Para PCdoB Manuela é alternativa a velha polarização no RS

O jornal Zero Hora publicou matéria na sua edição deste domingo na qual analisa as perspectivas da candidatura da deputada Manuela após a mexida que ocorreu no cenário da sucessão da capital gaúcha com a volta de Fogaça para o PMDB.

O PCdoB vinha discutindo com os peemedebistas a viabilidade de aliança eleitoral em 2008, tendo Manuela como cabeça de chapa. Esta hipótese contava com a simpatia de muitas lideranças do PMDB local, entre elas do Senador Pedro Simon.


 


A volta de Fogaça ao seu antigo partido (Fogaça elegeu-se prefeito de Porto Alegre pelo PPS, partido no qual ingressou em 2001 com dezenas de lideranças vindas do PMDB),inviabilizou o avanço das tratativas entre os comunistas e peemedebistas.


 


Em reunião da Comissão Política estadual, realizada no dia 08/10, o PCdoB avaliou que o novo cenário não inviabiliza a candidatura de Manuela. Para os comunistas, o retorno do prefeito ao PMDB anuncia a ''velha polarização'' com o PT, algo que já foi rejeitado outras vezes pelos gaúchos.


 


A decisão do partido é continuar as tratativas com os partidos que compõem com os comunistas o Bloco de Esquerda (PDT, PSB, PMN, PHS e PRB) a as siglas que integram a base de apoio ao governo Lula. O PCdoB não descarta aliança com o PT, desde que seja mantida a candidatura de Manuela a prefeita. ''O PT pode indicar o vice. Por que não? Isso evitaria a velha polarização e poderia unificar um bloco amplo, da esquerda renovada no estado'', é o que afirmou o presidente estadual do PCdoB, Adalberto Frasson.


 



Veja a seguir a íntegra da matéria, assinada pela jornalista Marciele Brum.


 


O fator Manuela



Frustrada a negociação com o PMDB, a deputada comunista sacode o tabuleiro eleitoral ao se negar a desistir de antemão da candidatura a prefeita da Capital e se torna a maior incógnita do pleito. Às 10h do dia 29 de setembro, um sábado, a deputada federal e candidata a prefeita Manuela DÁvila, 26 anos, selou o fim do namoro com o PMDB, reacendeu o desejo de união do PT e deu novo impulso ao realinhamento de partidos na disputa pela prefeitura em 2008.


 


Na véspera, o prefeito da Capital, José Fogaça, havia deixado o PPS e retornado ao PMDB, tornando-se candidato do partido à própria sucessão. Manuela sabia que havia sobrado.


 


O rompimento com o PMDB foi suave, por telefone, sem as recriminações que cercaram a saída de Fogaça do PPS. Ela fez duas ligações para o senador Pedro Simon (PMDB) na sexta-feira. Depois de repetir que Manuela tinha de concorrer à prefeitura, Simon se transformara numa espécie de padrinho informal de sua candidatura. O senador não atendeu. Afirmou depois que estava visitando a irmã Salem, internada para exames no Hospital Moinhos de Vento. Quando retornou, Manuela não pôde falar. No dia seguinte, Simon chamou novamente, mas a ligação caiu. Os dois só conseguiram falar às 10h de sábado, quando a deputada retornou a chamada. Simon estava a caminho da missa pelos 80 anos da ex-deputada Dercy Furtado.


 


– Liguei apenas para lhe agradecer pelas referências elogiosas – disse Manuela.


 


– Minha querida, tu vais longe – respondeu Simon, num último afago.


 


Terminada a conversa depois de cinco minutos, o senador comentou com assessores:


 


– Que elegância.


 


O senador aposta que Fogaça, hoje seu candidato, enfrentará Manuela no segundo turno da eleição. Não pôde convidá-la para vice. Em três encontros, segundo o veterano parlamentar, a deputada havia confidenciado que não aceitaria ser vice nem do PT. Manuela desconversa:


 


– Não costumo usar palavras definitivas na vida e na política.


 


A aproximação entre Manuela e o PMDB causou desconforto no aliado histórico dos comunistas em pleitos: o PT. O sepultamento da coligação PMDB-PC do B renovou o ânimo do PT, que perde votos com a candidatura de Manuela. Enquanto ela investe em uma aliança com outros partidos da base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Porto Alegre, o PT insiste em reeditar a Frente Popular com PC do B, PSB e PDT já no primeiro turno.


