Escola de Formação divulga homenagem à Guerrilha do Araguaia

Os participantes do Encontro de Professores da Escola de Formação do PCdoB/CE – que aconteceu dias 13 a 15 de abril, em Fortaleza – aprovaram um documento elaborado pelo jornalista Luis Carlos Antero em homenagem aos 35 anos da Guerrilha do A

 


Homenagem aos 35 anos  do início da luta no Araguaia.


 



Sob vários aspectos temos diante de nós um legado atualíssimo. O denodo dos guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil e do povo araguaio frutificou em generosa safra, contribuindo decisivamente para as conquistas democráticas. A partir de sua luta e de outras lutas significativas do nosso povo, conquistamos um regime de liberdades e até o ambiente para colocar na Presidência o primeiro brasileiro alheio ao berço das elites.


 



O tempo revelou, em linhas definidas, um fato que hoje é indiscutível: o autêntico terror das forças obscurantistas, naquela época, diante da possibilidade de uma guerrilha reorganizada em algum momento e em algum lugar do País, mesmo depois que decretaram o fim das operações, em 1975. Daí a implacável perseguição aos dirigentes do PCdoB — pelo temor que os comunistas começassem tudo de novo — até o Massacre da Lapa, no dia 16 de dezembro de 1976, ocorrido cerca de dois anos após o final da guerrilha, enquanto desdobramento daquele confronto desigual.


 



O projeto fascista tratou de exterminar os quadros comunistas com a determinação de liquidar todo vestígio de um pensamento nacional consistente. Mas não logrou êxito, como aponta a significativa visibilidade do Partido Comunista, de sua atuação e de suas idéias no cenário atual.


 



Claro que aqueles inigualáveis quadros fariam, hoje, muita diferença, mas seu exemplo é um legado histórico apropriado pelo povo brasileiro e que significa a ponte entre o passado, o presente e o futuro de lutas pela construção do socialismo no Brasil. Pois é neles também que se espelha a juventude comunista — quando mantêm frondosamente erguidas as bandeiras que distinguem o PCdoB das legendas empenhadas na reciclagem do capitalismo, com levíssimos retoques que não ultrapassam o sentido compensatório de suas políticas.


 



João Amazonas costumava dizer que os comunistas não fazem proselitismo da luta armada, mas sempre defenderão a liberdade quando ela estiver ameaçada, Essa disposição contém uma evidência testada em inúmeras e especiais ocasiões: o Brasil não pode prescindir de uma força de vanguarda da qualidade do PCdoB, que luta e participa intensamente da construção democrática. Seu traço fundamental está na tradição de assimilar todos os momentos favoráveis para edificar a acumulação de forças necessária aos grandes saltos de qualidade.


 



Se o País mudou numa questão fundamental, que é a da ditadura, continua carente de profundos avanços nacionais — com a reafirmação progressista da soberania — e também sociais, com a luta atualíssima pelo desenvolvimento, que motivou nossos guerrilheiros do Araguaia. É sugestiva, por exemplo, a vigência do programa da ULDP (União pela Liberdade e pelos Direitos do Povo). Salvo algumas mudanças de superfície, as condições de vida do povo brasileiro em regiões do interior remoto do País permanecem dramaticamente perversas. De resto, os maiores centros urbanos, com as largas fraturas de miséria e violência expostas pelas trevas da barbárie capitalista, alimentam novos programas de luta pela conquista de um novo e ensolarado dia para o Brasil.


 


Ao lado da luta pelo desenvolvimento persiste a batalha pela plena revelação dos fatos — de pleno interesse da sociedade brasileira. Há arquivos e arquivos, como na relação entre a história real da Inconfidência e os “Autos da Devassa”, produzidos pela polícia lusitana acerca daquele episódio libertário. Na época, pelas suas circunstâncias, a produção literária acerca da ação dos inconfidentes não foi tão generosa quanto a que se realizou nas décadas recentes, por novas circunstâncias, sobre a Guerrilha do Araguaia, que já foi generosamente, em verso e prosa, para o cinema, para a música e outras manifestações da cultura.


 


Essa produção realça, torna mais ostensiva e gritante, a ocultação dos arquivos sobre essa obra de resistência. Nessa medida, a atitude de ocultar denuncia um regime de trevas que ainda hoje não tem coragem de apresentar seus “Autos da Devassa”. Fica muito claro, nesse pusilânime comportamento, que há muito a esconder, até quando nos apresentam arquivos falsificados, manipulados.


 


Vivemos ainda em nosso País esse paradoxo: o povo brasileiro elegeu e reelegeu um governo democrático, mas ainda resistem amarras e limites institucionais que anunciam a necessidade de maiores e substanciais avanços na sua luta, sem “cartas de intenção”, com liberdade e soberania para abrir arquivos ou para adotar uma plena política macroeconômica favorável ao Brasil — esse ideal pelo qual lutariam também nossos guerrilheiros e dirigentes executados pelos fascistas na vigência do regime militar.


 



Essas conquistas estão articuladas com a persistência do nosso povo na luta pelo pleno resgate da sua História, e têm a ver com a exemplar e indômita determinação do desembargador federal Antônio Souza Prudente. Quando, no parecer que ordenava a retirada da tarja sinalizadora e o respectivo registro do segredo de justiça, Prudente confirmou a decisão da juíza federal Solange Salgado — que mandava abrir os arquivos sobre a Guerrilha do Araguaia — e citou Castro Alves, no penúltimo verso do famoso poema ''Navio Negreiro'':



''Auriverde pendão de minha terra/ Que a brisa do Brasil beija e balança/ Estandarte que a luz do sol encerra/ E as promessas divinas da esperança… /Tu que, da liberdade após a guerra/ Foste hasteado dos heróis na lança/ Antes te houvessem roto na batalha/ Que servires a um povo de mortalha!…''


 



Ao saudar os 35 anos do início da Guerrilha do Araguaia, os participantes do Encontro de Professores da Escola de Formação do PCdoB homenageiam os bravos combatentes na figura de  Custódio Saraiva Neto e batizam este encontro com seu nome. Custódio participou ativamente do movimento estudantil secundarista em Fortaleza, o que lhe valeu feroz perseguição por parte dos órgãos de repressão. Impossibilitado de continuar vivendo nesta cidade, optou por ir para o campo, para a região do Araguaia, na localidade de Chega Com Jeito, perto de Brejo Grande. Pertenceu ao Destacamento A – Helenira Resende – e mais tarde ao Corpo de Guarda da Comissão Militar da Guerrilha.Foi visto pela última vez por seus companheiros no dia 30 de dezembro de 1973.O Relatório do Ministério da Marinha diz que Custódio ''foi morto em 15 de fevereiro de 1974, em Xambioá''.


 



Ao lado de outros tantos brasileiros, em especial jovens, compõe a galeria dos mártires que deram suas vidas em nome da liberdade, da democracia, da justiça social e da soberania de nosso país.


 



Que viva a luta dos guerrilheiros do Araguaia por liberdade, desenvolvimento e igualdade!


 


Que viva o povo brasileiro e o Partido Comunista do Brasil!


 



Fortaleza, 13 de abril de 2007.