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Saiba como foi a agonia e a tumultuada queda de Romano Prodi

O governo do premier centro-esquerdista Romano Prodi caiu na quinta-feira (24), após o Senado italiano rejeitar o pedido de voto de confiança. Mas a crise que derrubou Prodi presenciou uma brusca aceleração nos últimos nove dias, com uma crescente perda d

No dia 16 de janeiro, vem à tona a notícia da prisão domiciliar de Sandra Lonardo, depois de uma série de acusações de corrupção. Sandra, presidente do Conselho Regional da Campânia (sul da Itália), é mulher do agora ex-ministro da Justiça Clemente Mastella. Ambos pertencem ao partido Udeur, que apoiava o governo até a explosão da crise.


 


Mastella anuncia logo em seguida sua demissão, acusando os juízes relativos ao caso de “extremistas”. Também afirmou que, “entre o amor da família e o poder”, preferia a primeira opção. Prodi, contudo, não aceita sua demissão e, mais tarde, informa-se que o ex-ministro também está envolvido nas investigações de corrupção.


 


No dia seguinte, Mastella confirma que deixaria o ministério. Ausências estratégicas da centro-direita no Senado (sobretudo da Forza Italia) tratam de salvar o cargo de Antonio Bassolino, governador da província de Campânia, frente à resolução que previa a dissolução do Conselho Regional.


 


O premier Prodi não nomeia um novo ministro da Justiça e assume as funções interinas do cargo, em 18 de janeiro. Neste momento, com novas acusações e condenações por corrupção, como a do governador da Sicília Salvatore Cuffaro (a cinco anos), grupos começam a se articular e a se dividir na Câmara dos Deputados e Senado. Fica em risco a maioria governista nas duas casas — fundamentais para a continuidade do governo de Prodi.


 


Respiro na Câmara


 


No dia 21, Mastella anuncia que seu partido — a Udeur — sairia definitivamente da maioria governista e chega a pedir eleições antecipadas no país. Em face do iminente risco de perder a maioria parlamentar, Prodi se reúne com a coalizão governista Unione e decide se apresentar às duas casas para pedir voto de confiança. Na Itália, esse recurso é usado para verificar se existe maioria e conseqüente apoio para a continuidade do governo


 


Um dia depois, Prodi discursa na Câmara dos Deputados e confirma a decisão de pedir o voto de confiança aos parlamentares italianos. A Udeur e outros grupos partidários de oposição reafirmam a intenção de votar contra Prodi. O premier já vislumbrava a vitória na Câmara, que realmente acontece, no dia 23, com 326 votos a favor e 275 contra. A Udeur acaba não votando na Câmara dos Deputados, mas afirma que estaria presente na sessão do dia seguinte (24, quita-feira) para barrar o premier.


 


A vitória no Senado era incerta — e, mais uma vez, grupos e líderes se articulam para sondar possibilidades de virar o jogo para ambos os lados: Prodi chegou a ter apoio informal de 160 parlamentares contra outros 160 de oposição, mas verificou-se que lhe faltariam cinco votos para passar pelo voto de confiança no Senado.


 


Prodi se encontra com o presidente Giorgio Napolitano por meia-hora, ainda no dia 23, para discutir a crise política — e volta para casa sem dar total certeza de que usaria o recurso do voto de confiança no Câmara Alta. Alguns parlamentares diziam ao premier para desistir da idéia, que só seria confirmada no dia seguinte.


 


A queda


 


Na quinta-feira (24), Prodi sobe ao Senado: “Estou aqui porque cada crise deve ser enfrentada de peito aberto — e não nos bastidores”. Com insultos e algumas agressões entre os parlamentares, começa a sessão de fogo para o governo de centro-esquerda liderado por Prodi.


 


O ex-ministro Mastella, visivelmente emocionado ao retirar a confiança ao governo do qual fez parte, cita versos do poeta chileno Pablo Neruda: “Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos dos 'is' a um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos”.


 


A única surpresa do dia é proporcionada por Nuccio Cusumano, um dos três senadores da Udeur, pequeno partido liderado por Mastella e recém-saído da coalizão de governo. Ele anuncia que pensava em votar a favor de Prodi, desatando a ira do líder da sua bancada, Tommaso Barbato. Após chamá-lo de “uma merda”, Barbato lança uma série de insultos (que, segundo algumas testemunhas, incluíam um cuspe no rosto). Cusumano chega a desmaiar e é retirado da sala do Senado em uma maca.


 


Mas o voto de Cusumano revela-se insuficiente para salvar Prodi, assim como os votos dos seis senadores vitalícios presentes na sala (entre os ausentes se destacavam Giulio Andreotti e o ítalo-argentino Luigi Pallaro). E vem o resultado: o voto de confiança é negado a Prodi, por 161 votos contra e 156 a favor. Assim, confirma-se a derrota definitiva de Romano Prodi, que entrega a demissão ao presidente da Itália, Giorgio Napolitano.


 


Da Redação, com informações da Ansa Latina