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Ombudsman vê parcialidade da Folha mas só no varejo

Carlos Eduardo Lins da Silva, ombudsman da Folha de S.Paulo desde abril, aponta neste domingo (15) ''três episódios recentes'' que ''concentraram'' as críticas de leitores suspeitosos de que o jornal é tucano: o

''No caso Alstom, o jornal 'saiu atrasado', como admite a Secretaria de Redação. Depois do atraso, continuou tímido por semanas. Despertou depois que o concorrente tomou a iniciativa, mas permaneceu mal. Levou um mês para se manifestar em editorial. Na sexta, afinal, produziu uma reportagem convincente com informações exclusivas e apontou com clareza a ligação dos envolvidos com os governos do PSDB em São Paulo'', comenta o ombudsman.

''Na crise gaúcha, o jornal também fez cobertura modesta até esta semana, quando afinal – na terça e na sexta – o assunto foi para a capa'', constata o jornalista encarregado de criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores.


''O pior caso, para mim, é o das doações partidárias, reportagem publicada com destaque no dia 26 de maio. A reportagem tratava de forma claramente desigual doações legais feitas a PSDB e PT por empresas que depois ganharam contratos dos governos federal e dos Estados de São Paulo e Minas Gerais. Embora o valor dos contratos em relação às doações fosse muito maior no caso do PSDB, toda a ênfase foi dada aos do PT'', avalia o jornalista.

Imparcialidade de mercado

A coluna do ombudsman, publicada sempre aos domingos, diz ter recebido 42 mensagens de leitores que se queixam de parcialidade da Folha. ''Destas, 37 diziam que o jornal foi a favor do PSDB em diversos episódios e cinco achavam que ele favoreceu o PT'', informa.

Lins da Silva assevera que ''o apartidarismo é um dos pilares do Projeto Folha desde 1984''. Agrega que o ''pilar'' foi instituído ''dentro de uma lógica de mercado, não ética nem política'', pois caso contrário ''estaria dando um tiro no pé''.

''É verdade. Por que a Folha o faria?'', indaga o jornalista. E prossegue: ''Uma hipótese é que estaria apostando que num futuro governo federal tucano, ela teria tantas vantagens que compensaria o prejuízo da alienação de leitores atual. Aí, entra-se no território das crenças porque é impossível comprovar essa teoria. Eu não acredito nessa possibilidade. Se acreditasse, não teria aceitado o convite para ocupar este cargo e, se um dia vier a crer nela, eu o deixarei.''

Dois meses atrás, o antecessor de Lins da Silva no cargo, Mário Magalhães, não teve seu mandato de um ano renovado – fato inédito desde que o ofício de ombudsman foi criado, em 1989. A julgar pela coluna deste domingo, o novo ombudsman acautela-se para não ter o mesmo destino. Veja sua conclusão:

''Ser apartidário num ambiente de divisão política acirrada é muito difícil. Ser visto como imparcial por todos é impossível. O pior é que não basta ser: é preciso parecer ser. Nestes três casos, a Folha muitas vezes não pareceu ser.'' Sem comentários afora os grifos.

Com informações da Folha de S.Paulo