da elaboração do texto, o documento deveria ter sido apresentado nesta quarta-feira (3) a Lugo e a parlamentares paraguaios. A programação, porém, foi por água abaixo por causa da crise política que eclodiu na segunda-feira, com a acusação de Lugo de que seu governo estaria sendo alvo de projetos conspiratórios.



Entre os brasileiros que participaram da elaboração do projeto da reforma agrária estão o engenheiro agrônomo Luiz Pasquali, funcionário da Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e o secretário municipal de Agricultura do município paranaense de Chopinzinho, Roberto Suchs.



Pasquali esteve em uma reunião nos dias 7 e 8 de agosto em Ciudad del Este, cidade paraguaia na fronteira com o Brasil, para discutir a proposta. Segundo ele, Chopinzinho, município de 20 mil habitantes no sudoeste do Paraná, é referência em agricultura familiar.



Os paraguaios, conta o engenheiro, souberam da experiência da cidade paranaense por meio de antigos moradores que foram viver e produzir no Paraguai. “Eles visitaram parentes aqui e viram o que estamos fazendo”, explica o agrônomo. Após autorização do governador Roberto Requião (PMDB), que apoiou Lugo nas eleições, Pasquali e Suchs foram a Ciudad del Este para estruturar o documento intitulado de “Programa de Prioridades para el Desarrollo Sustentable de Reforma Agrária”.



Compromisso de campanha



Reforma agrária foi um dos temas constantes na campanha eleitoral de Lugo, que contou com o apoio de movimentos sociais, de camponeses, de sem-terra, entre outros setores da esquerda no país. Ex-bispo católico, Lugo ficou conhecido pelo seu engajamento social e também pelas críticas que fazia a grandes produtores de soja brasileiros no Paraguai, muitas vezes acusados de causar danos à população e ao meio ambiente com o uso irrestrito de pesticidas. Muitos dos sojeiros brasileiros no país têm sido alvo da pressão de grupos de sem-terra. Por isso, um plano de distribuição de terra pensado com a participação de brasileiros poderá causar desconforto em setores do governo do Lugo.



Por enquanto, algumas sugestões já foram feitas, como a realização de um censo para saber o que está acontecendo nos cerca de 110 mil lotes de reforma agrária daquele país – se foram vendidos, arrendados e se estão produzindo. Atualmente a demanda seria de outros 30 mil lotes. Outra sugestão trata da tributação sobre a produção, para a criação de um fundo de apoio à agricultura familiar. De cada tonelada de soja, por exemplo, o produtor terá de pagar um valor para ajudar a comprar equipamentos.



O documento também fala em em garantir “capacitação, aquisição de conhecimentos e técnicas” das famílias de assentados por meio de “convênios entre instituições nacionais e internacionais” e com “instituições privadas, tais como indústrias, cooperativas, grêmios de produtores, que serão responsáveis por uma parte do financiamento do programa”.



Fonte: Valor Econômico