Famílias governamentais de Minas Gerais

Artigo do jornalista Luis Carlos Bernardes, o Peninha, analisa as tradições familiares na política mineira, que para ele: “à medida em que o Estado for acabando com seus terceiro e quarto
mundos e o desenvolvimento econômico e social for avançando, a
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A recente matéria da repórter Marina Schettini em O Tempo sobre famílias políticas de Minas nos faz revisitar o clássico estudo “Famílias Governamentais de Minas”, de 1956, em que o autor, Cid Rebelo Horta enumera os – à época – 50 ramos familiares mais importantes da árvore genealógica da política mineira, então exercida sob a economia e as relações agrárias, onde o Palácio da Liberdade era – e ainda pode ser considerado – o mais forte partido político do Estado.

Afinal, a política da época, e até os anos 70, era feita com personagens surgidos nos núcleos familiares municipais, de ramos frondosos na genealogia mineira, como os Andradas e os Bias, ou os bacharéis ou ainda nomes que emergiam das máquinas do Estado e dos municípios.

Interessante observar que, com a industrialização, que atinge importantes regiões – mas não toda Minas Gerais -, nossa política passou a ter matizes novos, com a presença de empresários de outros setores. José Alencar, na industria têxtil e Marcos Sant’Anna, na construção pesada, são exemplos, ao lado de sindicalistas, trabalhadores e acadêmicos, como José Maria de Almeida, Tilden Santiago, Célio de Castro, Chico Ferramenta e Sandra Starling, entre outros, que deramà nossa política tons de maior representatividade em relação aos interesses sócio-econômicos e à nova visão do Estado, semelhante a São Paulo e a países desenvolvidos.

Mas a Minas industrializada convive com a Minas agrária e dos coronéis, porque o Estado possui regiões do primeiro ao quarto mundos, com IDHs que possuem igual oscilação. E só lembrarmos da Grande Belo Horizonte, Triângulo e Sul de Minas – desenvolvidos -, e do Jequitinhonha e Norte do Estado, nos limites do terceiro e quarto mundos.

Este é um dos motivos pelos quais, mesmo depois de 30 anos de bolsões importantes de industrialização, a política de Minas segue tendo ramos familiares na sua árvore genealógica.

Além disso, a política municipal no Estado, fora raras exceções da Grande Belo Horizonte e cidades grandes, ainda é exercida de pai ou avô, para filho ou neto, embora mesmo nestes rincões, ou grotões, haja exceções com políticos surgindo fora das velhas árvores genealógicas.

Além disso, é importante observar que as famílias políticas quase já não alcançam, ou nem sonham, com o Executivo, restringindo- se a atuar no Legislativo – municipal, estadual ou federal. E aí é importante lembrar que, daqui para a frente, os clãs familiares só permanecerão se prestarem bons serviços à sociedade e não às respectivas famílias.

E que à medida em que o Estado for acabando com seus terceiro e quarto mundos e o desenvolvimento econômico e social for avançando, a tendência das famílias políticas é perder espaços. Que serão ocupados pelos outros personagens, empresários, trabalhadores, sindicalistas, representantes da sociedade civil, ao mesmo tempo em que os partidos vão ter de conviver com associações comunitárias, ONGs – sérias, claro, chega de picaretagem -, com uma política mais participativa, inclusive com espaços para a democracia direta, exercida pelo cidadão e pela cidadã.

Publicado originalmente no jornal O Tempo, do dia 11/02/2008