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General Musharraf impõe estado de emergência no Paquistão

O ditador do Paquistão, Pervez Musharraf, decretou neste sábado (3) o estado de emergência em todo o território do país e suspendeu a Constituição para tentar reestabelecer sua autoridade, face aos desafios da oposição democrática e da inssurreição is

Em um pronunciamento à nação transmitido em cadeia nacional de TV na noite de sábado, o presidente, que é também general do exército e comandante supremo das forças armadas, argumentou sua decisão com a necessidade de defender a ''unidade nacional'', diante de ''graves conflitos internos''. ''O terrorismo e o extremismo estão em seu apogeu'', afirmou. E investiu também contra os tribunais, culpados, segundo ele, de ''insultar funcionários'' e ''paralisar o país''.

Corte suprema considera decreto ilegal

O estado de emergência deve provocar um adiamento das eleições legislativas no país de sistema parlamentarista, antes previstas para janeiro.

Em Islamabad, testemunhas citadas pelo jornal Le Monde descreveram deslocamentos de tropas no interior da sede da rádio-televisão estatal. O exército também ocupou a Avenida da Constituição, onde ficam os edifícios da presidência, da Assembléia Nacional e da Corte Suprema.

Esta última, envolvida ultimamente em uma disputa com Musharraf, ensaiou uma rejeição do decreto presidencial que decretou o estado de emergência, considerando-o ''ilegal''. No entanto, o mesmo decreto destituiu na prática os membros do mais alto tribunal paquistanês.

Ao mesmo tempo, as ligações telefônicas com a capital foram cortadas. E as transmissões das TVs privadas estão interrompidas em várias cidades.

A volta de Benazir

A medida de força coincide com o retorno ao país da ex-primeira ministra Benazir Bhutto, após oito anos no exilio. Conforme um porta-voz de Benazir em Londres, ''ela não sabe se será autorizada a desembarcar, presa ou expulsa''.

Ao retornar, no último dia 18, decidida a participar das eleições de janeiro, a líder oposicionista escapou por pouco de um atentado suicida islâmico, que deixou 139 mortos. Ao mesmo tempo, uma multidão calculada entre 250 mil e 1 milhão de pessoas se reuniu para dar-lhe as boas vindas.

Também em Londres, outro ex-primeiro ministro paquistanês, Nawaz Sharif, denunciou o estado de emergência como ''uma tentativa desesperada do ditador em desgraça, que revelou sua verdadeira face aos olhos do mundo''. ''Ele pensa que a Corte Suprema não o autorizará a continuar como presidente; por isso adotou essa decisão'', disse Sharif, avaliando que o país marchava para ''a anarquia''.

Potências ocidentais limitam-se a lamentos

O governo indiano, que mantém com o Paquistão uma disputa territorial em torno da Cachemira, imediatamente declarou ''lamentar'' a decretação do estado de emergência. Também  fez votos para que o país, possuidor de armas atômicas, prossiga a transição rumo à democracia.

A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, referiu-se a uma decisão ''muito lamentável''. Uma nota da Casa Branca qualificou-a também de ''muito decepcionante''. O secretário do Foreign Office britânico, David Miliband, declarou-se ''gravemente preocupado''. ''É vital que o governo aja de acordo com a Constituição e mantenha seu compromisso de realizar eleições livres e equitativas, como estava previsto'', comentou. A Comissão Européia disse estar também ''preocupada'' e desejar ''um rápido retorno à democracia''.

Oito anos de ditadura militar

O general Musharraf acha-se no poder desde o golpe de estado que derrubou Sharif, em 1999, impondo uma ditadura militar que se institucionalizou a posteriori. Tradicional aliado dos EUA no subcontinente indiano, passou a desempenhar um papel estratégico depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, ao oferecer o território do seu país como base para a invasão do vizinho Afeganistão.

A decisão, porém, terminou contaminando o já instável Paquistão, país islâmico com território menor que o de Mato Grosso e população de mais de 140 milhões de habitantes. Os talibâs afegãos movimentam-se livremente pela região montanhosa do nororeste paquistanês, que escapou ao controle de Musharraf. A oposição democrática e aquela islâmica partem para a ofensiva, enquanto a ditadura volta a recrudescer. Tudo isso cria uma situação sumamente embaraçosa para a administração estadunidense de George W. Bush, que sempre apresentou a aliança com Musharraf como um passo para ''estabelecer a democracia'' no grande Oriente Médio.

Da redação, com agências