Ditadura: Uma disputa simbólica nos espaços públicos da capital da Terra da Luz.

“Na Morada , Fortaleza” por Evaldo Lima


Nossa geração teve pouco tempo


começou pelo fim


mas foi bela nossa procura


ah! Moça, como foi bela a nossa procura


mesmo com tanta ilusão perdida

O Golpe militar de 1º. de Abril de 1964 inaugurou um terrível pesadelo na mais longa noite da História do Brasil e não ocorreu de forma inesperada, nem por razões circunstanciais. A derrubada do governo constitucional e democraticamente eleito do Presidente João Goulart foi o desfecho de uma prolongada crise político-institucional, aprofundada desde a renúncia, motivada pela atuação de “forças ocultas”(?) de Jânio Quadros.


 


Passados quarenta e quatro anos do  covarde Golpe de Estado uma questão interessante fica no ar: Há motivos para comemorara data ? Sustento que sim! O comemorar aqui não é sinônimo de festejar. Muito pelo contrário, temos muito que lamentar, entre outras coisas pelos inúmeros sonhadores e idealistas que tombaram nos cárceres, os torturados e desaparecidos do regime. O comemorar aqui significa lembrar coletivamente, o não esquecer,  e é esta memória coletiva ( a memória com) que possibilita a reflexão crítica daquele tempo sombrio. 


 


O Golpe Militar encerrou a experiência democrático-populista originário da “Era Vargas” e estabeleceu um governo autoritário e centralizador, instaurando um profundo terrorismo de Estado que teve seu momento mais marcante com a instauração do Ato Institucional Número 5 ( AI-5) que fechou o Congresso Nacional, cassou os direitos políticos de centenas de legisladores, prefeitos e juízes, levando para a dura experiência dos cárceres e das torturas milhares de pessoas em todo o país, abrindo assim, a face mais violenta dos chamados “Anos de Chumbo” com a radicalização extrema da repressão política e policial a todas as forças democráticas. O confronto estava declarado. Contudo, o enorme desequilíbrio entre os contendores opunha de um lado a barbárie dos mais fortes e do outro a coragem dos mais fracos. Não foi uma guerra e sim um massacre



Há duas versões na disputa simbólica pela memória coletiva do acontecido. O regime militar não entendia que seus homens (torturadores e assassinos como Sérgio Fleury) cometiam crimes e sim defendiam a pátria contra o terrorismo. Os que combatiam o regime afirmavam que lutavam pela libertação nacional, por reformas sociais e contra a ditadura militar.


 


Hoje ainda há um embate sobre o significado daquele período. O que houve foi um golpe, contragolpe ou Revolução? Os locais públicos de Fortaleza refletem desproporcionalmente esta disputa. Em Fortaleza, terra de Castelo Branco, a disputa simbólica pelos espaços públicos da cidade é amplamente favorável ao regime militar. Aqui temos desde uma Praça 31 de março, até uma Avenida Castelo Branco, passando pelo Colégio Estadual Presidente Médice. Será que não caberia ampliação de espaços públicos em homenagem a Tito, Bérgson , Jana ou Helenira?


 


 


Evaldo Lima é professor e colaborador do Vermelho/Ce