Doha: Brasil e Índia suspendem negociações e criam impasse

Brasil e Índia suspenderam as negociações da Rodada Doha – nome para os debates atuais na Organização Mundial do Comércio (OMC) – com União Européia e Estados Unidos. O grupo que envolve os quatro negociadores, conhecido como G 4, vinha liderando as discu

“A razão do impasse ou do colapso das conversas, se querem chamar assim, é basicamente porque as ofertas em agricultura foram muito abaixo de nossas expectativas”, justificou o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em coletiva concedida na Alemanha e cedida à Radiobrás pela agência Reuters.  Participavam da reunião, além de Amorim, o ministro de Comércio indiano, Kamal Nath, o comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson, e a representante de Comércio dos Estados Unidos, Susan Shwab, além de delegações de negociadores dos quatro países.



“Não quero culpar ninguém. Esta é uma negociação, as pessoas têm seus constrangimentos políticos”, afirmou Amorim, destacando que chegou a propor, na noite de ontem (20), que as negociações prosseguissem na tarde de hoje. “Aparentemente o que é perfeitamente normal, a União Européia e os Estados Unidos fizeram uma avaliação conjunta de que o que nós estávamos pedindo mais do que podiam dar e que não conseguiriam aquilo que estavam nos solicitando”, avaliou o ministro.



EUA atacam



A representante Comércio dos Estados Unidos, Susan Schwab, culpou Brasil e Índia pelo fracasso do G 4. “Quando as conversas chegaram a um impasse, estava claro que os Estados Unidos e União Européia estavam preparados para fazer significativas concessões, significativas contribuições à rodada, e que havia falta de flexibilidade, rigidez, na verdade, dos avançados países em desenvolvimento que estavam presentes”, afirmou em coletiva à imprensa hoje (21). “Negociar não é apenas demandar dos outros. Negociar é dar e receber. E havia oferta de um lado da mesa e não do outro”, reiterou, destacando que os Estados Unidos pretendem continuar negociando com os demais membros da OMC em Genebra.



Em comunicado à imprensa, o comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson, também culpou a posição dos países em desenvolvimento pelo impasse. “Enquanto na Europa estamos preparados para pagar muito – e mais que outros – não podemos fazer isso sem nada em troca. Nas discussões sobre NAMA [bens não agrícolas] apareceu que não seremos capazes de alcançar mudanças substantivas nas tarifas dos países emergentes em troca do que estamos pagamos na rodada”, justificou Mandelson. “Eu esperava que estas não tivessem sido as últimas palavras trocadas na reunião do G 4. Mas simplesmente não há mais para onde ir nas atuais circunstâncias. Lamento isso”, afirmou.



Embora a Agricultura esteja no centro da Rodada Doha – já que não contemplada em rodadas anteriores de negociações da Organização Mundial do Comércio – os países desenvolvidos condicionam cortes em subsídios e em tarifas para produtos agrícolas a uma maior abertura dos países em desenvolvimento para produtos industrializados. Brasil, Índia, Estados Unidos e União Européia vinham tentando costurar consensos para facilitar as negociações entre os 150 membros da OMC. Agora, caberá ao conjunto de países encontrar solução para o impasse.



“Eu acredito muito no processo multilateral. O Brasil é um país multilateralista e esperamos que o Pascal Lamy e os diversos membros possam encontrar um caminho. Não será fácil. Seria muito mais fácil se tivéssemos chegado a um acordo no G 4, mas foi impossível, o que podemos fazer?”, disse Amorim ao encerrar a coletiva de imprensa.



Convergência prévia



Em nota divulgada nesta quinta-feira, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, pede o esforço dos 150 membros da instituição para dar seqüência às negociações diante do fracasso da reunião entre Brasil, Índia, Estados Unidos e União Européia. “A convergência prévia entre estes membros teria sido útil para pavimentar o caminho em direção á convergência multilateral. Mas útil não significa indispensável. Esta negociação é um esforço que todos os 150 membros da OMC devem fazer”, afirmou Lamy. “Agora chamo os membros do G 4 para contribuírem no processo multilateral de negociação”.