Onde avançamos como nossa política de organização

Discutir estruturação partidária em uma organização política como o PCdoB é um exercício cotidiano, principalmente depois que um consenso bastante equivocado foi construído entre os militantes do partido – o de que os problemas de partido se resumem a pro

 


“Não podemos deixar de dizer o óbvio: sem um registro adequado nada se pode conhecer. Sem conhecimento não há ação consciente. Acabar com essa ojeriza ao controle, fruto de prolongada clandestinidade e falta de visão em médio prazo, é parte de nosso combate”.
(Walter Sorrentino: In Questões de Partido, p. 25).    


 


Este debate foi centro de grande polemica no interior do Partido por reduzir o todo da estruturação partidária a parte referente á organização, que é quem coordena a tarefa estruturante. Então se cabe a organização segundo Sorrentino “… o papel de coordenar, e sistematizar a experiência de construção partidária e gerir a vida do Partido como parte do sistema de direção”, precisamos fazer uma analise de como tem se comportado a direção do PCdoB-AP, e também a frente de organização em seu papel fundante. Ou seja, o que nos propomos a debater neste texto é de que forma nos preocupamos com nossa atividade política (planejamento estratégico, coordenação de sua aplicação concreta e com o registro) e como as controlamos com vistas à obtenção de resultados positivos em médio e longo prazo. Também tentaremos mostrar que em certa medida a fragilidade de nossa organização política tem como problema gerador a subestimação da importância no investimento em uma política de estruturação partidária capaz de constituir sólidos organismos de base, com vida orgânica com vistas a contribuição no processo de acumulo de força política e social do Partido.
  



Certa vez Walter Sorrentino em um artigo que tinha como titulo Flutuação e vida militante na base, dizia que se a aparência fosse a essência, não existiria a ciência. De fato Sorrentino referia-se a um dos principais desafios a ser superado pelo Partido. Porém em 1999 o PCdoB lança a primeira edição do Plano de Estruturação Partidário – 1º PEP, que sistematizava uma política de organização que permitia ao Comitê Central do partido identificar em que percentuais crescia o partido em todo o Brasil, onde atuavam os comunistas e de que forma se organizavam.
  



De 1999 até hoje o PEP já está em sua 5ª edição. Em 2001, no balanço de organização realizado do 10ª Congresso Nacional do PCdoB, éramos 35 mil comunistas participantes da vida política do partido, ou seja, militando. E no Amapá, como se encontrava o Partido Comunista? Se podemos afirmar que o primeiro PEP representou para o partido a possibilidade de um estudo mais aprofundado sobre problemas como 1) Flutuação militante, 2) A questão da carência de funcionamento e dinamismo dos organismo de base do partido e 3) espontaneismo, como podemos analisar o crescimento do Partido no Estado do Amapá?
  



Até hoje, se levarmos em consideração a afirmação de Sorrentino nosso crescimento real tem sido apenas no campo da aparência, pois a pesar de demonstrarmos “capacidade em mobilizar nossos filiados e arrebatar novos em períodos de conferências do Partido” e também em períodos eleitorais, esta mobilização é particular destes momentos. Nos períodos subseqüentes existe por parte da direção certa dificuldade de organizar estes filiados para a participação da vida partidária. Está dificuldade está diretamente ligada à ausência de uma sólida política de estruturação partidária compreendendo os aspectos teóricos e ideológicos da política do PCdoB, a ação concreta perante as massas e um mecanismo eficaz de controle desta ação que correspondam às necessidades da fase atual de estruturação partidária e dos desafios que enfrentamos no estado.


 



Breve histórico do PCdoB-AP


  



O artigo Um gigante de pés de barro do dirigente Evandro Siqueira faz uma analise de como o Partido Comunista tem se organizado desde a sua primeira geração, com a vinda do Maranhão do saudoso camarada Chaguinha ainda na década de 60 do século passado, portanto as vésperas da ditadura militar, onde o partido foi posto na clandestinidade, até o seu ultimo grande ciclo estruturante, onde um coletivo oriundo da igreja católica filia-se ao partido. Este grupo será fundamental na primeira grande vitória eleitoral da legenda 65 no Amapá.
  


