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Luiz Carlos Azenha: Lula, entre a cruz e a espada

A paralisia do governo Lula diante do bombardeio da imprensa deixa muita gente intrigada. Muitos blogueiros e leitores se revelam frustrados: acreditam que Lula deveria partir para a ofensiva, como aconteceu depois do primeiro turno das eleições presid

Qual seria o saldo de um confronto com a mídia golpista a essa altura? É preciso ter em conta que os grandes jornais brasileiros falam para um pequeno público. Como notou a revista Economist, o maior jornal do Brasil tira 300 mil cópias no domingo, dia de maior leitura.


 


O governo agora é vítima de terrorismo psicológico por parte dos barões da mídia. Se eu levantar um cartaz atacando o Lula na Avenida Paulista garanto uns 30 segundos de Jornal Nacional ou uma foto na capa do Globo, mole.


 


Não, a crise aérea não foi inventada. O que foi inventado foi o terrorismo que tem o claro objetivo de botar no colo do governo, injustamente, dois acidentes trágicos que aconteceram por motivos absolutamente alheios à vontade pessoal de Lula ou de qualquer um dos integrantes do governo.


 


Na minha opinião, o que se busca é enfraquecer o governo visando, em primeiro lugar, as eleições municipais de 2008 – mais a longo prazo, a retomada do poder em 2010. Paralelamente, existe uma clara tentativa de acuar o governo com os ataques sem sentido a Marco Aurélio Garcia.


 


Na verdade, os ataques são à política externa independente de Lula e ao fato de que o governo brasileiro se recusa a endossar a política dos Estados Unidos de isolar Hugo Chávez e Evo Morales. Os pedidos de privatização da infra-estrutura aeroportuária, feitos recentemente por especialistas escolhidos a dedo, se encaixam nessa estratégia.


 


Ao mesmo tempo em que se enrolam na bandeira brasileira na cobertura do Pan, pregando um nacionalismo de gogó, os barões da mídia apóiam um projeto político que é a continuação do que fez Fernando Henrique Cardoso. FHC queria alugar um pedaço do Brasil aos Estados Unidos, lembram-se? Queria entregar a base aérea de Alcântara aos americanos.


 


Este é o projeto que os barões da mídia brasileira apóiam para o pós-Lula: a retomada das privatizações, a redução de impostos, o corte dos programas sociais (que chamam de esmola), a institucionalização do terrorismo contra os pobres (o que de certa forma já se dá no Rio de Janeiro, com apoio do Globo, por exemplo), a criminalização dos movimentos sociais e a negação dos direitos de expansão de áreas controladas por índios e negros (reservas e quilombolas).


 


Eu escrevi aqui, antes mesmo do primeiro turno das eleições, que o programa de Geraldo Alckmin era esse: o fim do Estado e a retomada da privataria. Desde então, temos assistido a mobilização da classe média pelos barões da mídia, através de mentiras, distorções e omissões como vimos antes do golpe de 64 e, mais recentemente, na blindagem ao governo FHC.


 


A radicalização da classe media se dá e é retroalimentada pela própria mídia, num fenômeno que não é exclusivo do Brasil. Na Venezuela, Hugo Chávez enfrentou o mesmo processo com firmeza e se impôs à oligarquia local.


 


Na Bolívia, Evo Morales luta com grande apoio popular contra a tentativa da oligarquia de rachar o país, num movimento com tintura facista que tem como sua principal base as classes média e alta de Santa Cruz de la Sierra. E aqui, no México, recrudesce em Oaxaca a batalha política entre o governo estadual e movimentos populares, que tem como pano de fundo a fraude eleitoral que impediu Lopez Obrador, o Lula mexicano, de chegar ao poder.


 


O futuro da globalização com o modelo excludente que concentra a renda está sendo jogado na América Latina. O lado do baronato da mídia brasileira e de seus servidores é aquele que se alia aos objetivos da política externa americana, porque promove interesses econômicos que querem acesso ilimitado ao grande mercado brasileiro.


 


Lula está acuado ou tem uma estratégia para enfrentar a radicalização promovida pela mídia golpista? Independentemente da estratégia escolhida por ele, acredito que os movimentos sociais deveriam se aglutinar e se organizar para enfrentar a tentativa de aprofundamento de uma política social e econômica AINDA MAIS EXCLUDENTE do que já é a brasileira.


 


E os leitores revoltados deveriam também se organizar para realizar protestos e boicotes pontuais as emissoras de televisão, de radio e jornais que fazem papel de tropa de choque do golpismo. Lula que fique na dele.


 


Quem quer um Brasil mais justo e soberano e quem não quer a política externa e comercial do país ditada AINDA MAIS a partir de fora deve refletir sobre o momento que atravessamos. O primeiro passo é dizer “não” à mídia golpista, cancelando assinaturas de jornal, convencendo amigos e parentes a fazer o mesmo, boicotando programas de TV e patrocinadores de programas de TV. E desmascarar, sempre que possível (na internet, por carta, fazendo sinais de fumaça) as mentiras, distorções e omissões dos barões da mídia, deixando claro que eles agem de olho numa agenda que interessa a eles, não necessariamente ao Brasil.


 


Eles vão pular, gritar e vibrar com as medalhas do Brasil nos Jogos Panamericanos. A defesa dos interesses do país acaba rigorosamente nas arenas e quadras do Pan. Fora de lá, essa gente quer implantar no Brasil, com mais de 20 anos de atraso, o fundamentalismo político e econômico de Ronald Reagan.


 


Aqui no México, país-laboratório para as teorias econômicas e políticas dos liberais à moda latina (Estado, sim, só para bancar investimentos que nos interessam), a brincadeira esta caminhando para explosões sociais como a de Oaxaca.


 


Fiz duas viagens de metrô na Cidade do México: na primeira fui assaltado e na segunda eu e minhas filhas fomos seguidos por uma gangue. É a política de Estado mínimo em ação.


 


Fonte: Blog Vi o Mundohttp://viomundo.globo.com