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Paulo Henrique Amorim: a CIA pagou a conta de FHC?

O Estadão de hoje, domingo, dia 10 de fevereiro, publica no caderno Cultura dois interessantes artigos sobre o palpitante livro Quem pagou a conta? – A CIA na Guerra Fria da Cultura, de Frances Stonor Saunders, Editora Record. O livro

Permito-me fazer um modesto acréscimo aos dois artigos do Estadão. Saunders dedica uma parte significativa de seu trabalho ao casamento da CIA com a Fundação Ford, “uma vasta massa de dinheiro cercada por pessoas que querem algum”, na opinião de Dwight Macdonald…


 


Saunders expende 23 páginas do livro para tratar da Fundação Ford. Mostra que, com a chegada de John McCloy à presidência da Fundação Ford, em 1953, montou-se a ligação indissolúvel entre a Ford e a CIA – a ponto de a Ford ter uma “unidade administrativa” para gerir os pedidos e a infiltração da CIA na Fundação. McCloy era o que Saunders chama de “arquétipo do poder e da influência norte-americana no Século 20”.


 


McCloy foi presidente do Chase Manhattan Bank e, portanto, “empregado dos Rockefeller, assim como, mais tarde, foi Henry Kissinger. Tudo isso para lembrar ao prezado leitor que uma das “ações” mais notórias da Fundação Ford no Brasil foi financiar o Cebrap, por obra e graça de Fernando Henrique Cardoso, aquele que, como o Farol de Alexandria, iluminava a Antiguidade.


 


O papel da Fundação Ford, segundo Saunders, era precisamente financiar organizações e pesquisas culturais e cientificas, de acordo com a política da CIA de criar um ambiente cultural a favor dos Estados Unidos. A bem da verdade, deve-se registrar que a primeira linha de investigação do Cebrap esteve sob a responsabilidade  da excelente demógrafa Elza Berquò.


 


Porém, não se deve imaginar que a Fundação Ford fosse composta de um conjunto de néscios. É bom não esquecer que entre as obras — ou seja, entre os best-sellers — de Fernando Henrique Cardoso se inclui Dependência e Desenvolvimento na América Latina — Ensaio de Interpretação Sociológica, com Enzo Falleto, de 1970.


 


Diz o livro no capitulo da conclusão:


 



“… a compreensão da situação atual dos países industrializados da América Latina requer a análise dos efeitos do que chamamos de ‘internacionalização do mercado interno’ expressão que caracteriza a situação que responde a um controle crescente do sistema econômico das nações dependentes pelas grandes unidades produtivas monopolisticas internacionais.” (Grifo do PHA.)


 


“…a situação atual de desenvolvimento dependente não só supera a oposição tradicional entre os termos ‘desenvolvimento’ e ‘dependência’, permitindo incrementar o desenvolvimento e manter, redefinindo-os, os laços de dependência como se apóia politicamente em um sistema de alianças distinto daquele que no passado assegurava a hegemonia externa. Já não são os interesses solidários (???) com o mercado interno nem os interesses rurais que se opõem aos urbanos …a especificidade da situação atual da dependência está em que ‘interesses externos’ radicam (???) cada vez mais no setor de produção para o mercado interno…”


 


Se o amigo leitor conseguiu entender alguma coisa, merece uma cocada baiana, daquelas que a “tapioca” do Serra gosta de comprar. Como leio o autor há algum tempo, desde quando meus professores, padres jesuítas da PUC do Rio, indicavam Fernando Henrique Cardoso como exemplo “exuberante” do método marxista de interpretação da realidade, vou tentar uma “tradução”.


 


É a seguinte:


 


É melhor o Brasil tirar o cavalo da chuva, porque os Estados Unidos mandam e vão mandar sempre no pedaço. É a “dependência” irrevogável, irreversível, inexorável… Houve duas leituras para a tese da “dependência”. Uma parte da esquerda achou que, de fato, não havia saída e foi para a luta armada. É por isso que muitos estudiosos – sérios – responsabilizam Cardoso e Falleto por jogar alguns jovens na luta armada – aqueles que conseguiram entender o que Cardoso escreveu!


 


Há também a leitura pela direita. Foi a leitura que o Presidente Fernando Henrique Cardoso fez: não adianta, eles é que mandam mesmo, vamos ao FMI porque lá é que se decidem as coisas. É o que ele diz até hoje: mais cedo ou mais tarde, vem um tsunami lá de fora e “eles” vão voltar a mandar no pedaço …


 


Eu trabalhava na Globo quando FHC tomou posse pela primeira vez. O Globo Repórter me encarregou de entrevistar o professor Albert Hirschman, em Princeton, sobre seu ex-aluno. Hirschman disse que a eleição de Fernando Henrique era uma prova de que a tese da “dependência” estava errada… 


 


De qualquer forma, errada ou não a tese da “dependência”, a Fundação Ford aparentemente fez um grande investimento em Fernando Henrique Cardoso. Entre as várias explicações que o Farol de Alexandria (FHC) deve aos brasileiros aparece agora mais essa: ele sabia que o dinheiro para o Cebrap vinha da CIA? Qual o papel da CIA política acadêmica do Cebrap?