Para evitar racha, Frente Ampla articula reeleição de Tabaré

Apesar de 2009 ainda parecer distante, a data já tem estado no centro de algumas discussões da Frente Ampla, a coalizão de centro-esquerda que conduziu Tabaré Vásquez à Presidência do Uruguai. Oficialmente não se discute quem será o escolhido para disputa

Já há na coligação quem defenda o início imediato de articulações para que a Constituição do país seja alterada. Pela atual Carta Magna, dois mandatos consecutivos são proibidos.



A senadora Margarita Percovich é das poucas que tocam no assunto publicamente. Ela defende que a reforma constitucional poderia começar a ser discutida imediatamente pelo Congresso, pois existe o risco de não haver tempo hábil para uma mudança caso o assunto seja adiado. “É importante que a discussão não esteja ligada unicamente ao processo eleitoral, porque isso seria uma vergonha para a esquerda”, defende.



Pesquisas impulsionam discussão
Uma pesquisa divulgada na semana passada mostra que a popularidade do atual presidente vai muito bem. Os dados mostram que seis em cada dez uruguaios aprovam o governo Vásquez e votariam novamente nele caso houvesse no país o instrumento da reeleição.



Além do respaldo popular, existe na Frente Ampla o temor de que a abertura de discussões em busca de um nome para suceder Vásquez resultaria num racha entre as diferentes tendências que compõem a coalizão.



Experiente, o ministro da Agricultura e líder do Movimento de Participação Popular, José Mujica, diz que a reeleição de Vásquez seria a solução ideal para a Frente Ampla. “Para que vamos experimentar outro nome? Ele ajusta todos os nossos pleitos internos para a sucessão”, diz.



Aspirantes à Presidência
Em ato público realizado no último sábado (12), Mujica disse que agora não é o momento para se falar em candidaturas. “Mas quem fala que não pensa nisso está mentindo”, brincou o ministro, um dos cotados a suceder Vásquez caso a Constituição não seja alterada.



Outros nomes que já vêm sendo cogitados no país são os do atual ministro da Economia, Danilo Astori, e do vice-presidente Rodolfo Nin  Novoa. Tanto os dois como Mujica sofrem do mesmo problema: a escolha de algum deles certamente resultaria no enfraquecimento do coalizão.



Astori é um defensor confesso do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos, não só no Uruguai, mas em toda a América Latina. EM 2004, ele não teve o respaldo na Frente Ampla e acabou perdendo a indicação para Vásquez. Por outro lado, há setores da coalizão que vêem Mujica como uma opção “muito à esquerda”.



Mau exemplo do Brasil
Não bastassem os desacordos por um nome de consenso, em vários setores da Frente Ampla há tempo um certo mal-estar com a possibilidade de alterar a Constituição unicamente para o processo eleitoral, da mesma forma como agiu Fernando Henrique Cardoso no Brasil, em 1997.



O senador Eduardo Lorier, do Partido Comunista, faz parte desse último grupo. “Não é preciso antecipar essa discussão. Respeitamos essa atitude, mas nós não. Há questões mais importantes que precisam ser discutidas”, defende.