 


Importante dizer sobre isso que desde a reorganização do PCdoB em 1993, o partido sempre foi participe da luta social no Amapá, dirigindo importantes entidades do movimento social, principalmente entidades do movimento comunitário e estudantil.
  


 


Esta atuação fez com que lançássemos candidaturas em consecutivas eleições apresentando um progressivo aumento do eleitorado comunista. Porém, este crescimento não representava na essência o crescimento estruturado do partido, pois existia imensa disparidade entre o contingente filiado e o militante.
  



O resultado eleições de 1998, onde com o lançamento de candidatura a federal alcançamos impressionantes 2.735 votos, fez com que a direção acreditasse que o partido estava preparado para transformar força política em força eleitoral. Mas a analise do camarada Marcos Panzera, de que “o partido no Amapá é bom de eleição, mas frágil na estruturação partidária” se apresentaria na sua forma mais brutal, e mesmo após o êxito de 2000, com a eleição da primeira parlamentar comunista na historia do partido no Amapá, encarou-se conseqüentes crises internas, que foram responsáveis pelo enfraquecimento do Partido.


 


Superar a Fragilidade orgânica do Partido


  


 


O debate que se impõe a este importante momento na historia do partido, onde assumimos importantes compromissos perante a sociedade amapaense, quer no parlamento federal e municipal, quer na administração publica estadual e na administração dos municípios onde ocupamos posições de destaque, é o de superar a fragilidade orgânica em que se encontra o PCdoB-AP. É imperativo a maturação de uma política estruturante que tenha como eixos centrais a formação de um sólido núcleo dirigente, que seja capaz de gerir a vida do partido mas também que de respostas aos problemas atuais de partido, além do investimento em maciça política de formação de quadros intermediários, possibilitando a perenidade dos princípios teóricos, ideológicos e políticos do partido.
  


 


É necessário que se compreenda que o PCdoB é um partido de ruptura, e que a conjuntura atual favorável ao campo progressista nos permitiu abrir um longo período de acumulação estratégica de força, porém é importante entender que, mesmo num momento favorável ao acumulo de forças, a ruptura ainda não é uma realidade concreta, por isso preparar internamente o partido para este momento é o grande desafio do núcleo dirigente do PCdoB.
  


 


Um grande esforço por parte da direção para manter a unidade e os princípios do partido se faz necessário. Compreender o atual nível da luta de classes pelo poder político e os campos onde esta batalha se desenvolve é de grande valia para a elaboração da tática mais acertada.
  


 


Não podemos deixar de reconhecer a importância atual da luta institucional que o partido trava no congresso nacional e nos parlamentos estaduais e municipais com a sua combativa bancada de parlamentares, a própria América Latina, constrói a sua experiência revolucionária dentro das leis e prerrogativas do próprio capitalismo e de suas instituições burguesas, porém a centralidade da atual tática dos comunistas aponta para a Renovação e a Permanecia. A renovação no sentido da feição da experiência revolucionária dos comunistas do Brasil, levando em consideração os costumes, a cultura, a dimensão territorial brasileira, enfim, um socialismo do século XXI com a cara do povo brasileiro, fugindo do positivismo esquemático das “receitas revolucionárias” que impregnaram o leste europeu, e a Permanecia no sentido da manutenção e reafirmação dos princípios do partido que foi fundando em 1922. A reafirmação do Marxismo-leninismo como ciência política que orienta teoricamente a ação dos comunistas, o proletariado como classe a qual representa o partido comunista, e a revolução socialista como alternativa ao sistema capitalista. Esta é a tarefa histórica do PCdoB, dirigir a classe trabalhadora rumo a uma sociedade igualitária, onde não haja explorados, famintos, miseráveis ou desempregados.


 


 


** Alan Farias Sales é historiador e secretario de comunicação do Comitê Estadual do PCdoB-AP.