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Integração européia destrói conquistas sociais, diz líder do PCP

Na noite desta segunda-feira, 9, os militantes e simpatizantes do PCdoB tiveram a oportunidade ímpar de conhecer, com maior profundidade, a luta dos comunistas lusitanos pela voz de um de seus condutores: Jerônimo de Sousa, secretário-geral do PC Portuguê

A palestra Revolução e contra-revolução em Portugal – fatores externos e a União Européia, o PCP e a alternativa, promovida pelo PCdoB, lotou o auditório do Sindicato dos Engenheiros, no capital paulista. Além de Sousa, Ângelo Alves, da Comissão de Relações Internacionais do PCP, também esteve presente.


 


Pela direção do PCdoB, compuseram a mesa o presidente Renato Rabelo, o secretário de Relações Internacionais, José Reinaldo Carvalho e a presidente do PCdoB-SP, Nádia Campeão. Na platéia, dirigentes, militantes e simpatizantes de variadas frentes partidárias e dos movimentos sociais ouviram atentamente, durante pouco mais de uma hora, a exposição dos temas.


 


Exemplo de luta
A abertura ficou a cargo da dupla de músicos David Nunes e Bruno de la Rosa, que com um timbre de Chico Buarque interpretou, entre outras, “Fado Tropical”. Ao iniciar os trabalhos, José Reinaldo destacou: “o PCP é um partido nitidamente comunista, credenciado a dirigir o povo português na conquista de uma sociedade diferente”.


 


Em seguida, Renato Rabelo disse que o partido “é um exemplo de luta pelo socialismo”. Neste momento, disse, “em que há partidos débeis e desvinculados do povo, é essencial podermos contar com o PCP, que tem grande prestígio entre os portugueses”.


 


Heranças de 1974
Para analisar o atual cenário político europeu, Jerônimo de Sousa recordou inicialmente as conquistas obtidas pelos portugueses com a revolução dos cravos, momento dos mais importantes da história da humanidade. “Houve profundas e radicais transformações na vida do país e hoje, passados 34 anos, mesmo com toda a ofensiva do capitalismo, essas conquistas não foram destruídas”, disse Sousa que, logo após a revolução foi eleito deputado da Assembléia da República – o parlamento português – pelo PCP.


 


Entre as principais heranças deixadas da experiência de abril de 1974, Sousa destaca o desenvolvimento das lutas dos trabalhadores e das massas que, naquele momento, foi essencial para ampliar o isolamento social, político e internacional da ditadura salazarista desembocando no processo revolucionário. “A caracterização do regime fascista como governo terrorista, dos monopólios associados ao imperialismo estrangeiro e aos latifundiários, desempenhou um papel central para a compreensão da natureza e das tarefas que se colocavam na revolução”, disse, recordando o ensaio Rumo à vitória: as tarefas do partido na revolução democrática e nacional, escrito pelo histórico dirigente do PCP, Álvaro Cunhal.


 


Segundo Sousa, “foi a partir da análise da realidade portuguesa que o movimento nacional contra a ditadura se assume como antimonopolista e antiimperialista, contribuindo para determinar as características e a natureza da revolução de abril e a construção da unidade do povo português”.


 


Ele alertou, no entanto, para o fato de que a revolução não se resume apenas àquela data. Foi um processo que culminou no levante militar com amplo apoio popular, “força motora da revolução”. A liberdade e a democracia, enfatizou o dirigente, “não foram concedidas nem oferecidas; foram conquistadas com a ação conjugada das massas e dos militares progressistas”.


 


Resultado desse trabalho conjunto, Sousa chama atenção para a concretização de objetivos colocados pelo próprio PCP como, por exemplo, a liquidação dos monopólios, a reforma agrária, a ampliação e garantia dos direitos dos trabalhadores e o fim das batalhas coloniais. “A intromissão do imperialismo (norte-americano), o seu apoio às forças da contra-revolução e suas atividades visando influenciar o rumo dos acontecimentos foi um dos obstáculos que as forças revolucionárias tiveram de enfrentar”, constatou.


 


Políticas liberalizantes
Jerônimo de Sousa denunciou, durante a palestra, o caráter direitista do Partido Socialista e do Partido Social Democrata que, apesar de terem se mostrado favoráveis à construção de uma sociedade socialista em Portugal, assumiram postura oposta ao longo das últimas décadas. “Seus nomes não correspondem à orientação ideológica publicamente afirmada”, disse. E completou: “o PSD é um partido da direita liberal e o PS, um partido social-democrata com uma política econômica de matriz neoliberal”.


 


O secretário-geral do PCP lembrou que, como resultado das políticas liberalizantes implementadas por tais partidos, estão o enfraquecimento do Estado, as privatizações escandalosas, a entrega aos estrangeiros de setores estratégicos da economia portuguesa, a exploração dos trabalhadores, o desemprego em massa, a miséria, o aumento da pobreza e o retrocesso cultural. “Essa ofensiva se intensifica pelas mãos do atual governo do Partido Socialista que, como digo, não pode ter sua sigla confundida com sua prática”, disse. E ressaltou: “nesses três anos de seu governo, o PS mostrou bem o caráter de classe de suas opções políticas: hoje, Portugal é o mais desigual da União Européia”.


 


O governo do primeiro-ministro José Sócrates impôs, de acordo com Sousa, um movimento contrário às conquistas do 25 de abril. “Colocaram o país no processo de integração europeu, uma ofensiva da direita que destrói as conquistas sociais contrariando gravemente os interesses nacionais”.


 


Com isso, explicou, os grandes senhores das terras e das indústrias fizeram fortunas imensas, graças aos subsídios da Comunidade Européia e ao domínio cada vez maior da economia portuguesa pelo capital estrangeiro.  Tal integração, afirmou, “foi um instrumento de contra-revolução, um ajuste de contas com o 25 de abril com o apoio do capital internacional que viu, naquele processo revolucionário, a consolidação de um projeto progressista em Portugal”.


 



Capitalismo em baixa
Finalizando sua apresentação, Sousa lembrou que “o capitalismo recorre aos meios mais perversos para submeter os povos ao seu domínio”. Conforme sua análise, a crise atual – iniciada no centro do sistema, os Estados Unidos – “é epidêmica e já atinge diversos setores produtivos das principais economias mundiais”. O capitalismo vive, disse, “o fracasso do neoliberalismo e confirma mais uma vez seus os limites históricos e suas profundas contradições”.


 


Para Jerônimo de Sousa, “podemos estar diante da mais grave crise do capitalismo desde os anos 20 e 30, uma crise que tem reflexos em todo mundo e o grande capital está se aproveitando disso para agravar as condições de exploração dos trabalhadores e dos povos”. Tudo indica, avaliou, “que será uma crise prolongada com conseqüências terríveis para os países mais pobres”.


 


Apesar da gravidade do diagnóstico, o comunista português vê como positivo o avanço da luta dos povos especialmente na América Latina. “O imperialismo está sendo confrontado e enfrenta dificuldades crescentes decorrentes da luta dos trabalhadores e dos povos”. Para Sousa, “o imperialismo, mesmo munido com um dos mais poderosos exércitos, não tem as mãos totalmente livres para prosseguir impunemente a sua política de exploração e de guerra”.


 


A agenda dos comunistas portugueses no Brasil segue esta semana (veja mais). No próximo dia 12, será a vez dos cariocas assistirem palestra com Jerônimo de Sousa às 18h30 na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.


 


De São Paulo,
Priscila Lobregatte


 


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