Movimentos sociais da AL defendem o direito à energia

Paralelamente à Primeira Cúpula Energética da Comunidade Sul-Americana de Nações, realizada nos últimos dias 16 e 17 de abril, em Ilha Margarita, na Venezuela, as organizações sociais do continente também realizaram a sua reunião, a exemplo do que já ocor

Os entidades aprovaram uma resolução conjunta em que apontam a necessidade de o desenvolvimento de novas fontes energéticas estar vinculado à soberania dos povos do continente e à preservação do meio-ambiente. Participaram do encontro organizações como a Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA), e redes de movimentos sociais e ONGs, como a Aliança Social Continental (ASC).


 


Para tais objetivos, o documento propõe o fortalecimento das empresas estatais de energia e a nacionalização de todos os recursos energéticos dos países. “Manifestamos nossa preocupação com os chamados agrocombustíveis, cuja a expansão se dá por meio da expansão da monocultura tendendo a concentrar ainda mais a propriedade de terra em nossa região, reproduzindo relações trabalhistas baseadas na violência e na extrema exploração”, registram os movimentos.


 


Um dos principais temores das organizações, bem como do presidente cubano, Fidel Castro, é que o aumento da monocultura de cana-de-açúcar, para a produção do etanol, tome o espaço da produção de alimentos.


 


Mas, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o desenvolvimento dos agrocombustíveis não compromete o plantio de alimentos. Lula disse que não conhece as “bases técnicas e científicas” das críticas.


 


No documento, assinado por mais de 30 entidades do Cone Sul, entre elas a Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA), o Grito dos Excluídos, o Centro Brasileiros de Solidariedade e Luta pela Paz (Cebrapaz), os movimentos apontam como solução para a questão energética o investimento em pesquisas para a implementação de fontes alternativas de energia, tal como a eólica, que já é utilizada em Cuba. Outro ponto que os movimentos relacionaram como prioridade é pensar a integração energética do continente e postular a energia “não com mercadoria, mas como um direito humano”.


 


O documento exige dos governantes da Comunidade Sul-Americana de Nações que não dêem continuidade às políticas energéticas “liberais” de produção de energia barata para o mercado externo e para os setores agroindustriais.


 


Encontro oficial


 


A Cúpula dos Chefes-de-Estado foi marcada pelo debate dos agrocombustíveis e por parcerias no setor de infra-estrutura. Na declaração dos movimentos sociais fica claro um posicionamento mais próximo à postura de Cuba, que já se manifestou contra esse tipo de combustível, do que a do Brasil e EUA, que ratificaram um acordo para a produção de etanol.


 


O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, havia se manifestado contrário aos acordos realizados entre Lula e Bush sobre o etanol, no último mês de março. Mas, na terça-feira (17), o venezuelano afirmou não ser contra os agrocombustíveis e fechou acordo com o presidente brasileiro para a importação do produto. Além de anunciar a compra do álcool brasileiro, Chávez e Lula acordaram a construção em parceria do Pólo Petroquímico do Jose, em território venezuelano. A obra está inicialmente orçada em US$ 5 milhões.


 


Antes do início do encontro oficial, havia a expectativa de que o Brasil anunciasse formalmente sua adesão ao Banco do Sul. Mas o secretário de relações internacionais da presidência, Marco Aurélio Garcia, afirmou que o Brasil não tem interesse em participar de um projeto em que não participou da formulação. “Nós não vamos aderir a um projeto pronto. Não vamos comer o prato feito. Nós queremos ir para a cozinha e participar da elaboração do prato”, afirmou Garcia.


 


Para ele, uma proposta mais sensata é a do presidente equatoriano, Rafael Correa: uma reunião com ministros da Fazenda de toda a América do Sul para discutir o banco.  “Uma proposta sensata de que ele, como economista, pudesse, de certa maneira, coordenar um esforço para a formulação de um projeto de sistema financeiro”, considerou Garcia.