CSN: mesmo sob intensa repressão greve já obtém conquistas

Nesta terça-feira (5) os trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta Redonda, representados pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, Renato Soares, forçaram a reabertura de negociações com representantes da CS

Segundo o vice-presidente do sindicato, Wanderley Alves Jordão, que a acompanhou por telefone de Volta Redonda as 5h de negociações realizadas na reunião, a empresa apresentou a proposta de desjejum todas as manhãs e o compromisso de não recorrer na Justiça contra a ação, movida pelo sindicato, pelo direito de uma hora para refeições todos os dias, além da abertura de 400 novas vagas na CSN em função do maior intervalo com o aumento de tempo das refeições e também para uma menor sobrecarga de trabalho com o maior rodízio de turnos na empresa.


 


“Podemos dizer que a greve já obteve alguma vitória com a garantia de 400 novas vagas, o desjejum e o compromisso de não recorrer contra o sindicato na ação por uma hora de refeição diária, além de outras propostas específicas, mas muito importantes para a categoria. Mas quem vai decidir se esta vitória é suficiente ou não para o fim da greve será a assembléia de amanhã. O fato é que os trabalhadores já estão ficando desgastados pela intensa repressão que ameaça famílias, agride trabalhadores e persegue lideranças”, disse Jordão ao Vermelho.


 


Quanto a reivindicação dos metalúrgicos pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) mais 6% de aumento real e 33% de reposição por perdas salariais, a CSN manteve a última proposta de apenas 1,5% de aumento real, mais o abono de R$ 2 mil e 3,44% do INPC.


 


Repressão


 


O histórico de repressão às greves na CSN é de arrepiar os cabelos. No dia nove de novembro de 1.988, em uma greve que durou duas semanas, registrou-se um confrontou entre metalúrgicos e tropas federais que matou três operários (Carlos Augusto Barroso, de 19 anos, Walmir Freitas Monteiro, 27 anos, e William Fernandes Leite, 22 anos) e deixou cerca de 100 outras pessoas feridas, entre elas militantes que tentavam evacuar a fábrica ocupada pelos trabalhadores.


 


Nesta greve, em apenas quatro dias, já foi registrado o espancamento de pelo menos um operário. O sindicalista Carlos Alberto Antônio, o Carlinhos, de 50 anos, foi brutalmente agredido nas proximidades do Colégio Estadual Barão de Mauá, no bairro Jardim Paraíba, á 500 metros de um piquete num dos acessos da usina. Levado preso ao hospital, depois de medicado, acabou liberado pela polícia após as denúncias que repercutiram com a denúncia da agressão.


 


Segundo nota do sindicato, “a CSN ameaça os metalúrgicos, contrata táxis para levá-los a empresa, liga para as casas dos trabalhadores, ameaça suas as esposas e mães, realizando uma verdadeira movimentação contra o movimento desde a madrugada de sábado (1º de junho), data que marca o início da greve”.


 


A CSN chegou a abrir buracos nos muros da empresa para estimular a entrada dos trabalhadores por entradas que não passavam por piquetes do sindicato. Além disso, aquartelou os trabalhadores que entraram na empresa desde o início da greve, não tendo liberado até o presente momento, segundo Jordão, “todos que ainda se encontram em cárcere”. Os trabalhadores presos na empresa dormem em colchonetes viabilizados pela CSN.


 


A Direção do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense já entrou com Notícia Crime, na Delegacia de Polícia Federal e no Ministério Público Federal, contra a empresa por crime contra a organização do trabalho.


 


Reação da CSN é resposta ao prejuízo


 


A forte repressão à greve, que começou forte, assustou Benjamin Steinbruch e Enéas Muniz Garcia (empresários da CSN), uma vez que a produção da empresa diminui devido à adesão dos trabalhadores.


 


Segundo nota do sindicato, “a produção da CSN programada para o sábado, primeiro dia de greve, era de 15 mil toneladas de aço, mas devido a ação dos trabalhadores, chegou apenas a 7,308 toneladas”.


 


A situação se mantém tensa em Volta Redonda, onde nesta quarta-feira (6), as 6h30, uma nova assembléia definirá se a greve continuará ou não na CSN.