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Veja o curta-metragem sobre a comunista Elza Monnerat

A líder comunista Elza Monnerat (1913-2004) já foi alvo de uma bela biografia – Coração Vermelho (de Verônica Berchet, editora Anita Garibaldi, 2002). Agora, essa dirigente histórica do PCdoB e ex-combatente da Guerrilha do Araguaia recebe uma no

O filme veio a público em abril passado, quando Elza foi homenageada pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Confira a íntegra do curta, que tem quatro minutos e 35 segundos. Mais abaixo, para conhecer melhor Elza, leia o prefácio de Coração Vermelho escrito pelo historiador Augusto Buonicore.

 

 

Coração Vermelho (prefácio)

 

Por Augusto Buonicore 

 

Desde início uma pergunta se coloca: Por que Elza? Não foi a principal, ou uma das principais dirigentes, nem foi uma das lideranças mais populares do Partido Comunista no Brasil. Não exerceu cargos no parlamento e nem se caracterizou como grande oradora. Tímida, não gostava de falar nem mesmo em reuniões partidárias. Em situações normais o nome desta mulher extraordinária não comporia na lista de ícones da esquerda revolucionária brasileira. Então, repito, por que Elza?

 

O livro Coração Vermelho de Verônica Bercht é uma resposta definitiva a esta questão. Porque são pessoas como ela que constituem os alicerces de sustentação de todas organizações revolucionárias e da própria construção do socialismo renovado. Por isso mesmo são imprescindíveis e devem ser melhor conhecidas.

 

Elza, aos 88 anos, é um exemplo de militante comunista. Entrou para o Partido em 1945 e nele, por vários anos, se dedicou às tarefas cotidianas de todo ativista de base. Alguns anos depois passou a ter uma função de maior responsabilidade partidária atuando junto a comissão de finanças do comitê regional do Distrito Federal. Naquela época a jovem Elza já demonstrava a sua ousadia ao escalar o Morro Dois Irmãos para pichar o nome de Stálin. Inscrição que coube ao tempo apagar.

 

Elza é uma mulher de princípios. No final da década de 1950 se opõe ao que achava ser desvios reformistas da direção nacional do PCB. Quando foram encaminhados ao Tribunal Superior Eleitoral um novo programa e estatuto, ela foi uma das primeiras a se rebelar e colocou sua assinatura na Carta dos 100. Em seguida rompeu com a direção do PC brasileiro e participou da Conferência extraordinária que reorganizou o PC do Brasil, passando a compor sua nova direção nacional. Sua primeira tarefa foi ajudar, como revisora, no processo de elaboração do jornal A Classe Operária

 

Após o golpe militar de 1964 passou ser a responsável pela montagem dos aparelhos nos quais se reuniam os membros do Comitê Central. Era ela que buscava e levava os dirigentes para as reuniões clandestinas. A partir de 1967 ela se dedicou a organização da guerrilha na região do Araguaia. Dona Maria, como era conhecida ali, caminhava por quilômetros à fio ao lado de outros guerrilheiros mais jovens. Em abril de 1972 conseguiu escapar do cerco montado pelo exército.

 

Elza é, acima de tudo, uma mulher de coragem. Sua primeira prisão se deu em dezembro de 1976, quando já estava com 63 anos, durante a chamada queda da Lapa. Foi presa enquanto cumpria, mais uma vez, a tarefa de conduzir em segurança os membros do Comitê Central para longe do "aparelho" partidário. Não deu sossego aos seus captores, ainda quando era conduzida ao DOI-Codi, encapuzada e cercada de policiais, gritava "Abaixo a ditadura". Os policiais tiveram dificuldade para silenciá-la. Ela queria que as pessoas que estivessem passando soubessem que ali estava uma militante revolucionária que não se rendia.

 

Durante o tempo em que permaneceu aprisionada foi torturada e se comportou de maneira exemplar. Anos depois de sua prisão continuou a dar trabalho à ditadura, participando de uma greve de fome patrocinada pelos presos políticos. Ela seria libertada apenas em 31 de agosto de 1979, após a anistia. A imagem que ficou marcada de sua libertação era de uma senhora magra, de cabelos brancos, utilizando uma calça de jeans e trazendo um indisfarçável sorriso nos lábios, um sorriso de alguém vitoriosa.

 

Durante todos estes anos, Elza nunca esteve no centro do palco, mas estava lá, participando das principais cenas. Esteve presente em todos os momentos decisivos da vida do PCdoB. João Amazonas afirmou: 'E ela impregnada desse sentimento (de amor e dedicação ao partido e ao povo) realizou tarefas que foram importantíssimas para a sobrevivência do partido'. Diante da questão 'por que Elza?', responderia: 'Porque ela é o exemplo de revolucionária'.

 

Elza, como era de se esperar, resistiu a idéia de elaboração de um livro sobre sua vida. Para ela o mais importante não eram os indivíduos, mas o Partido e a causa pela qual se luta. No entanto, não existiria Partido sem pessoas como Elza. A sua vida é um patrimônio do movimento operário e socialista brasileiro e deve ser divulgada para que sirva como exemplo para as novas gerações.

 

Numa época marcada pela ofensiva política e ideológica do neoliberalismo, na qual predominam valores anti-sociais como o individualismo, o egoísmo – a lógica do 'cada um por si' – a biografia de Elza é uma demonstração inequívoca de que uma nova humanidade é possível e que os poderosos de plantão, apesar das aparências, não são invencíveis. O exemplo de vida de Elza e seu sorriso de criança são poderosos aríetes contra os muros já apodrecidos dessa ordem injusta do capital.