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Sete milhões de pessoas não têm tratamento contra Aids

Três milhões de pessoas contam hoje com tratamento contra a aids. Era o que propunha a OMS para 2005 e que estamos conseguindo penosamente em 2008, enquanto há sete milhões que não o recebem, afirma o argentino Pedro Cahn, co-presidente da 17.ª Conferê

Mais compromisso com o acesso universal a terapias contra o HIV e com a defesa dos trabalhadores da saúde do mundo pobre são dois êxitos marcados pelo médico argentino Pedro Cahn como presidente da sociedade científica que organiza a 17.ª Conferência Internacional sobre Aids. “Entretanto, não é uma gestão pessoal, mas coletiva”, se apressa a esclarecer Cahn, primeiro cidadão de um país em desenvolvimento a presidir a Sociedade Internacional de Aids (IAS).



Quando for publicada esta entrevista concedida ao Terramérica enquanto arrumava as malas em Buenos Aires, Cahn já estará no México conduzindo a 17.ª Conferência desde domingo, dia 3, e entregando a presidência da IAS a outro argentino, Julio Montaner, que dirige o Centro de Excelência em HIV/Aids da província canadense de Columbia Britânica. Em 2010, será investido presidente da IAS o médico africano Elly Katabira, da Universidade Makerere, de Uganda, “um êxito para o qual posso dizer que contribui fortemente”, diz Cahn.



Na linha de fogo desde o surgimento da epidemia, o nome de Cahn ficou definitivamente associado à luta contra essa doença em seu país e no mundo após conduzir, em 2006, a IAS, uma associação independente com mais de 12 mil profissionais de 183 nações, criada há 20 anos para prevenir, controlar e tratar a aids (síndrome da deficiência imunológica adquirida). O médico continua como chefe de infectologia do Hospital Fernández, de Buenos Aires, e presidente da Fundação Huéped, que trabalha para melhorar os serviços de atenção e conseguir um contexto comunitário adequado às pessoas com HIV (vírus da deficiência imunológica humana), causador da aids.



Terramérica – Por que é importante a 17.ª Conferência que acontece no México?



Pedro Cahn – É a primeira vez que este acontecimento tem lugar em um país latino-americano, e ocorre num momento em que o acesso universal a tratamentos está um pouco esquecido.



Terramérica – Então, o que sua gestão à frente da IAS conseguiu?



Pedro Cahn – Antes de tudo, devo dizer que esta não é uma gestão pessoal, mas o resultado de um trabalho coletivo. Conseguimos principalmente mostrar uma IAS mais comprometida com dois temas importantes: acesso universal aos tratamentos e direitos dos trabalhadores da saúde na África, Ásia e América Latina.



Terramérica – Quais problemas esses trabalhadores enfrentam?



Pedro Cahn – Enfrentam más condições de trabalho e baixos salários. Então, paradoxalmente, os países que fornecem ajuda financeira para combater a doença nas nações mais pobres, os captam em seguida para trabalhar. Há uma verdadeira fuga de cérebros do Sul para o Norte. Este é um tema que expusemos publicamente em todos os fóruns. É preciso melhorar as condições para não perdê-los, porque precisamos deles.



Terramérica – E como ficou a intenção de avançar no que ser refere a um acesso maior a tratamentos anti-retrovirais?



Pedro Cahn – A IAS participou ativamente à Onusida (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids) e com a OMS (Organização Mundial da Saúde) analisando como melhorar mais rapidamente o acesso à medicação. Em 2004, 10% das pessoas que deveriam estar em tratamento o receberam, e em 2006 esse índice subiu para 25%. Agora estamos com 31%.


 


Terramérica – Isso é um avanço?



Pedro Cahn – Poderia ser considerada uma boa nota, mas não é. Há cerca de dez milhões de pessoas que precisam de tratamento no mundo, a enorme maioria em países pobres. Chegamos a três milhões. Era o que propunha a OMS para 2005 e estamos conseguindo isso penosamente em 2008. Porém, a má notícia é que nos faltam outros sete milhões. Apenas no Brasil, para dar um exemplo latino-americano, 190 mil pessoas dependem de tratamentos muito caros que não podem ser cobertos sem o compromisso do Estado.



Terramérica – O que falta para avançar rápido?



Pedro Cahn – Mais recursos, vontade política, mais ação. Maior consciência de que não se trata de números, mas de pessoas que morrem por causa de uma doença da qual ninguém mais deveria morrer. Ainda temos cerca de sete mil pessoas que contraem aids a cada dia Isto significa que corremos cada vez mais rápido e, entretanto, nos afastamos da meta.



Terramérica – Houve neste período progressos médicos?



Pedro Cahn – Ainda não há vacinas nem deram resultados as pesquisas em matéria de microbicidas. Por isso, não podemos contar ainda com uma ferramenta de prevenção segura de manejo para as mulheres que não seja o preservativo. Por outro lado, confirmou-se o valor da circuncisão masculina e a efetividade de toda estratégia que combine prevenção com tratamento. Porque quanto maior o acesso à terapia, mais gente consegue diminuir sua carga viral, e então a possibilidade de transmissão do vírus a terceiros se reduz mais.



Terramérica – E em matéria de aids infantil?



Pedro Cahn – Houve avanços nos medicamentos desenvolvidos para crianças, mas o único êxito aceitável neste ponto seria eliminar o contágio de mãe para filho. Para isso é preciso melhorar os cuidados primários com as grávidas. Do contrário, haverá fracasso nessa área.



Leia mais em :



Emergência aids – Cobertura especial da IPS
http://www.ipsnoticias.net/_focus/sida/index.asp



Sociedade Internacional de Aids, em inglês
http://www.iasociety.org/



Hospital Fernández de Buenos Aires
http://www.hospitalfernandez.org.ar/



Fundação Huésped
http://www.huesped.org.ar/



17.ª Conferência Internacional sobre Aids
http://www.aids2008.org/es/



Onusida
http://www.unaids.org/es/default.asp



OMS
http://www.who.int/es/



Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.


 


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