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Metroviários de SP lançam pacote de medidas contra repressão

A assembléia do Sindicato dos Metroviários desta quarta-feira (8) contou com a participação de cerca de 500 trabalhadores. Indignados, eles aprovaram um pacote de medidas que pretende manter a pressão sobre a Companhia do Metrô pelas suas reivindicaçõe

Trabalhar cumprindo com rigor a “operação procedimento” – exigida pela própria empresa, não fazer mais horas extras e não aceitar cumprir funções fora de sua competência foram algumas das medidas aprovadas pelos metroviários.


 


O sindicato também marcou para sexta-feira (10), às 10h, uma reunião com todos os 61 trabalhadores demitidos para buscar soluções financeiras e judiciais imediatas para os desempregados. A constituição de um fundo de greve, com a colaboração de entidades solidárias ás vítimas da repressão, foi sugerida.


 


Uma nova greve contra a empresa e o governo foi descartada, mas os trabalhadores prometem não descansar enquanto a situação não for resolvida, tanto no que diz respeito às demissões, quanto à reivindicação de proporcionalidade da PR (Participação nos Resultados) – reivindicação que levou a greve.


 


Um ato para o dia 17 às 15h também foi convocado. Embora a data coincida com o ato do Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros, vulgo “Cansei” – marcado para as 13h na Praça da Sé, os metroviários não pretendem se contrapor ao movimento da elite paulista.


 


“Nosso ato não quer se contrapor ao ato do ‘Cansei’, é uma manifestação com todas as entidades dos movimentos sociais e demais categorias dos trabalhadores pelo direito de greve, contra as demissões e a criminalização dos movimentos socais”, disse Flávio Godoy, presidente do Sindicato dos Metroviários.


 


Clima de protestos


 


O líder sindical aposta que o clima é favorável para uma grande mobilização no dia 17.


 


Ele lembrou que o governador Serra já anunciou a demissão de um terço do quadro de funcionários do CDHU [Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo], que os trabalhadores do IPT [Instituto de Pesquisas Tecnológicas] estão em campanha salarial desde junho, que os eletricitários já marcaram uma greve para o dia 20 e que os professores da rede estadual pública estão discutindo fazer uma greve no dia 24.


 


“Então o ato somará todas essas reivindicações. Acredito que há caldo de insatisfação suficiente para desmascarar o quanto o governo do PSDB tem feito mal a São Paulo”, disse.


 


O ato dos metroviários ainda não tem local confirmado.


 


Impactos das medidas


 


As medidas aprovadas pela categoria podem não parecer ofensivas a leigos no assunto. Porém, se os trabalhadores passarem a cumprir a risca a operação procedimento, o fim das horas extras e a troca de funções, algumas estações podem parar de funcionar, a quantidade de trens diminuírem e o tempo de espera aumentar.


 


A operação procedimento, por exemplo, tem maior relevância nas funções operacionais do Metrô, como operadores de trens, segurança e manutenção. É uma norma que os trabalhadores devem seguir de acordo com as exigências da empresa. Mas os metroviários alegam que por pressões da própria companhia, muitas vezes a operação procedimento é trocada pelo famoso “quebra galho”.


 


“Ás vezes, por pressão da empresa para que o Metrô não pare, a gente trabalha na base do ‘quebra galho’. Tem coisas que são passadas por cima, que são feitas vistas grossas que é para não prejudicar a continuidade da frota de trens. Agora vai ser o seguinte, nós vamos cumprir o procedimento, se tiver algum equipamento que a manutenção considerar que não está em perfeitas condições de ser usado nós vamos cumprir o procedimento”, esclareceu Flavio.


 


O presidente do sindicato disse que a medida não tem como objetivo prejudicar a população ou expor a categoria a mais um processo de retaliação. “Os trabalhadores vão apenas cumprir a risca as exigências da própria empresa que, em alguns casos, burla suas próprias leis”, concluiu.


