Itamaraty quer acelerar acordos do Mercosul fora da região

O diretor do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty, Evandro Didonet, considera “essencial” que o Mercosul sele acordos de livre comércio com países de fora da América do Sul, já que o bloco ainda não possui nenhum acordo desse tipo. Até


O diplomata afirmou que os acordos extra-regionais são necessários para equiparar as condições de competitividade dos exportadores e fortalecer a coesão do Mercosul. “É fundamental para a credibilidade do bloco fazer isso o mais breve possível”, disse Didonet. Os comentários foram feitos durante reunião, em São Paulo, com empresários do Conselho Superior de Comércio Exterior (Coscex) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).



A imobilidade do Brasil nas negociações bilaterais é uma das críticas do empresariado à política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Didonet evitou dizer que o Brasil está atrasado nesse processo e ressaltou que a experiência de negociar em conjunto ainda é recente no Mercosul.



Ex-ministro-conselheiro para assuntos econômicos da Embaixada do Brasil em Washington, Didonet assumiu o novo cargo em março. Ele tem duas prioridades: as negociações com o Conselho de Cooperação do Golfo e com Israel. Didonet acredita que os dois acordos podem ser concluídos no primeiro semestre.



Os países que fazem parte do Conselho de Cooperação do Golfo somam um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 600 bilhões e respondem pela segunda maior importação de produtos agrícolas do mundo, o que justifica interesse do setor privado brasileiro. Não apenas a agricultura, mas também a indústria quer vender produtos para esses países. “O potencial de consumo é muito grande”, diz Didonet. Uma reunião com o bloco deve ocorrer no fim do mês.



Entraves
As negociações esbarram em um complicador: o setor petroquímico. Didonet disse a um empresário da Associação Brasileira da Indústria Química, presente à reunião, que o governo tentaria resguardar a posição da entidade, ao mesmo tempo em que mantinha o interesse dos países do Golfo. “Esse setor é essencial para o nível de ambição do acordo. Com menos petroquímica, conseguiremos menos em outras áreas.” Outra dificuldade é a regra de origem. Os países do Golfo propõem 35% de exigência de conteúdo nacional, o que é insuficiente para o Mercosul.



“O acordo com Israel é mais simples, porque não provoca preocupações internas no Brasil”, disse Didonet. Nos dias 28 e 29, acontecerá nova rodada de negociação, a sétima entre Mercosul e Israel. Segundo o Itamaraty, as ofertas de Israel já cobrem 98% do comércio, enquanto o Mercosul chega a 94%. O acordo não inclui serviços e investimentos, o que facilita a posição sul-americana. A única dificuldade é a resistência da Argentina em abrir o mercado de defensivos e fertilizantes para Israel.



União Européia
As negociações com União Européia seguem como prioridade para o Mercosul. “O ministro Amorim pediu empenho na negociação”, disse Didonet aos empresários. Ele prevê a retomada das conversas no segundo semestre. Em 1º de junho, o principal negociador europeu, Karl Falkenberg, estará em São Paulo. Ele também deve visitar os demais países do Mercosul.



Para Didonet, o futuro das negociações da Rodada Doha estará mais claro no segundo semestre. Com a retomada do processo em Genebra, os europeus reviram sua posição e afirmam que só vão voltar à negociação com o Mercosul depois de um desenlace na OMC.



Questionado por um empresário se as novas exigências trabalhistas e ambientais européias podem atrapalhar o acordo, Didonet disse que seriam uma dificuldade, mas que até agora o Itamaraty não foi informado de mudanças na posição da UE. Outro empresário perguntou se a preferência européia pelas negociações com os países asiáticos pode dificultar o processo. “Avaliamos que é parte do jogo. Mas não deve diminuir a prioridade dada ao Mercosul”, afirmou.



Didonet disse que é preciso ampliar o leque de negociações e pediu sugestões. O presidente do Coscex, Rubens Barbosa, afirmou que a maioria das pessoas na sala pediria uma negociação com os EUA. “Não custa tentar retomar essa negociação.” Didonet respondeu que os EUA estão “sempre” na rota do Brasil, mas que as exigências em propriedade intelectual tornam o acordo difícil.



Fonte: Valor Econômico