Messias Pontes: Saída de Marina Silva preocupa duplamente

Quem acompanhava a atuação da então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, não se surpreendeu com o seu pedido de exoneração, em caráter irrevogável. Ela tem paciência de Jó, mas paciência, como tudo na vida, tem limite.  Ela resistiu até onde p

O que os verdadeiros ecologistas temiam acabou acontecendo, ou seja, a Ministra foi vencida pelos que defendem o desenvolvimento a qualquer custo, e, lamentavelmente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais uma vez, se deixou pautar pela grande mídia conservadora, venal e golpista a serviço do que há de mais atrasado no País. Os duvidosos êxitos do agronegócio contaminaram o presidente Lula e ele acabou dano as costas para a sua mais fiel colaboradora.


 


Lula, não tenhamos dúvida, é o mais sensível de todos os presidentes na história do Brasil. Ele tem um compromisso com o social como nenhum outro teve, mas apesar da sua amabilidade, algumas vezes perde o senso do ridículo e acaba atingindo, grosseiramente,  os seus mais fiéis colaboradores. Assim foi com Cristovam Buarque, homem comprometido até a medula com a educação, demitido por telefone quando estava fora do País a serviço do Ministério da Educação.


 


Com Marina Silva o presidente Lula, mais uma vez, cometeu outra injustificável grosseria, tirando de suas mãos o PAS – Plano Amazônia Sustentável -, um projeto gestado por ela no início do seu governo, para entregar ao ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, sem ao menos lhe consultar. O agronegócio, que só tem compromisso com o lucro, e a direitona brasileira ainda estão vibrando e comemorando efusivamente a derrota dela.


 


Para se ter uma idéia do que isso representa, basta analisar a declaração de um dos mais desprezíveis políticos brasileiros, no caso do deputado Oniyx Lorenzoni, do Demo gaúcho: “A saída dela pode fazer com que o bom senso seja retomado nas questões ambientais”. Disse ainda que Marina Silva “atrasou muito o Brasil com a irracionalidade no trato de questões como os transgênicos”.


 


A primeira grande preocupação dos que têm compromisso com o desenvolvimento sustentável é que seja solto o freio de mão do desmatamento. Não é demais lembrar que Marina Silva conseguiu reduzir em mais de 60% o desmatamento da Amazônia, colocando o Brasil em 2º lugar entre os que mais ampliaram a sua área florestal. Também sob seu comando foi decuplicada a área de manejo sustentável, passando de 300 mil para três milhões de hectares. Isto é bastante significativo e teme-se um retrocesso.


 


Não se pode duvidar da competência e do compromisso do novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, com as questões ambientais. Porém ele já chega fragilizado e tendo de enfrentar o inimigo fortalecido com a saída de Marina Silva. Ele também pode ser contaminado com o vírus do crescimento a qualquer custo, ora defendido pelo presidente Lula e pelos setores mais conservadores do seu governo.


 


A outra grande preocupação é com a sanha do imperialismo norte-americano que sempre cobiçou a Amazônia. Sabemos todos que o imperialismo ianque e o grande capital internacional nunca tiveram compromisso com o meio ambiente, nunca tiveram interesse em preservar o meio ambiente. O seu interesse é com as incalculáveis riquezas minerais e com a inigualável biodiversidade daquela região.


 


A saída da Ministra teve uma repercussão internacional acima do esperado, a ponto de ser notícia de primeira páginas dos maiores jornais do mundo. Cresceu com isso a ignóbil idéia de que a Amazônia é importante demais par ser administrada pelos brasileiros. É preciso denunciar qualquer tentativa de invasão da Amazônia. Devemos estar preparados para defender a soberania nacional, com o sacrifício da própria vida se preciso for.


 


Diante disso torna-se imperioso radicalizar, do Oiapoque ao Chuí, na defesa do crescimento sustentável, respeitando o meio ambiente.


 


Aqui em Fortaleza é preocupante a maneira como a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semam) vem fornecendo alvará pra tudo que é obra sem o devido estudo de impacto ambiental. A incompetência e a irresponsabilidade já ultrapassam o limite do tolerável, e os exemplos são muitos como têm denunciado vários ambientalistas e o próprio líder do PT na Câmara Municipal, vereador José Maria Pontes. A prefeita Luizianne Lins precisa com urgência dar um basta em tudo isso.


 


O Ministério Público precisa agir em toda a cidade como fez com relação ao Parque Ecológico do Cocó, tendo conseguido da Justiça Federal a concessão da delimitação de uma área de 500 metros no entorno desse Parque. O que vem sendo feito na Água Fria, na Praia do Futuro e em outras áreas da cidade, parece até que Fortaleza está sendo governada por demos ou tucanos. Isto é inadmissível!


 


Messias Pontes é jornalista