Universidade Nova acaba com vestibular e muda currículos

A composição do ensino superior por três ciclos – um bacharelado interdisciplinar, de formação geral; um ciclo de formação profissional específica; e um ciclo de pós-graduação – e o fim do vestibular como forma de ingresso dos estudantes nas universida

De acordo com a proposta o primeiro ciclo do ensino superior duraria três anos e seria composto por interdisciplinas, isto é, propiciaria ao aluno uma formação nas áreas de Humanidades e Ciências em geral, além de educação para cidadania. Quem optasse por uma profissão, passaria por uma seleção específica ao final desse período e cursaria o segundo ciclo, dedicado à formação profissional. De acordo com o curso, esse período poderia variar entre um e quatro anos.



Já aqueles que demonstrassem vocação para a carreira científica poderiam seguir para os cursos de mestrado e doutorado, sem precisar cursar as disciplinas técnicas que hoje são obrigatórias em qualquer curso de bacharelado. Desse modo, a formação de um doutor seria reduzida dos atuais 10 anos (quatro de graduação, dois de mestrado e quatro de doutorado) para um período que poderia chegar a seis anos.



Cursos de curta duração



A proposta prevê ainda a criação de cursos superiores de curta duração, que propiciem a formação de “tecnólogo”, para aqueles alunos que necessitam de uma formação profissional mais rápida. Para o reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Naomar Monteiro de Almeida Filho, a nova conjuntura conceitual exige que a universidade faça a articulação dos saberes, por meio da inter e da transdisciplinaridade e de paradigmas alternativos de formação, que resgatem o pensamento complexo. “Não é possível que a universidade brasileira continue a ser uma instituição inculta.”



Almeida Filho, um dos articuladores do Universidade Nova, explicou que a proposta apresentada aos parlamentares foi elaborada em conjunto por sete universidades federais (Bahia, Brasília, do ABC, Rio de Janeiro, Pará, Piauí, do Recôncavo da Bahia e Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia). O projeto recebeu o nome de “Universidade Nova” em homenagem ao educador Anísio Teixeira e seu projeto “Escola Nova”, realizado na década de 30.



Reforma universitária



Durante a audiência, deputados e palestrantes defenderam a necessidade de uma reforma universitária. Os representantes das universidades, contudo, ressaltaram a importância da autonomia das instituições de ensino na definição dos rumos da reforma. Para Naomar Filho, a responsabilidade pela reforma universitária é das próprias universidades. “A legislação somente dará as condições para isso.”



O deputado Rui Pauletti (PSDB-RS) afirmou que a reforma universitária “é necessária e urgente” e citou como exemplos as avaliações feitas por instituições internacionais que não relacionam nenhuma das universidades brasileiras entre as 500 instituições de ensino superior mais importantes no mundo. O reitor da UFBA questionou, entretanto, os critérios usados nessas avaliações e lembrou que há universidades brasileiras reconhecidas internacionalmente por sua qualidade de ensino.



Problemas curriculares



O secretário de Ensino Superior do Ministério da Educação, Ronaldo Mota, afirmou, durante a audiência nesta terça-feira, que a atual estrutura curricular do ensino superior é “frustrante”, especialmente para os estudantes universitários que têm mais de 24 anos e que já estão inseridos no mercado de trabalho. Segundo ele, o mérito do projeto Universidade Nova “é apontar as deficiências do ensino superior, especialmente a rigidez nos currículos”.



A coordenadora de Educação da Federação do Sindicato de Trabalhadores das Universidades Brasileiras (Fasubra), Fátima Reis, afirmou que a principal pergunta sobre o ensino superior é: qual o modelo de universidade que atende às necessidades brasileiras? Ela ressaltou que, qualquer que seja a opção adotada, serão necessários mais investimentos.



De acordo com o reitor da UFBA, o ensino superior no Brasil tem uma “profusão terminológica” e evidencia sérios problemas de articulação. Segundo ele, entre os problemas gerados pelo atual modelo de estrutura curricular estão: precocidade nas escolhas de carreira profissional; seleção limitada e pontual para ingresso na graduação; elitização da educação universitária; rigidez nos currículos da graduação; incompatibilidade quase completa com modelos de arquitetura acadêmica vigentes em outros países.



O reitor da UFBA defendeu mudanças no processo seletivo e disse que o vestibular é inútil. “Hoje, é apenas um exame de memorização, não de capacidade potencial”, avaliou.



Investimentos



O Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) defende a flexibilização dos currículos como forma de ampliar as vagas. O presidente da entidade Paulo Marcos Borges Rizzo explicou que, desde 1997, as universidades federais tiveram um aumento de 40% na oferta de vagas, mas o número de professores e funcionários diminuiu no mesmo período. Ele expressou a preocupação dos professores com a expectativa do governo de ampliar a oferta sem aumentar os investimentos nas universidades.



Estudantes querem participar


 


O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta, defendeu, por sua vez, a participação estudantil no debate sobre a reforma universitária. Segundo ele, os professores e o governo menosprezam a capacidade dos alunos em sugerir soluções viáveis e adequadas para a universidade brasileira.



Petta reclamou do sucateamento das instituições públicas e da expansão desenfreada do ensino privado, sem vinculação com os interesses do País ou com as demandas regionais.



O presidente da UNE defendeu a necessidade de uma reforma universitária, mas disse que o Projeto de Lei 7200/06, do Poder Executivo, que institui essa reforma, não altera pontos fundamentais. Entre eles, o controle da compra das instituições privadas por corporações estrangeiras e os debates sobre os conteúdos curriculares. Ele defendeu ainda o investimento estatal para possibilitar a expansão do ensino.



O representante dos estudantes considerou positiva a proposta “Universidade Nova”, por não se render à lógica do mercado, que, segundo ele, seria a de uma especialização profissional exclusiva, sem uma formação geral em cultura humanística, artística e científica.


 


Fonte: Agência Câmara