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Fotos: foliões, mais do que Parada GLBT, querem direitos

A 12º Parada do Orgulho GLBT, neste domingo (25), teve 3,5 milhões de pessoas, segundo a Polícia Militar, e 5 milhões, segundo a APOGLBT (Associação da Parada GLBT de São Paulo). O Vermelho esteve na avenida Paulista e constatou uma

Sob o lema “Homofobia mata, por um Estado laico de fato!”, o centro da capital amanheceu diferente. Independente da cor, do sexo, da idade e de padrões estéticos, a liberdade estava em todos os lugares. Para onde quer que se olhasse, celebrava-se a diversidade (confira a galeria de fotos ao final da matéria).

 

“Eu cheguei aqui às oito e meia. Esperava vender mais, mas a concorrência me impediu. Ainda bem que a festa estava bem divertida!”, disse ao Vermelho a vendedora ambulante Adriela Zannatta, 19 anos. Ela é uma das centenas de pessoas que foram à Parada com a expectativa de fazer um dinheirinho.

 

Diferente de Adriela, o camelô Odair José saiu satisfeito com as vendas. “Vendi muito bem”, falou ele, que começou a trabalhar assim que a Parada teve início, ao meio-dia. “Acho a Parada uma beleza”, finaliza.

 

Para as namoradas Mendi e Suki, que participaram da Caminhada Lésbica no sábado (26), mais do que uma oportunidade para se ganhar dinheiro, a parada é uma trégua no preconceito.

 

“Geralmente as pessoas olham pra gente rindo, fazendo piadas. Mas hoje não, podemos sair e beijar à vontade. Pena que a festa acaba, e segunda o preconceito já está aí de novo”, diz Mendi.

 

“A Parada é muito importante, mobiliza as pessoas, mas o que vai acabar mesmo com o preconceito são mais políticas de Estado para os GLBT”, afirmou a foliã Tatiana Pacheco.     

 

Números e perfil do público

 

Segundo a São Paulo Turismo, cerca de 327 mil turistas estiveram na cidade para a 12º edição da manifestação . A estimativa é de que a Parada tenha movimentado cerca de R$ 189 milhões, tornando-se o segundo maior evento em arrecadação financeira, atrás apenas da Fórmula 1.

 

Depois da Virada Cultural, a Parada é quem traz mais turistas à capital. Este ano, 5% vêm de outros países e 95% são brasileiros. Os turistas ficam em média quatro dias na cidade, e gastam aproximadamente 30% a mais do que o turista médio. A 12º edição também deve ter gerado ou mantido uma média de 13,5 mil empregos diretos e indiretos, e mobilizando 52 setores da economia.

 

Segundo pesquisa da São Paulo Turismo, o perfil do público do evento é equilibrado entre homens e mulheres, e predominam os participantes entre 25 e 39 anos (39,5% do total), seguido pelos de 18 a 24 anos (39%). Entre os entrevistados, 49% se declararam homossexuais; 37% heterossexuais; 8,6% bissexuais e 1,4% transexuais.

 

Entre as empresas que mais investiram no evento está a Petrobras e a Caixa Econômica Federal – que distribuiu milhares de bandeirolas em defesa da diversidade sexual.

 

“Eu venho às Paradas porque acredito que a mobilização é importante. Mas tem coisas que eu vejo que, na minha opinião, descaracterizam o sentido político da manifestação. Acho todo esse carnaval e consumismo uma delícia, mas penso que isso muitas vezes acaba escondendo o principal, que é a nossa luta por mais direitos e contra o preconceito”, disse a a drag queen Hellen de Sá.

 

Preconceito e violência

 

Tratada por seus organizadores como uma ação política, a Parada do Orgulho GLBT foi dividida em dois atos. “O momento em que celebramos o orgulho do que somos e o momento de reivindicação dos direitos que nos são negados”, explicou o presidente da APOGLBT, Alexandre Santos, 35, o Xande.

