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Angola cresce uma vez e meia mais depressa que a China

Há um milagre angolano que se opera desde o fim da guerra civil, em abril de 2002. Nos seis anos desde então, o PIB (Produto Interno Bruto) do país cresceu inacreditáveis 104,2%. No ano passado o índice foi de 16,3%. E a previsão para 2008 é de 16,2%. É u

Na  Conferência Internacional de Tóquio para o Desenvolvimento de África, que se concluiu nesta sexta-feira (21), no Gabão, a ministra angolana do Planejamento, Ana Dias Lourenço, revelou o segredo do milagre em seu país. “Ela mostra que a paz e a estabilidade política são factores fundamentais, porque só depois da assinatura dos Acordos de Paz, em 2002, foi possível estabilizar a economia, começar o processo de reconstrução das infra-estruturas, e criar um enquadramento atrativo para o investimento”, afirmou.
Antes de 2002, Angola viveu 27 anos consecutivos de luta armada: primeiro a guerrilha contra o colonialismo português (1961-1975) e em seguida a guerra civil, estimulada pelo regime racista da vizinha África do Sul. Até hoje as feridas da guerra estão abertas, influenciando inclusive a economia, como os campos minados que entravam o desenvolvimento agrícola.



Produção de óleo iguala a do Brasil



O boom dos preços do petróleo coincidiu com o acordo de paz, entre o governo do MPLA (a ex-guerrilha anticolonial) e os rebeldes da Unita (ex-aliados dos sul-africanos). O país apostou firme na exploração de suas ricas reserva. No fim do ano passado a extração de óleo chegou a 1,9 milhão de barris-dia, equivalente à do Brasil. As reservas de óleo angolanas são de quase 18 bilhões de barris, superiores às brasileiras mesmo incluindo-se o potencial estimado do campo de Tupi.



Desde  2006 Angola entrou na Opep (Associação de Países Exportadores de Petróleo). A produção petrolífera angolana é a segunda maior da África subsaariana, perdendo apenas para a da Nigéria.



Setor não petrolífero é o que mais cresce



É certo que o petróleo tem um peso desmesurado no milagre angolano. Em 2007 ele representou 90% das exportações, 50% do PIB e 80% da arrecadação de impostos. Mas existe um esforço consciente para impulsionar os outros ramos econômicos. E uma crença de que chegou a hora do setor não petrolífero. O governo angolano calcula que o índice de crescimento deste último, no ano passado, alcançou 19,5%, contra “modestos” 13,3% de aumento da produção de petróleo.



A agricultura e os serviços têm tido “crescimento muito acima do programado”. Na área agrícola, as medidas decisivas são a desminagem, a introdução de sistemas de irrigação e também a reinserção sócio-econômica das populações deslocadas pela guerra. A construção civil avança em ritmo febril. A  taxa de desemprego mantém-se alta, 25,2%, apesar de ter recuado 4 pontos percentuais em relação a 2005.



A ministra Ana Dias defendeu em Libreville que o crescimento de dois dígitos foi causado também pelo petróleo, mas “sobretudo, pelas boas práticas de gestão, escolha de políticas públicas que convergem com as de redução da pobreza, o aumento da produção e do desenvolvimento interno e de um vasto programa de reconstrução e modernização de infra-estruturas que permite o crescimento de outros setores da economia afastados do petróleo”.



Angola declinou a oferta de um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para monitorar a recuperação econômica do pós-guerra. Em contrapartgida, aderiu com entusiasmo à idéia das parcerias público-privadas (PPP), tomada do Brasil, embora não tenha prosperado aqui. O biocombustivel é outra área em que Angola se beneficia da experiência brasileira.



Presença brasileira



O capital brasileiro participa, embora tardiamente, do boom angolano. Não existem estatísticas exatas sobre a participação de brasileiros e de empresas brasileiras na economia angolana, mas a Associação de Empresários e Executivos Brasileiros em Angola (Aebran), fundada em 2003, calcula que é superior a US$ 5 bilhões, oquase 10% do PIB do país.



A Petrobras está em Angola há 28 anos, mas só no ano passado decidiu priorizar o país. Grandes empreiteiras como a Norberto Odebrecht, a Camargo Corrêa e a Queiróz Galvão têm feito negócios da China em Angola.



A embaixada do Brasil em Luanda estima que são cerca de dez mil brasileiros no país. Mas, segundo empresários brasileiros em Angola, computados os legais e os ilegais, o número não é inferior a 25 mil em uma população oficialmente estimada em cerca de 15 milhões de habitantes.



Da redação, com agências