Lula quer que igreja discuta aquecimento e biocombustíveis

No encontro que teve com o papa Bento 16 na quinta-feira passada (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que a Igreja discuta o aquecimento global e a produção de biocombustíveis na África. “Eu até pedi ao papa que ele não deixasse de, nas d

O presidente disse ainda que conversou com Bento 16 sobre o programa Bolsa Família e as políticas adotadas pelo seu governo para os jovens. O papo ficou cinco dias no Brasil e, durante a visita, canonizou Frei Galvão, o primeiro santo nascido no país.



Confira abaixo a íntegra do Café com o Presidente:



Olá, você, em todo o Brasil. Eu sou Luiz Fara Monteiro. Eu falo direto do estúdio da Radiobrás, em Brasília, e vamos conversar com o presidente Lula que está em São Bernardo do Campo (SP) neste domingo [13]. Vamos gravar essa edição do Café com o Presidente. Tudo bem, presidente?
Tudo bem, Luiz.



Presidente, uma semana em que o Brasil inteiro parou para ver a chegada do papa Bento 16. O senhor conversou com o sumo pontífice na quarta e na quinta-feira da semana passada. Como foi essa recepção ao papa, presidente?
Luiz, eu acredito que a passagem do papa pelo Brasil ela se transforma em um marco histórico. Primeiro, por que o papa teve toda a sensibilidade de ouvir praticamente todos os segmentos da sociedade. A Igreja convidou praticamente todos os setores da sociedade para participar da todas as atividades públicas do papa. Eu acredito que a mensagem do papa foi um pouco aquilo que nós esperávamos quando gravamos o programa na semana passada, falar da juventude e falar da família. São dois temas que eu acredito sejam temas de extrema importância para que o Brasil continue discutindo depois da saída do papa. Nós temos um tempo imenso agora para aprofundar a discussão sobre a família e sobre a juventude.



O senhor falou com o papa sobre os programas sociais do governo, presidente?
Falei. Eu falei com o papa do que estávamos fazendo aqui para ajudar a juventude brasileira. Por mais que a gente faça, tem um estoque tão grande de jovens que foram abandonados ao longo de muitos anos, que vai levar algum tempo para a gente poder recuperar toda essa juventude. Também discuti com o papa a questão do projeto de combate à fome, através do Bolsa Família, da nossa política para a agricultura familiar, do que estamos fazendo com o biodiesel no Nordeste brasileiro e no país inteiro. Eu senti, eu até pedi ao papa que ele não deixasse de, nas discussões da Igreja pelo mundo afora, discutir a questão do aquecimento do planeta, discutir a questão dos biocombustíveis e, sobretudo, discutir como fazer para ajudar os países africanos que podem ter no biodiesel a solução de desenvolvimento que não tiveram no século 20. Então, foram assuntos interessantes. O papa se mostrou muito interessado em discutir esse assunto. Eu vou continuar discutindo isso aqui com a Igreja brasileira. Eu penso que nós vamos evoluir muito, evoluir muito para a inclusão social e para combater a miséria no país e no mundo.


 


Você está ouvindo o Café com o Presidente. Hoje falamos sobre a visita do papa Bento 16 ao Brasil. Presidente, o papa Bento 16 em seus discursos, fez algumas críticas sobre alguns assuntos, alguns setores. Falou da violência, do tráfico de drogas. O que o senhor achou dessas críticas do papa?
Eu achei extremamente importante. Veja, muita gente fala, escreve e dá palpite antes, dizendo que o papa era extremamente conservador e queria tocar apenas em temas conservadores quando, na verdade, o que aconteceu foi que o papa teve um comportamento de muito compromisso com as questões sociais. Ele teve uma preocupação de conhecer os problemas de perto aqui no Brasil e teve vários pronunciamentos em que o papa colocou críticas profundas à questão da criminalidade, à questão da violência, à questão do abandono social a que os pobres do mundo estão submetidos. Então, eu achei que foi um comportamento muito digno, um comportamento, eu diria, benéfico para nós, povo brasileiro.



Presidente, o senhor também falou sobre a preocupação de manter o Estado laico, ou seja, separado um pouco da Igreja, cada um com a sua parte. O que senhor quis dizer com isso?
Veja, primeiro isso já está na nossa Constituição. Segundo, é importante que a gente tenha sempre como princípio aqui no Brasil respeitar as mais diferentes religiões existentes. Tem muitas religiões no Brasil e nós precisamos conviver com todas elas da forma mais respeitosa e mais democrática possível. Portanto, eu estou convencido de que o Estado laico é uma garantia da sustentação democrática também para o Brasil. Conversei com o papa sobre a necessidade da integração religiosa na América Latina, porque a Igreja Católica na América Latina também tem um peso muito importante. Nós estamos já há algum tempo falando em integração da América Latina, integração cultural, integração social, integração energética, integração de ferrovia, tudo. É importante que haja uma integração religiosa. Portanto, a 5ª Conferência Latino-Americana e Caribe sendo feita no Brasil é mais um passo importante, mais uma contribuição que a Igreja Católica dá para que a gente tenha mais harmonia na América Latina.



OK, presidente. Obrigado e até semana que vem.
Luiz, eu quero te agradecer e dizer para os ouvintes do nosso programa que a passagem do papa realmente foi uma coisa extremamente gratificante para o Brasil.