 


Demitidos


 


Cerca de 40 dos 61 trabalhadores demitidos participaram da assembléia. O Sindicato entrou com uma petição no Tribunal Regional do Trabalho nesta quarta-feira (8) para tentar recorrer das demissões. Para os trabalhadores, as demissões foram o cúmulo da retaliação ao movimento, já que o Tribunal multou o sindicato em R$ 200 mil e mais R$ 1,8 milhão – referente ao desconto em folha do pagamento dos dias parados de cerca de 7.500 metroviários – em função da greve.


 


Enquanto a Justiça não julga a petição, os trabalhadores demitidos contestam o argumento de incompetência alegado pela empresa e pelo governo.


 


“Durante os 19 anos em que trabalhei no Metrô nunca recebi nenhuma reclamação ou advertência sobre o meu desempenho. Eu tenho a ficha limpa, tenho todas as avaliações da companhia com parecer positivo sobre o meu trabalho. Eu sempre fiz todos os serviços da minha função, nunca esqueci de nada. Também nunca tive um atraso, nunca tive uma falta. Essa história de demissão por desempenho é desculpa para reprimir o movimento”, disse Teresa de Oliveira, 47 anos, ex-agente de estação e mãe de dois filhos.


 


Embora se diga chocada com a demissão, ela afirma que o movimento da greve foi legítimo. “Estávamos apenas lutando pelos nossos direitos e agora espero que consigamos reverter essa medida autoritária do governo.”


 


Já Sandra Regina Xavier Alves Afonso, 44 anos, 19 anos de companhia, outra vítima da ação truculenta do governo, não se surpreendeu com a medida.
 


“Logo que começamos a nos mobilizar pela greve, eu fiquei amedrontada, porque o governo está com a gente pelo pescoço desde a movimentação denunciando os motivos que levaram a tragédia do buraco na Estação Pinheiros – que deixou sete vítimas no início do ano – e a nossa luta pela não privatização da Linha 4 do Metrô. Então eu já esperava que viria retaliação, mas jamais imaginei que seria demitida”, falou ao Vermelho.


 


Emocionada durante a assembléia, Sandra chorou e disse que se pudesse voltar no tempo faria tudo de novo. “Eu não vou vestir essa camiseta de incompetência. Valeu a pena ter participado da greve. Vou voltar para a companhia e continuar lutando pelos direitos dos trabalhadores”, concluiu ela que também é filiada ao PCdoB.


 


Metrô


 


Antes do final da assembléia, a assessoria do Metrô divulgou nota dizendo que as 61 demissões anunciadas pelo governo “fazem parte de um conjunto de medidas administrativas necessárias à melhoria de desempenho da companhia”, e que não existe nenhuma ilegalidade nisso.


 


Ainda segundo o Metrô, nenhuma demissão teria atingido funcionários com estabilidade, apesar de grande parte dos demitidos terem mais de 10 anos de serviços prestados a empresa. A instituição voltou a afirmar que durante o processo de negociação com o Sindicato dos Metroviários, o Metrô apresentou cinco propostas e todas foram recusadas.


 


Os trabalhadores reivindicam a PR proporcional para todas as funções, como acontecia já há oito anos. A empresa, porém, defende que a partir de 2007 a PR seja diferenciada de acordo com as diferentes funções. Para os trabalhadores a PR diferenciada instituiria, pela primeira vez dentro da empresa, salários desiguais entre os trabalhadores, inclusive diminuindo o salário atual de algumas funções.


 


Para tentar se blindar contra novas ações dos trabalhadores o Metrô também informou que vai contratar mais 100 novos funcionários por concurso público – dentre eles 60 supervisores de tráfego e 40 operadores de trem. Ainda serão treinados 30 bombeiros e 300 supervisores de estação para operação do Metrô e pátios de manobra, assim como pessoal da Secretaria de Transportes Metropolitanos, EMTU, CPTM, e Metrô.