Analistas atribuem queda do dólar aos juros nos EUA

O dólar caiu, nessa quarta-feira (9), abaixo dos R$ 2,02 pela primeira vez desde 2001, encerrando o dia a R$ 2,019. Segundo analistas, influenciou a decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, de manter o juro em 5,25% ao ano, sem sina

“A decisão do Fed causou um certo otimismo e a procura pelos mercados emergentes, como o Brasil”, disse Alex Agostini, economista chefe da agência de classificação de risco Austin Rating. Segundo ele, como a tendência é que os Estados Unidos não aumentem sua taxa, os investidores procuram mercados com taxas mais elevadas, como é o caso da Selic, atualmente em 12,5% ao ano.



Para Agostini, o otimismo vai continuar, o que deve pressionar o câmbio ainda mais. Ele acredita que nos próximos dois meses o dólar deverá valer menos que R$ 2,00, sem que o Banco Central possa segurá-lo.
“O potencial de compra do Banco Central é limitado e o do mercado não é”, diz o economista, para quem o BC está perdendo na quede de braço com os investidores.



Cenário favorável
Agostini lembrou que além da elevada taxa de juros, o Brasil dispõe hoje de um cenário muito seguro para os investidores, com risco-país abaixo de 160 pontos, reservas acima dos US$ 122 bilhões e todos os indicadores econômicos positivos.



O custo das constantes compras de dólares que vêm sendo realizadas pelo BC, com o objetivo de elevar o câmbio, preocupa os analistas.



As compras ajudam a engordar as reservas internacionais, mas o preço a ser pago pelo BC é alto. “A brincadeira ficou mais cara e isso acabou afetando a rentabilidade das reservas”, diz Agostini.



Para o economista, as intervenções do BC tiveram importância porque “graças a elas o dólar não está há muito tempo abaixo dos R$ 2,00”.  Ele também acredita que o dólar mais barato é o que tem ajudado a manter a inflação sob controle. “Há mais benefícios do que prejuízos com este câmbio”.



Eliana Graça Magalhães, economista do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), vê a situação com maior preocupação. Para ela, há um prejuízo social embutido nas atuações do Banco Central, que podem desembocar na desindustrialização do país e conseqüente desemprego.



“Não há razão para manter essa política de estímulo ao capital especulativo. Esse dinheiro poderia ser usado para estimular o capital produtivo, que é o que vai promover o desenvolvimento do país como deseja o governo”, diz ela.
A saída, para a economista, seria a redução mais acelerada da taxa básica de juros e a abertura para uma inflação um pouco maior.



“Ninguém está defendendo a volta da inflação, mas o Brasil poderia dar uma olhada ao redor e buscar a experiência de países que convivem com uma inflação mais elevada e com bom nível de crescimento econômico”, disse, citando Argentina e Venezuela.