UEE-SP:congresso inicia fazendo valer os 58 anos da entidade

Cerca de mil estudantes de inúmeras cidades do estado de São Paulo chegaram à cidade de Serra Negra neste sábado, 2 de junho, para o 8º Congresso da União Estadual de Estudantes (UEE-SP), fórum que definirá as bandeiras de luta que a entidade defenderá pa

58 anos de lutas


 


O ato de abertura, realizado no teatro do Centro de Convenções de Serra Negra, reuniu políticos, intelectuais, sindicalistas, lideranças estudantis e ex-presidentes da entidade que falaram para mais de 400 estudantes presentes pela manhã no congresso.


 


A emoção tomou conta dos participantes no momento do ato de lançamento da revista “UEE-SP, 58 anos de história”, que apresenta um breve histórico da entidade fundada em 1.952 e entrevistas com quatro de seus ex-presidentes, entre eles o ex-ministro José Dirceu, falando sobre o período de lutas de suas gestões à frente da entidade. Um túnel do tempo envolveu os estudantes no momento em que os ex-presidentes presentes no ato usaram a palavra.


 


A equação da unidade


 


Percival Maricato, presidente de 1.969 a 71, período que marca o auge da repressão ao movimento estudantil paulista, disse que aprendeu algumas lições para vida com sua participação na luta estudantil no final dos anos sessenta. “Percebo que cometemos alguns erros naquele momento que gostaria que vocês não os cometessem hoje. Por vezes, éramos voluntaristas, arrogantes, ingênuos e sectários. Não se deve gastar tanta energia demarcando as diferenças nos encontros estudantis, devemos empenhar todos os nossos esforços pela busca da unidade”, disse Percival.


 


“Demarcar as nossas diferenças é muito importante nos congressos estudantis, faz parte de nossa identidade política e ideológica. É o embate saudável e franco de idéias que eleva a consciência da juventude e contribui para a unidade forte e consistente em torno de suas lutas”, observou Elder Roberto, presidente da entidade de 1.995 a 97. Elder defendeu que o problema dos encontros estudantis não é chegar divido, o problema e garantir que todos saiam unidos.  “A diferença é importante, mas o resultado do congresso deve ser a unidade”, conclui.


 


Fazendo valer a sua história


 


A boa polêmica ganhou luzes com as bonitas histórias que eram desenroladas pelo fio da memória de outros ex-presidentes. Ao tomar a palavra, Antonio Funari, presidente mais antigo presente no ato (de 1.964 a 66), disse que foi condenado há três anos e cinco meses à prisão por ser presidente da UEE, cumprindo efetivamente apenas sete meses de sua pena. “Entrego aqui para a entidade quatro tomos de documentos que recolhi no período em que militei no movimento. Uma parte destes documentos foi escrito pelos estudantes, outra parte pelo Dops, que é o melhor arquivo de que dispomos sobre os movimentos que aconteceram na época da repressão. Faço isso porque um país que não cultua o seu passado não tem futuro e o nosso futuro é ajudar o governo agora, o pressionando nas ruas para conquistar o Brasil que queremos”, disse Antonio.


 


Também falaram aos estudantes Flávio Patrício, presidente no Fora Collor e um dos entrevistados na revista, Daniel Vaz, presidente de 1.998 a 2001, Gustavo Petta, presidente da UEE de 2.001 a 03 e atual presidente da UNE, e Renata Petta, única mulher presidente (2003 a 05) a falar no ato.           


 


Além da revista, também há uma exposição com imagens contando a história da entidade no Centro de Convenções. O Centro de Estudos e Memória da Juventude (CEMJ) foi co-realizador com a UEE-SP da revista e da exposição.


 


Quem é o inimigo?


 


Os inúmeros debates sobre os mais diversos temas (GLBTT, gênero, raça, mídia, trabalho, PPJ, cultura, ensino a distância, representação discente, assistência estudantil, movimento sociais e universidades públicas e privadas), que ocorreram no período da tarde, foram, em maior ou menor grau, influenciados pelas opiniões a respeito da situação política apresentadas no debate que se realizou pela manhã.


 


Com uma forte presença dos positivos resultados que os movimentos nas universidades paulistas vêm desencadeando contra a política do governador José Serra, e o seu recuo expresso no último decreto declamatório diante da força destes movimentos, destacando-se o papel que a ocupação da reitoria da USP jogou no processo, o deputado federal e ex-presidente da UNE, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), o membro da direção nacional do PSOL, Plínio Arruda Sampaio, o membro do Comitê Central do MR8, Miguel Lança, o presidente da Apeoesp, Carlão, e o presidente da UNE, Gustavo Petta, falaram sobre os desafios políticos para o Brasil e para a juventude neste momento.


