Juros e Câmbio: a farra da especulação

Por Sérgio Barroso*
Juros e  câmbio são os dois principais preços da moderna economia capitalista. Enquadrados na chamada política de “metas de inflação” advindas com a regressão neoliberal, interconectam todas as variáveis macro-microeconômicas.

Como quase todo mundo está cansado de saber, o Banco Central do Brasil pratica as taxas de juros mais altas do planeta, juntamente àquelas da Turquia. No último 18 de abril, o BC reduziu a taxa básica da economia (Selic), que passou de 12,75% para 12,5% ao ano. É a Selic (nominal) que remunera os títulos do governo, servindo de referência para as demais taxas de juros da economia. Por outro lado, a taxa nominal não é a que realmente importa tanto, seja para os especuladores, como para os investidores. Descontada a inflação e na hipótese desta chegar aos 3% este ano, a taxa real de juros ainda será de 9,2%.



Bloqueando assim a elevação dos investimentos, esta tem sido a principal causa apontada para travar o crescimento da economia brasileira. O que além de encarecer o crédito inibe o consumo.



É claro feito água de fonte: taxas de juros elevadas favorecem exclusivamente aos ladravazes da especulação e/ou a banca. Simultaneamente, um já longo processo de valorização cambial tem jogado quase na lona a moeda norte-americana. O que é favorecido pelas altas taxas de juros associadas à contínua obtenção de superávits na balança de comércio e, num outro nível, nas transações correntes.



Quer dizer, são esses os fatores principais que levam, em enxurrada, à entrada maciça de dólares na economia fazendo com que o preço do dólar caia mais ainda – abaixo de sua desvalorização internacional orquestrada pelo Fed (o Banco dos EUA). E se, por um lado, as importações ficam mais baratas, há perda  de competitividade das nossas exportações, na medida em que os produtos ficam mais caros. O que leva diretamente a concorrência internacional inundar o país com seus produtos mais baratos, desestruturando assim a indústria nacional. O resultado?  Desindustrialização e desemprego.



Sobre o assunto – e denunciando a especulação programada pela “mão invisível do mercado comandado por Wall Street” -, o ex-ministro Delfim Neto afirmou em importante artigo escrito ontem que: “É preciso deixar tergiversar e confundir as coisas: o que se discute é a ‘supervalorização’ do real, produzida pelo imenso diferencial de juro real interno e externo” (Brasil, 2025, no Valor Econômico, 15/5/2007).



Mais explícito ainda foi o economista norte-americano Brad Setser, conforme anotou noutro lugar o professor Belluzzo: “A lógica do negócio não oferece resistência à compreensão: é divertido tomar emprestado a 1% ou 2% ao ano em uma moeda que se desvaloriza e aplicar a 12,5% em outra que se aprecia”. Para Belluzzo, nos setores onde a concorrência é mais pesada, os empresários desligam as máquinas e importam a “tralha chinesa” de baixo custo. “Percorrem o caminho inverso do processo de industrialização”, conclui (A burrice econômica, Carta Capital, 2/5/2007).


 


Colunista do Vermelho