Timor Leste: em andamento um golpe ainda não finalizado

Mark Aarons, o Roberto Freire australiano, escreveu um artigo para a cadeia de mídia do multimilionário Rupert Murdoch tentando desferir mais um golpe contra a Frente de Libertação do Timor Leste (Fretilin) e, em particular, contra o ex-primeiro mini

''Há um sábio ditado que diz: ''Tudo que sobe, desce''. Isso é bastante verdadeiro no mundo político. O artigo de Aaron repete a lenga-lenga que há tempos é publicada na mídia australiana, principalmente pela rede ABC.
 
 
Mari Alkatiri é descrito no artigo como ''arrogante'', ''cego'', ''inepto'' e adepto dos ''golpes sujos'', entre outras vituperações menos preferidas. Concluindo, Mari Alkatiri foi responsável por tudo que deu errado ou que supostamente não deu certo nos cinco curtos anos desde que o Timor Leste se tornou independente, após uma luta selvagem contra a ocupação indonésia.
 


Aaron simplesmente varre para baixo do tapete as denúncias de que o Timor Leste foi (e continua sendo) a vítima da campanha golpista autraliana, inspirada e apoiada pelo seu aliado-mór, os EUA. Ele alega que a única resposta de Alkatiri (e da Fretilin) às desordens vividas pelo país nos últimos anos, era dizer ser ''vítima de uma conspiração maligna de forças no seio da oposição, da igreja e do Ocidente, que haviam maquinado um golpe contra o governo eleito democraticamente''.
 
 
Mark Aaron está fazendo um jogral com o resto da mídia australiana, que trata a atual eleição presidencial como um ''golpe devastador desferido contra a governista Fretilin''. Aaron torce decididamente a favor do lado apoiado pelo governo australiano, do atual presidente timorense José Ramos-Horta e do líder do famigerado Partido Democrático, Fernando Araújo, que fez o possível para bombardear todo o bom trabalho que o governo da Fretilin fez ou tentou fazer.
 


O que o artigo mostra, na verdade, é que Mark Aaron está inteirinho do lado das forças mais reacionárias da política australiana e faz festa pelo sucesso dos planos imperialistas da Austrália, de tornar mais uma vez o Timor Leste em uma colônia, com um governo neoliberal e com políticas determinadas pelo governo de John Howard, primeiro-ministro da Austrália.



Caso o golpe obtenha o sucesso desejado por seus planejadores, o Timor Leste será transformado em uma base naval e militar, em outro passo importante para cercar a China e eventualmente tratar de ''mudar o regime'' lá também.



Mas tudo isso exala do que Aaron escreveu,  não porque ele não sabe disso. Para incluir alguns dos fatos mais óbvios na atual situação seria um desserviço àqueles que hoje não hesitam em usar seu nome como uma figura que consegue empurrar as pessoas para os braços do imperialismo australiano e contra as genuínas forças progressistas do Timor Leste.



Digressão histórica



Não é absurdo fazer uma pequena digressão sobre alguns não tão velhos aspectos da história dos comunistas na Austrália.



Mark Aaron é filho de Laurie Aarons, que foi secretário-geral por uns tempos do antigo Partido Comunista da Austrália. Outro filho dele é Brian Aarons. A família tem crédito favorável junto à classe dominante da Austrália, pois foi ela que descarrilou o antigo PCA para fora dos trilhos, levando alguns líderes do partido a apoiar a sua dissolução em 1991. Isso levanta uma pergunta legítima: Essa parte da família Aaron era mesmo comunista?



A destruição do PCA foi conduzida debaixo dos panos da formação de um ''partido amplo de esquerda'', lançado no início de 1990 e que teve uma vida política comparável à das moscas, durando um par de anos para submergir e desaparecer definitivamente da vida política australiana.



Essa é a política que Mark Aarons gostaria de impor ao Timor Leste. Juntar todas as forças díspares, seja qual for seu papel, em um governo ''de união''. O resultado seria o desaparecimento das atuais políticas do governo da Fretilin, caso não fossem substituídas por outras feitas sob encomenda do governo australiano.