 


O presidente estadual do PT, Olívio Dutra, argumenta que nunca houve afastamento ou possibilidade de ruptura com o PC do B. Indagado sobre o peso eleitoral de Manuela, respondeu:


 


– Não personalizo, não fulanizo nem personifico a política. Não tem essa que um tira voto do outro. Em conjunto, reforçamos uma visão política de construção do bem comum. Não é o carreirismo, a promoção pessoal de um ou outro.


 


Para o secretário-geral do PT estadual, Carlos Pestana, há diferença entre as eleições proporcionais e majoritárias.


 


– Tenho certeza de que a experiência administrativa e o conhecimento do candidato pesa muito na escolha do eleitor quando é uma eleição para prefeito – destacou Pestana.


 


Simon discorda:


 


– Surpresa será se Manuela não fizer muito boa votação para a prefeitura.


 


Nos bastidores, líderes do PT manifestam à deputada simpatia pela sua candidatura. Mesmo assim, não há espaço para o PT apoiar Manuela. O partido está dividido entre dois pré-candidatos fortes: a deputada federal Maria do Rosário e o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário Miguel Rossetto. O desejo é atrair Manuela para o posto de vice. A própria candidata, no entanto, não dá sinais de que pretenda desistir da disputa pela prefeitura.


 


– Hoje, não existe nenhum motivo ou impeditivo que faça o PC do B não ter candidato nas eleições – diz.


 


E se houver um pedido de Lula ou uma decisão nacional do PC do B de apoio ao PT na Capital?


 


– Não somos mandados por ninguém de outro partido. Apoiamos Lula desde 1989, mas ele não é militante do PC do B. Vamos lançar candidatos a prefeito em cidades onde o partido adquiriu viabilidade eleitoral – afirmou a deputada.


 


Outros aliados de Manuela também não gostaram dos flertes com o PMDB. Um deles, hoje em Brasília, diz que o PMDB usou a candidatura do PC do B para pressionar Fogaça a voltar ao partido:


 


– O PC do B se atirou de corpo e alma na aliança com o PMDB. Foi uma ilusão. Nunca devemos nos atirar à primeira declaração de amor de raposas.


 


Manuela garante que não foi traída pelo PMDB:


 


– Eu não era casada com o PMDB. Sou de um partido só. Foram apenas tratativas. Não concluímos nada. Negociamos com todos os partidos.


 


Entre uma votação e outra no plenário, Manuela intensifica contatos com os deputados federais Beto Albuquerque (PSB) e Vieira da Cunha (PDT), em Brasília. O maior obstáculo é que os três sonham com candidaturas a prefeito. No Estado, o presidente estadual do PC do B, Adalberto Frasson, costura apoios na base de partidos de Lula. A estratégia é lançar Manuela como uma terceira via entre PMDB e PT. Os comunistas avaliam que a correligionária não será prejudicada pelo pouco tempo de TV por ser conhecida. Outra vantagem seria a captação de votos da esquerda e de quem votou em Fogaça em 2004.


 


– Além de a esquerda não ser mais monopolizada pelo PT, Manuela extrapola o campo da esquerda – afirma o deputado estadual Raul Carrion (PC do B).


 


PSOL é dos poucos partidos a não se interessar por Manuela


 


Entre os partidos de olho na disputa de 2008, um dos únicos que não corteja Manuela é, ironicamente, o de sua amiga e aliada na Câmara Luciana Genro (PSOL). Deputada federal mais votada da Capital, Luciana sustenta que a comunista não tem condições políticas para disputar a prefeitura e rejeita a visão de que Manuela representaria uma terceira via à polarização PT-PMDB.


 


– O PC do B é um aliado incondicional do governo Lula e sempre esteve nas administrações petistas. Por outro lado, também não é alternativa por ter negociado aliança com o PMDB, partido de Fogaça – observa Luciana.


 


Mesmo em lados opostos, não deve haver clima de hostilidade entre Manuela e Fogaça. No dia 25 de agosto, em festa realizada sete dias depois do aniversário da comunista, o prefeito levou-lhe de presente um CD com músicas compostas por ele e interpretadas pela primeira-dama Isabela.


 


– Felicidades – desejou Fogaça na festa no salão de eventos do Sport Club Internacional.


 


 


De Porto Alegre
Clomar Porto