Consumo de gasolina gera polêmica nos Estados Unidos

Num país “viciado em petróleo”, maior consumidor mundial da commodity, os EUA se tornam cada vez mais atentos ao consumo interno de combustível, um fator volátil que pode interferir em toda a economia. Com os preços da gasolina atingindo recordes de US$ 3

Os dados do Departamento de Energia dos EUA para os três primeiros meses de 2007 mostram que a demanda por gasolina aumentou em mais de 2%, enquanto os dados do Departamento de Transportes sugerem que os americanos dirigiram neste período quase 1% menos milhas.



A comparação desses dados é importante para basear as políticas do governo quanto à diminuição da dependência do petróleo estrangeiro. Além disso, o consumo de combustível é um dos fatores mais importantes a pesar na inflação americana.



Jan Stuart, analista do banco UBS, falou sobre essa discrepância em um relatório divulgado na sexta-feira passada. “Uma questão que temos visto muito ultimamente é: Como é que pode estar em crescimento a demanda por gasolina se os dados apontando as milhas percorridas pelos motoristas indicam decréscimo no primeiro trimestre?”



Stuart responde dizendo que, inequivocamente, a demanda por gasolina está crescendo e que a metodologia usada pelo Departamento de Transportes é falha. Mas ele também sugere que os dados do Departamento de Energia podem não estar corretos e que estariam subestimando a demanda.



Crescimento não pára
Os dados do Departamento de Energia, que vêm de pesquisas feitas com fornecedores, mostram que a demanda por gasolina de janeiro a março foi em média de 9,1 milhões de barris diariamente, ou seja, 2,3% a mais do que no mesmo período de um ano atrás. A demanda ano sobre ano continua a crescer desde o início do mês passado.



Os preços na bomba de gasolina, enquanto isso, cresceram de US$ 2,17 por galão (cerca de R$ 1,12 o litro), no final de janeiro, para US$ 3,18 o galão (cerca de R$ 1,66 o litro) neste domingo (20), de acordo com a American Automobile Association (AAA).



Tom Kloza, diretor do serviço de informações sobre o preço do petróleo na AAA em Nova Jersey, afirma que ao menos alguns aumentos de demanda de combustíveis mostrados nos relatórios do Departamento de Energia pode estar levando a equívocos, revelando o comportamento dos revendedores de gasolina, e não dos consumidores. Kloza explica que os revendedores tendem a estocar gasolina no começo do ano, se crêem que os preços vão subir no transcorrer do ano.



“Há quase que um crescimento artificial da demanda antes desses aumentos de preços”, diz Kloza.



Então, o que é que pode ser concluído tendo como base os dados do Departamento de Transportes? Graças a uma temporada de inverno cheia de nevascas, alguns analistas dizem não ser surpreendente que os motoristas tenham dirigido menos. De acordo com as estatísticas do governo, tomando como base os relatórios preliminares de diversas partes do país, os americanos dirigiram 0,8% menos milhas no primeiro trimestre.



Por sua vez, o porta-voz do Departamento de Estradas americano, Doug Hecox, foi relutante em defender os dados de seu órgão como a última palavra para o problema ou para tirar qualquer ligação entra o declínio das milhas percorridas e o aumento dos preços da gasolina, mostrando que o debate sobre o acompanhamento desses fatores parece longe de criar consensos.