 


De um lado, correu a opinião de que o maior inimigo da juventude paulista para a conquista de um país justo e democrático é o governador José Serra. De outro, apresentou-se a opinião de que o presidente Lula é tão inimigo quanto o governador no desafio da consagração de um novo Brasil, uma vez que isso só será possível com a conquista do socialismo.


 


“Foi muito positiva a ocupação na USP, mas, sobretudo, é preciso também ocupar as ruas para dizer que a nossa luta não é apenas contra os decretos, mas também contra a volta do neoliberalismo, do retrocesso, que Serra quer trazer de volta nas eleições de 2.010”, disse Miguel. Para Aldo, “a juventude é capaz de sacudir o mundo [lema do congresso da UEE] se mantiver a mobilização, mantendo a construção das grandes manifestações que já vem ocorrendo contra Serra e para pressionar o presidente a levar a frente o projeto aprovado nas urnas em 2006”. Já para Plínio Arruda, “Lula tem sido tão maligno quanto Serra para o povo, isso porque não há jeito de reformar o capitalismo, é preciso derrotá-lo e colocar o socialismo”.


 


Cultura, integração e festa


 


Ao cair da noite em Serra Negra, quase mil estudantes já se encontravam no centro de Convenções. O dia longo de debates também foi marcado por dezenas de atividades culturais, bate-papos aconchegantes em pufs instalados pela Praça do Centro de Convenções, além de um tele-centro com 10 computadores ligados à internet, e instalados pelo movimento em defesa do software livre, à disposição dos participantes.


 


Logo após a exibição do filme “Baixio das Bestas”, que estreou recentemente nos cinemas, ocorreu um debate com o cineasta, e também diretor do filme “Amarelo Manga”, Cláudio Assis. Além de Cláudio, está entre as personalidades que passaram pelo congresso no dia de hoje Gustavo Gindre, do Coletivo Intervozes, Altamiro Borges, do Portal Vermelho, João Paulo, do MST, Brizola Neto, deputado federal do PDT, e Marcio Porchman, professor da Unicamp.


 


Por volta da uma hora da manhã do dia 3 está previsto o encerramento da retirada de crachás de delegados ao 8º Congresso da UEE. Até o presente momento não há informações sobre o número aproximado de delegados que já retiraram crachás, porém, acredita-se que já há em Serra Negra pelo menos 500 delegados dos cerca de 795 credenciados no final de semana passado.


 


Congresso revoluciona movimento


 


“O congresso está sendo muito proveitoso. Fiquei sabendo de muitas coisas que antes nem imaginava que podia fazer em minha universidade contra o abuso de mensalidades. Além disso, a estrutura é de deixar qualquer um muito á vontade, o hotel onde estamos é muito aconchegante, assim como a maneira como foi construído o espaço aqui no Centro de Convenções”, disse Juliane Freitas, 21 anos, estudante de comunicação da Unip da capital que está participando de um congresso estudantil pela primeira vez.


 


Quando foi perguntada pelo Vermelho sobre em que chapa (tese) irá votar, Juliana responde, “tudo é muito novo para mim, eu não conhecia muitas das chapas que estão presentes aqui, mas já peguei as propostas do Bloco na Rua [movimento liderado pela UJS], do Mutirão [liderado pela juventude do MR8], do Um passo a frente [liderado pelo PSOL] e também da Kizomba [liderado pela corrente DS da juventude do PT]. Não sei se vou ler tudo, mas vou tentar, porque eu acho que não se deve votar de qualquer jeito, mesmo sabendo que isso aqui não vai mudar a realidade da minha universidade para amanhã”, disse.


 


Daniel Vaz, no ato dos 58 anos, disse que o 8º Congresso da UEE estava revolucionando o movimento. “É a primeira vez que eu vejo um congresso que está alojando os participantes em hotel, com um espaço bacana como este que foi construído aqui. Isso é muito importante, porque atividades como estas não podem ser sinônimo de ‘perregue’, devem ser sinal de igualdade para muita discussão e energia para se fazer muita luta. Por isso, para mim esse congresso está revolucionando o movimento estudantil”, disse.


 


Reeleição


 


Luís Ricardo, presidente da UEE em 2.001 que faleceu jovem e antes de terminar a sua gestão, e a prefeitura de Serra Negra, representada pela pessoa do prefeito Paulo Luís, apoiadora ao congresso que possibilitou grande parte da estrutura disponibilizada no evento, receberam homenagens dos estudantes.


 


O 8º Congresso se encerra amanhã com a realização da plenária final que aprovará as bandeiras de luta que a entidade defenderá nos próximos dois anos e a sua nova direção. A tendência é que Augusto Chagas, atual presidente da entidade, seja reeleito no dia de amanhã.


 


Agora à noite um show com Gafieira São Paulo com Talma de Freitas, e o Teatro Mágico com Silvério Pessoa, deverá embalar os jovens que participam da atividade.



 


Por Carla Santos,
de Serra Negra (SP)