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Brasil tem o menor gasto com juros dos últimos dez anos

O Brasil gastou o equivalente a cerca de 6,3% do Produto Interno Bruto (PIB) com o pagamento de juros em 2007, o menor percentual desde os 4,61% do PIB de 1997. Para 2008, a expectativa é de uma nova queda, devido à perspectiva de que os juros serão ligei

As despesas com juros são inferiores aos gastos com os benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), hoje na casa de 7% do PIB ao ano e equivalem a mais de 18 vezes os dispêndios com o Bolsa Família (algo como 0,34% do PIB). Vale ressaltar que o resultado fiscal de dezembro ainda não foi divulgado. Os gastos com juros nos 12 meses até novembro atingiram 6,32% do PIB, número próximo do qual deve fechar o acumulado no ano. Em valores absolutos, as despesas financeiras de 6,32% do PIB equivalem a R$ 160,285 bilhões.



Gasto ainda alto



Apesar de estarem no nível mais baixo desde 1997, as despesas com juros do setor público brasileiro ainda são muito elevadas. Numa lista de 116 países com estimativas da agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P), os 6,3% do PIB só são menores do que os da Jamaica (13,2% do PIB), do Líbano (10,5% do PIB) e da Turquia (7,7% do PIB).



O economista Fernando Fenolio, do Unibanco, acredita que os gastos com juros ficarão na casa de 6% do PIB em 2008. “Será uma queda modesta em relação a 2007.” Fenolio diz que a taxa Selic média será apenas um pouco mais baixa do que a do ano passado, num cenário em que o Banco Central (BC) mostra cautela em relação ao comportamento da inflação. Ele projeta uma Selic média de 11,25% ao ano em 2008, apostando que a taxa ficará inalterada ao longo de 2008. Com isso, ficará próxima da média de 11,9% do ano passado. Fenolio espera um crescimento ainda robusto da atividade econômica, de 4,8%, um pouco inferior aos 5,3% projetados para 2007.


 


O economista Cristiano Souza, do ABN Amro, acredita numa queda um pouco mais forte dos gastos com juros do setor público em 2008, estimando despesas de 5,6% do PIB. Ele projeta uma Selic estável em 11,25% neste ano e aposta num crescimento do PIB de 4,7%. Souza aponta ainda dois outros fatores que podem aliviar a carga de juros neste ano: os gastos com os encargos da dívida externa devem ser relativamente baixos em 2008 e – aposta ele – o dólar tende a subir em relação ao real.


 


O consultor de análise econômica do Itaú, Joel Bogdanski, não descarta nem mesmo que a valorização do câmbio continue em 2008. Se alguma agência de rating elevar o Brasil a classificação de grau de investimento, o fluxo de dólares para o país pode aumentar, derrubando a moeda para a casa de R$ 1,65 a R$ 1,70, diz ele, que projeta gastos com juros abaixo de 6% do PIB neste ano, na casa de 5,8% do PIB. Os juros médios deverão ser um pouco menores neste ano e o crescimento ainda será razoável, próximo a 4,5%, avalia Bogdanski.



Razão dos gastos


 


Os elevados gastos com juros do Brasil se devem a dois fatores, dizem os analistas. O primeiro é que o país ainda tem uma dívida muito elevada, ainda que ela esteja em queda como proporção do PIB, como nota Lopes. Em novembro de 2007, a dívida líquida do setor público equivalia a 42,6% do PIB. Lopes acrescenta que o endividamento tem caído como proporção do PIB, mas continua a aumentar em termos absolutos, já que o setor público brasileiro ainda tem déficit nominal (quando se incluem os gastos financeiros no resultado das contas públicas), atualmente na casa de 2% do PIB. Em novembro, a dívida líquida era de R$ 1,127 trilhão.



O outro fator é que a taxa básica de juros no Brasil ainda é muito alta. Embora a Selic tenha caído de 19,75% em setembro de 2005 para os atuais 11,25%, os juros reais brasileiros continuam muito elevados. Se descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses, a taxa real está em 6,7%, ainda alta para padrões internacionais.



Mesmo com esses dois problemas, os gastos com juros do setor público como proporção do PIB mostram de fato uma tendência de queda razoável – vale lembrar que, nos 12 meses até agosto de 2003, as despesas financeiras do setor público totalizaram 9,66% do PIB.



Fonte: Valor Econômico