Livro secreto revela que militares temiam “revanche” comunista

Ao final da guerra, o vencedor perdeu e o perdedor venceu. Os comunistas foram derrotados nas armas, mas, a partir do início da década de 1980, começaram uma nova (e mais bem-sucedida) tentativa de tomada de poder. A conclusão, carregada de melancolia,

De acordo com a obra, em meados da década de 70, a esquerda, ou melhor, o movimento comunista, começou a virar o jogo ao (fingir) depor suas armas e iniciar uma “campanha psicológica” contra as Forças Armadas e um grande trabalho político de massa. É o que o livro chama de quarta tentativa de tomada de poder pelos comunistas.


 


As três primeiras tentativas teriam ocorrido em 1935, com a Intentona Comunista, a segunda, no período 1955-1964, com ações desferidas por organizações como as Ligas Camponesas, e a terceira tentativa com a luta armada promovida por organizações de esquerda na ditadura. “Essa tentativa (a quarta) de fato já teve início há alguns anos. Vencida na forma de luta que escolheu, a luta armada, a esquerda revolucionária tem buscado transformar a derrota militar que lhe foi imposta (…) em vitória política”, diz o livro em sua apresentação.


 


A obra afirma que a “quarta tentativa” é “mais perigosa e, por isso mesmo, mais importante”. A estratégia teria como ações concretas o movimento pela Anistia, no final da década de 1970, as denúncias dos casos de tortura e morte no exterior, a fundação do PT, em 1980, e o movimento das Diretas-Já, em 1984.


 


Sem perceber que a esquerda verdadeiramente comprometida com os ideais socialistas continuava nas filerias do Partido Comunista –até então na ilegalidade–, os oficiais-escritores do Centro de Informações do Exército (CIE) – o serviço secreto da instituição– acreditavam que o PT estava se tornando um celeiro de grupos revolucionários, que, na semi-clandestinidade, esperavam o momento certo para voltar a atacar. O CIE também pinçou declarações favoráveis à revolução feitas por veteranos comunistas, como João Amazonas, do PCdoB, ou escritas em resoluções de grupos politicamente decadentes, como o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), para fazer um alerta: em 1988 – ou seja, no terceiro ano do governo José Sarney – ainda ardia nas esquerdas a chama da luta armada.


 


Na penúltima página do livro, ao citar a Guerra de Canudos (episódio ocorrido na Bahia entre 1893 e 1897, em que o Exército aniquilou o movimento político-religioso de Antônio Conselheiro, matando cerca de 25 mil pessoas), o CIE admite que os perdedores (as esquerdas) estavam ganhando fama de heróis, enquanto os vencedores (as Forças Armadas) estavam passando à história como vilões. “Enquanto os insurgentes tiveram sempre quem lhes cantasse as façanhas em que foram vitoriosos ou mártires, os legalistas se calaram e amargaram os apodos injuriosos.” Depois, uma quase confissão: na redemocratização do país, as esquerdas estavam conseguindo importantes vitórias contra os militares. “Ao atingir os homens, o alvo era alcançar, muito mais do que eles, a própria instituição armada; o objetivo, afastá-las das missões de segurança interna. O meio utilizado foi a mais cara e bem-estruturada agressão psicológica de que se tem notícia. O alvo foi atingido. O objetivo visado pode até ser alcançado.”


 


“Exagero”


 


Especialista em questões militares, o cientista político Jorge Zaverucha, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), discorda. “Isto é evidentemente um exagero.” A posição é seguida pelo professor de história contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF) Daniel Aarão Reis Filho. Segundo ele, essa é uma “análise conspiratória” e errada. “Essa suposta quarta tentativa de tomada de poder por parte do movimento comunista é uma imaginação que eu considero delirante. As esquerdas passaram por um processo de metamorfose que esses analistas de direita têm muita dificuldade em perceber ou admitir.



Com informações do jornal “O Estado de Minas”


 


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