Real valorizado reduz ganho do turismo interno brasileiro

O dólar barato reduziu as margens de hotéis e transportadoras que recebem turistas estrangeiros. Depois que a moeda americana rompeu a barreira dos R$ 2, a indústria do setor revisou para baixo as suas projeções para este ano.

O setor hoteleiro prevê uma queda de até 20% no número de hospedagens no país em julho graças à valorização do real. Depois da crise da Varig e dos problemas nos aeroportos, os hotéis passaram a investir em campanhas para atrair o turista brasileiro, mas, com a cotação favorável, muita gente resolveu viajar para o exterior.



“Dessa vez não tem como driblar. O país ficou caro, e os turistas preferem a Argentina ou o Chile”, disse o presidente da ABIH-RJ (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado do Rio de Janeiro), Alfredo Lopes de Souza Júnior.



A queda do dólar afeta os resultados desde o ano passado, quando o total de turistas estrangeiros que visitaram o país caiu 6% e somou 5,01 milhões, segundo o Ministério do Turismo. A queda foi motivada em grande parte pela redução de assentos após a crise da Varig.



Para José Francisco de Salles Lopes, diretor da Embratur, isso foi minimizado pelo maior poder aquisitivo dos turistas que vieram ao país. “No primeiro trimestre, o total de recursos em dólar cresceu 9,66%. O turista está qualitativamente melhor, gasta mais e permanece mais tempo.”



Não é, porém, a mesma avaliação de agentes do setor. A Bito (Associação Brasileira de Turismo Receptivo Internacional) defende a adoção do real como referência para preços e tarifas como forma de reduzir perdas. Segundo a associação, essa é uma tendência em diversos países, como a África do Sul.



A Bito estima um aumento nos custos de 31% nos últimos anos. Com o dólar barato, o faturamento cresce na moeda americana, mas cai após a conversão. Os custos, como pagamento de funcionários e equipamentos, são em reais.



Corrida ao exterior



Se para a indústria o dólar atual é prejuízo, para o consumidor significa viajar mais para o exterior. Segundo Leonel Rossi, da Abav (associação das agências de viagem), a venda de pacotes deve crescer 15% neste ano, o que favorece também as companhias aéreas.



“A oferta de assentos ainda não está normalizada, e, com o dólar barato, a recomendação é que as pessoas reservem com antecedência, especialmente para a Europa”, disse Rossi.



Os últimos dados da CVC, maior operadora do país, mostram que os pacotes internacionais tiveram um incremento de 30% nas vendas até maio ante igual período de 2006.



As viagens para o exterior representaram 20% das vendas da operadora em 2006, mas podem alcançar 50% do total deste ano. Só as vendas para Buenos Aires, destino mais procurado, devem ter um crescimento de 132,5% em 2007.



As pessoas também estão aproveitando o câmbio favorável para trabalhar e estudar no exterior. De acordo com Roberto Caldeira, diretor da Experimento Intercâmbio Cultural, de janeiro a abril o faturamento da empresa cresceu 60%. “Existem dois grupos, as pessoas que vão estudar idiomas e as que vão trabalhar no exterior nas férias.”



Fonte: Folha de S.Paulo