De volta ao Timor Leste



O resultado eventual das eleições do Timor Leste não está claro, mas espera-se que o povo timorense seja hábil para manter o progresso que trouxe a heróica luta de independência e as vantagens no padrão de vida que significaram esses anos de governo soberano da Fretilin.



Somente agora que o governo do país começa a desfrutar dos resultados da exploração de ricas reservas de petróleo no Mar do Timor. Foi Alkatiri que negociou o acordo a respeito dos recursos energéticos do país e estancou as interferências estrangeiras de empresas australianas interessadas no roubo de petróleo.



O governo também recusou aceitar empréstimos com condições políticas e econômicas estabelecidas pelo FMI e pelo Banco Mundial. Cabe uma pergunta: Qual foi o país que recebeu empréstimos do FMI e do Banco Mundial que não tenha intensificado ainda mais a pobreza para milhões de pessoas?



Mark Aaron  acha que o governo de Alkatir ''falhou em satisfazer as necessidades básicas do povo em relação a educação, empregos, saúde, estradas, eletricidade e água potável''. Pedir solução total para todos esses problemas a um governo que teve cinco anos, durante os quais ele teve de lutar contra a falência, é algo que está entre a ignorância completa e a arrogância.



Recursos petrolíferos



Em todos os casos, a verdadeira realidade está refletida no orçamento do governo dirigido pela Fretilin. O orçamento de 2005 para 2006 apresentava um valor de US$ 89 milhões. Mas tão logo os lucros das reservas começaram a fluir, foi aumentado para US$ 315 milhões para o biênio 2006-2007. Escrevendo para a revista Australia Socialista, Peter Murphy, da  Search Foundation e um membro do antigo PCA, diz que o Timor Leste tem ''crescimento econômico recorde a cada ano desde a devastação de setembro de 1999''.



Esse desenvolvimento, que poderia levar à consolidação do governo da Fretilin, foi uma das razões que empurraram a oposição para o golpe. Um governo progressista nas costas da Austrália é intolerável para a administração atual.



Durante as eleições, Peter Murphy escreveu: ''Estamos para testemunhar um esforço intenso em dividir e deslocar a Fretilin do país, retirando-a da posição de maior força política organizada do país''.



O governo da Fretilin também cometeu o imperdoável ato de convidar médicos cubanos para trabalhar no país (Quantos médicos o governo australiano mandou para lá?) e centenas de estudantes de Timor Leste estão agora cusrando medicina em escolas cubanas.



Outra decisão imperdoável foi o pedido do Timor leste de participar da Associação de Países do Sudeste da Ásia (ASEAN), o que sugere que enxerga a Ásia como seu melhor parceiro comercial.



Os distúrbios dos últimos anos criados pelo surto de mortes perpetradas pelo capitão Alfredo Reinardo deram ao governo australiano a desculpa que ele procurava. Sua resposta foi enviar um grande contingente, pesadamente armado, de tropas militares e policiais. O governo australiano se recusa terminantemente a colocá-las sob o comando das Nações Unidas.



Alfredo Reinardo é um caubói aventureiro cuja família vive na Austrália. Ele foi treinado na academia militar de Canberra. As ligações estreitas entre Reinardo e as autoridades asutralianas foram demonstradas pela facilidade com que ele (e mais 50  amigos) deixaram a cadeia de Dili, sob os narizes das autoridades australianas. Reinardo estava preso à espera de julgamento por um suposto assassinato.



A mesma forma de relacionamento foi exibida novamente quando um contingente de tropas australianas fizeram uma encenação para ''recapturar'' Reinardo. Não é surpresa que, assim que as tropas desembarcaram no suposto quartel-general ''secreto'' ele tenha desaparecido por completo.


 


A mídia australiana voltou novamente a fazer silêncio a respeito de Reinardo. Sem dúvida ele reaparecerá assim que terminar a apuração das eleições e caso a Fretilin seja declarada vitoriosa.



Enquanto isso, na mídia australiana e do próprio Timor Leste, há um verdadeiro massacre contra a Fretilin. Como já foi mencionado acima, a atual administração australiana não vai tolerar um governo progressista instalado em um lugar estratégico e rico em petróleo, como é o jovem Estado do Timor Leste.