Goiânia homenageou os 70 anos da UNE

Em concorrida Sessão Especial da Câmara Municipal de Goiânia, os goianos e goianas prestaram justa homenagem aos 70 anos de fundação da União Nacional dos Estudantes. A iniciativa partiu da

 


UNE, 70 ANOS: POR UM OUTRO MUNDO POSSÍVEL



por Marina Sant´Anna*


 


“Daí o porque de não me ´entregar`. Não reconheço nem posso reconhecer como ´justiça` o grau de distorção que se chegou neste terreno. A Justiça a que recorro é a consciência democrática de nosso povo e dos povos de todo mundo”


Honestino Guimarães



(Frase escrita pelo estudante publicada em um trecho do livro Honestino, o bom da amizade é a não cobrança)


 


Instrumento de luta pela democracia, soberania e justiça social. Há 70 anos, a União Nacional dos Estudantes (UNE) consolida-se não somente como entidade de representação estudantil, mas como parte integrante e fundamental da história da esquerda brasileira. A UNE já nasceu, em agosto de 1937, como uma das principais frentes de combate ao avanço das idéias nazi-fascistas no país durante a Segunda Guerra Mundial; começou a se organizar em congressos anuais e a buscar articulação com outras forças progressistas da sociedade. O fim da ditadura no Estado Novo, a luta pelo desenvolvimento nacional, a campanha O Petróleo é Nosso, a luta contra a ditadura militar nos anos 60 e 70, a campanha pelas Diretas Já!, o Impeachment de Fernando Collor, a resistência às privatizações e ao neoliberalismo que marcaram a era FHC e o impedimento do retorno da direita ao poder são alguns exemplos de episódios importantes da nossa história recente que contaram com a força e o engajamento da UNE.



Mas talvez tenha sido a partir de do golpe de 1964, quando teve início o regime militar de Castelo Branco e Garrastazu Médici, que a história da UNE tenha se confundido ainda de forma mais dramática com a história do Brasil. A ditadura perseguiu, prendeu, torturou e executou centenas de brasileiros e brasileiras, muitos deles e delas estudantes. A sede da entidade estudantil, na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, foi invadida, saqueada e queimada no dia 1º de Abril (sim … parecia mentira …). O regime militar retirou a representatividade da UNE e a entidade passou a atuar na ilegalidade. Universidades vigiadas; intelectuais e artistas reprimidos; direitos políticos cassados; violência explícita aos direitos humanos … A UNE continuou a existir, apesar da repressão e da ditadura, sempre em firme oposição ao regime, como na célebre passeata dos Cem Mil, em 68, na capital carioca … Mesmo profundamente abalado depois da instituição do AI-5 e das prisões do Congresso de Ibiúna, em São Paulo, o movimento estudantil continuou nas ruas …


 


Em anos menos pesados do que aqueles, já na década de 90, os estudantes defenderam com garra o ensino público de qualidade e democrático. E com o apoio da entidade, em 2002 foi eleito para a Presidência da República, numa mudança de rumos do país, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, um homem de origem humilde, ex-operário, que não conseguiu chegar à universidade pela falta de oportunidade. Neste 2007, em sua melhor idade, e em seu 50º Congresso, realizado no mês de julho em Brasília, a entidade escolhe para a sua direção Lúcia Stumpf, gaúcha, aluna de Jornalismo, a quarta mulher a figurar na galeria de presidentes eleitos para capitanear as lutas dos estudantes brasileiros. Igualmente guerreira, Lúcia entra para a história dos movimentos sociais ao lado de aguerridos líderes estudantis e também de Honestino Guimarães, dirigente da UNE nos anos de 1971 a 73, que teve seus ideais e sonhos de um mundo melhor e mais justo, para todos e todas, brutalmente assassinados pela ditadura militar.


 


Como dirigente nacional do Partido dos Trabalhadores, parlamentar goianiense e militante dos Direitos Humanos em toda a sua essência — além de participante ativa da luta pela reconstrução da UNE em Goiás –, não poderíamos deixar tudo isso passar em branco. Queremos dar a nossa contribuição às comemorações pelos 70 anos da UNE — iniciadas em seu último Congresso, marcado pela anistia de seus dois ex-presidentes, Aldo Arantes e Jean Marc van der Weid, e por uma série de homenagens ao presidente desaparecido político da década de 70, o goiano Honestino Guimarães. Desejamos aqui, na capital de Goiás, cenário de tantas lutas e de atores políticos importantíssimos, prestar também as merecidas homenagens à UNE e ao combativo Honestino. Ao lado dele, pretendemos homenagear goianos e goianas que, independentemente de siglas partidárias ou orientação política, deixaram sua marca na construção e na consolidação da entidade: o ex-presidente Aldo Arantes (1961/62); o vice-presidente e tesoureiro Olavo Noleto Alves (1993/97); o vice-presidente Tales Cassiano de Castro (2007/2009); os dirigentes Luiz Carlos Orro (1980/81); Elimar Julião Brito Nunes da Silva (1981/82); Osmar Pires Martins Júnior (1982/83); Cleuber Cardoso (1983/84); Romualdo Pessoa Campos Filho (1984/86); Gilvane Felipe (1986/87); Robson Moraes e Wladimir Vinicius de Camargos (1995/97); Adriana dos Santos e Elisa de Campos Borges (1997/99); Ernesto Valença (1999/2001); Frederico Nascimento (2001/2003); Sara de Castro Cândido (2003/2005); Artur Barreira Dias (2005/2007); e André Pereira Reinert Tokarski (2007/2009).


 


Propomos uma celebração neste 28 de agosto. Uma Sessão (de fato) Especial no Plenário da Câmara Municipal de Goiânia, para que todos estes nomes e que toda a luta da União Nacional dos Estudantes, em mais de meio século, sejam devidamente lembrados. Questão de justiça, de responsabilidade com as mudanças sociais que tanto almejamos. E, principalmente, de compromisso com a nossa história.


 


* Marina Sant´Anna é dirigente nacional do PT, vereadora por Goiânia e presidenta da Comissão de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) da Câmara Municipal.


 


– Luiz Carlos Orro, de Goiânia.