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Lula diz acreditar em final feliz para Rodada Doha

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira (14) que acredita na possibilidade de um “final feliz” para as negociações da Rodada Doha. No próximo dia 21, ministros de cerca de 30 países reúnem-se em Genebra na tentativa de fechar as l

Segundo Lula, caso o Brasil se coloque de acordo com a questão industrial ao mesmo tempo em que os demais líderes de Estado cedam na questão agrícola “como estão dispostos a ceder”, há possibilidade de um acordo “extraordinário” na fase decisiva da Rodada Doha.



As declarações foras dadas por Lula durante seu programa semanal de rádio, “Café com o Presidente”. Confira abaixo sua íntegra:



Olá você de todo o país, eu sou Luciano Seixas e estamos começando agora o programa de rádio do presidente Lula, o Café com o Presidente. Olá  presidente, como vai? Tudo bem?
Tudo bem, Luciano.




Presidente, o senhor está retornando de um roteiro de viagens pela Ásia. No Japão, o senhor esteve presente na reunião do G8, o grupo dos países mais industrializados do mundo, mais a Rússia, e com o G5, que o Brasil participa. O que foi discutido nessas reuniões?
Luciano, as discussões foram sobre temas extremamente importantes. Lógico que os países ricos queriam discutir apenas a questão ambiental. Eu queria discutir outras coisas que são do interesse do Brasil e de outros países mais pobres. Por exemplo, a questão dos migrantes. Hoje na União Européia eles estão cada vez mais aprovando leis pra dificultar a vida dos migrantes, ou seja, dos pobres que chegam lá. Eu fiz questão de dizer pra eles que eu quero que os brasileiros tenham no exterior o tratamento que nós damos aqui aos estrangeiros. É importante lembrar as várias comunidades que tem aqui. E nós convivemos tranqüilamente em harmonia. O que nós queremos é que os brasileiros lá fora e os povos do mundo sejam tratados com respeito, levando em conta a questão dos direitos humanos, e não tratados como se fossem delinqüentes. Outro assunto importante foi a questão dos alimentos. Porque se discute muito genericamente e era importante que a gente levasse o debate para saber o que está acontecendo com a especulação do alimento. Qual é o custo que o Petróleo tem no preço dos produtos alimentícios no mundo? Quanto é que custa um frete? Quanto é que custa um fertilizante? Pra gente poder saber, claramente o que estamos discutindo.



Presidente, sobre a questão ambiental, o que foi conversado?
Eu fiz questão de dizer aos nossos parceiros presidentes de outros países que essa questão ambiental precisa deixar de ser discutida de forma genérica. Primeiro eu quis situá-los sobre a situação do meu país. Nós somos um país que temos 85% da energia elétrica limpa. Nó somos um país que 46 % da energia do país é renovável, Nós somos um país que já utiliza 25% na gasolina de etanol mais o flex fuel. Nós somos um país que está utilizando agora 2% de biodisel no óleo diesel. E nós somos um país que tem ainda 64% das suas florestas intocáveis. Nós pegamos um estudo de um centro de informação de energia dos Estados Unidos que mostrava que de 28 bilhões de toneladas de CO2 que foi emitido no ar em 2005, os Estados Unidos são responsáveis por 21%, a China por 18%. E as pessoas não querem discutir números. E eu quero discutir números porque o Brasil neste aspecto é um dos países que menos polui. E como eu acho que nós temos responsabilidade para diminuir as emissões de gás efeito estufa, nós temos que saber a parte que toca a cada um. Por isso é importante discutir números. E outra coisa, alguns países estão poluindo já há mais de um século. Os países que estão se industrializando agora têm menos responsabilidade. Porque senão fica um debate genérico, os ricos tentando jogar a culpa em cima dos pobres dizendo que os biocombustíveis são responsáveis pelo preço dos alimentos, porque são responsáveis pela poluição. E nós queremos fazer um debate cientificamente sério. Por isso eu convoquei todos eles para vir ao Brasil no dia 20 e 21 de novembro para virem ao Brasil para um seminário internacional sobre biocombustíveis, aonde nos queremos colocar as coisas como devem ser colocadas.



O senhor nos falou das reuniões do G8 e do G5, no Japão, mas o senhor percorreu também outros países da Ásia. Quais os resultados desses encontros?
Olha, eu fui ao Vietnã, fui ao Timor Leste e fui a Indonésia. E tivemos reuniões bilaterais com quase todos os paises lá em Okaido e depois eu tive uma reunião com os BRIC, com a Rússia, China, Índia e o Brasil, que fazem parte dos chamados BRIC. Essas reuniões são extremamente importantes porque são nessas reuniões que a gente tenta vender o peixe do nosso país.  Ou seja tentar vender as coisas, tentar fazer aumentar as balanças comerciais, sobretudo nos países em desenvolvimento onde nos temos muitas similaridades. Nós assumimos um compromisso de aumentar o comércio com o Vietnã, nos assumimos o compromisso de aumentar o comércio com a Indonésia, e no Timor Leste nós fomos lá para propor a ajudar com o conhecimento que o Brasil tem a fazer com que o Timor se transforme em um país desenvolvido.


 


Agora, presidente, existe toda uma expectativa de que nas próximas semanas as negociações da Rodada de Doha finalizem de forma satisfatória. O senhor acha que existe mesmo a possibilidade de um final feliz?
Existe a possibilidade. O que acontece é que os países ricos, todos eles, dizem que está nas mãos do Brasil fazer o acordo, nas mãos do Brasil querer. E não está nas mãos do Brasil. O Brasil apenas negocia representando o G20. Muitos pontos já estão acordados. Nós apenas estamos tomando cuidado para não permitir que a flexibilização que eles querem no setor industrial possa significar o impedimento do desenvolvimento industrial das economias mais frágeis. Se nós nos colocarmos de acordo da questão industrial e eles cederem na questão agrícola, como estão dispostos a ceder, eu penso que nos teremos um acordo extraordinário, eu diria, para todos os países do mundo. 



Muito obrigado presidente Lula, até a semana que vem.
Obrigado a você, Luciano, e até a próxima semana.



Fonte: Presidência da República