 

Em meio à festa, Xande lamentou ter que se preocupar em arrumar outro local para a sede da APOGLBT. Hoje, a associação funciona no 13º andar do Edifício Andraus, próximo à Praça da República, no centro da capital. No mesmo andar, há outras quatro ONGs. Todas podem ser obrigadas a entregar as salas ao governo do estado até o dia 14 de junho. “Num dia, você faz a maior manifestação do planeta, no outro é despejado”, afirma.

 

Ele também falou sobre a oposição dos grupos religiosos aos GLBT. “Uma vez, ouvi um senador evangélico dizer que se criminalizar (a homofobia), ele não vai poder falar na igreja que somos aberração, que somos doentes”, disse.

 

“Crimes contra gays costumam ser muito mais cruéis. Outro dia, vi um pai falar para o filho, quando um travesti passou na rua: ‘nesse tipo, você pode bater’. Por isso estamos dizendo: homofobia mata, por um Estado laico de fato  nesta Parada”, explica.

 

Para ele, a principal luta do momento é a parceria civil. “É o ponto mais complicado. E aí entra, de novo, a questão religiosa”, agrega.

 

Ato político

 

O carro de som que abriu a Parada foi amplo e trouxe candidatos adversários na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

 

''Esta é a diversidade que o país quer, a diversidade que nós temos para crescer como um país buscando um nicho turístico entre a comunidade gay'', disse a ministra do Turismo, ex-prefeita de São Paulo e ícone do movimento, Marta Suplicy (PT). Para a ministra, o Brasil tem que ficar conhecido como um país “com homofobia zero e sem pessoas com medo de ser homossexual”.

 

Marta participou de todas as edições da Parada do Orgulho GLBT. “Eu estive desde a primeira, quando éramos duas mil pessoas. A Parada Gay hoje é uma manifestação sem violência”, disse.

 

Já o prefeito Gilberto Kassab (DEM) aproveitou o momento para lançar o “selo da diversidade”. Ele indicará ao consumidor homossexual os estabelecimentos que o tratam bem.

 

Para o organizador da Parado do Orgulho GLBT em Moscou, Nikolai Alekseev, a Parada de São Paulo inspira gays de todo o mundo. ''Ela [a parada paulistana] dá esperança para outros países e grupos GLBT pelo mundo na sua busca por seus direitos'', afirmou Alekseev. Já para Geri Meier Levinson, organizador da Parada de Jerusalém, a parada brasileira é um exemplo. ''Espero que o prefeito de Jerusalém tenha como exemplo o que acontece aqui no Brasil para apoiar mais a luta pela igualdade e direitos humanos'', falou.

 

Várias celebridades também passaram pela festa, entre elas, Viviane Araújo, que foi coroada rainha dos gays do Brasil 2008. No ato deste domingo também estava presente a vereadora Soninha (PPS) e os ministros da Desigualdade Social, Edson Santos, e dos Esportes, Orlando Silva.

 

Incidentes

 

Alguns incidentes marcaram a Parada neste domingo.  Houve uma tentativa de invasão da área reservada aos jornalistas por um grupo de cem manifestantes, por volta das 15h30, devido à superlotação da avenida Paulista.

 

Na esquina da Paulista com Consolação, também um trio elétrico do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo atropelou Rubens Martins, 56, que feriu as pernas. Segundo a Santa Casa de Misericórdia, ele chegou consciente e passa bem.

 

O trio elétrico da Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas) foi impedido de desfilar na Parada pela organização devido à documentação irregular, segundo versão da APOGLBT. Os militantes da Conlutas resistiram a abandonar o trio e foram retirados à força pela organização e pela PM, gerando tumulto e confusão por alguns minutos na Paulista. Segundo nota da entidade, uma militante do PSTU teve a mão quebrada e outros ficaram feridos.
  

O comandante-geral de operações da Guarda Civil, o inspetor Sérgio Jovino, confirmou que houve 50 casos de furtos –só uma pessoa foi detida.

 

* Com informações de agências

Matéria modificada dia 1º de junho às 18h59.