Repúdio a alianças marca reta final da campanha na França

A campanha eleitoral francesa chega a sua última semana, com os candidatos que surgem nas quatro primeiras posições atacando a possibilidade de alianças para o primeiro turno. Pesquisas indicam que segundo turno terá disputa entre direitista, Sarkozy, e c

O ultradireitista Jean-Marie Le Pen aproveitou o último domingo de sua campanha para subir um grau acima o tom de sua curiosa relação de amor e ódio com o candidato de direita Nicolas Sarkozy. Le Pen o qualificou de “racaille” (lixo, escória, chusma), o famoso epíteto usado pelo ex-ministro do Interior quando se referia aos jovens dos subúrbios, rebelados em fins de 2005.



A candidata do partido socialista, Ségolène Royal, por sua vez, viu-se de novo obrigada a rechaçar os cantos de sereia que chegam da ala mais social-democrata de seu partido, para que faça um pacto com o centrista François Bayrou.



O vetusto Le Pen, em um comício realizado no Palácio de Esportes da Porta de Versailles, presenciado por 5 mil pessoas, vociferou contra Sarkozy acusando-o de esquecer seu passado, já que seus pais são imigrantes da Hungria e da Grécia. “O mundo não gira em torno de sua figura Sarkozy. Muito antes de seus parentes chegarem de longe, sempre houve no seio do povo francês uma corrente nacional mais preocupada com o futuro e com os interesses do país  que com os interesses de seus dirigentes”, trovejou.



A patada de Le Pen foi aplaudida pelos 5 mil presentes, que compõem uma curiosa camada da sociedade francesa. Aos 79 anos e diante de sua 5.ª campanha presidencial, o ultra-direitista atrai de veteranos ex-combatentes da França imperialista na Argélia e na Indochina a jovens bombados com cara de bad-boys e cabeças peladas. Além deles, via-se na platéia famílias da pequena burguesia, perfeitamente insípidas e que acabavam de chegar de seus passeios no interior, em um esplêndido dia de primavera.



Tanto Le Pen como Sarkozy insistiram no fim de semana em repudiar a possibilidade de um pacto não escrito entre ambos, algo que a mídia vinha “deduzindo” após os entreolhos que os candidatos se lançaram nas semanas anteriores. Em uma entrevista ao Le Parisien Dimanche, Le Pen queria deixar registrado que “não há nenhum acordo, nem conversa” com a Union pour un Mouvement Populaire (União por um Movimento Popular – UMP). A única frase carinhosa que dispensou a Sarkozy foi admitir que não tinha por ele “a mesma aversão visceral” que nutre pelo presidente Jacques Chirac.



Sarkozy, por sua vez, repudiou qualquer pacto com o Front National (FN), mas insistiu que tem direito a lançar um anzol no pesqueiro xenófobo. “Vou pegar os eleitores um por um, vou dizer a eles que seus votos não servirão para nada se insistirem no Le Pen”, disse em um comício.



Furos na Centro-esquerda



Com a água de uma possível derrota no primeiro turno batendo no tornozelo da campanha do Partido Socialista, o ex-ministro da Saúde, Bernard Kouchner, abraçou a idéia lançada pelo ex-primeiro ministro Michel Rocard, de Ségolène agarrar-se à mesma bóia do centrista François Bayrou, ainda no primeiro turno. Ségolène não gostou da idéia, muito menos o primeiro secretário do partido (e seu marido), François Hollande, que foram à mídia para descartá-la completamente.



“A Unión pour la Democracie Françoise (União pela Democracia Francesa – UDF), faz parte da maioria, está presente no governo e votou com a UMP de Sarkozy em todos os cantos da França”, e sobre a proposta de Rocard, ironizou: “Tem o mérito de ser constante, há muitos anos que tenta, por meio de alianças, colocar o centro no socialismo”, alfinetou.



Como véus que escondem as formas, as frases de efeito escolhidas pelos candidatos procuram dissipar o temor que uma aliança mal feita poderia causar aos eleitores de um ou outro candidato. Sarkozy e Le Pen se mostram arredios para não perder os votos dos eleitores de centro no primeiro turno.



Já os candidatos do centro, como Ségolène e Bayrou, temem perder os votos da esquerda com uma aliança “prematura”.



Esquerda pulverizada



A esquerda, que cumpriu um importante papel na campanha pelo “Não” à constituição neoliberal européia em 2005, logo após o referendo decidiu por uma candidatura única para a presidência do país. Com a eleição de Marie-George Buffet, do Partido Comunista Francês, para a disputa, os trotsquistas resolveram deixar a coligação de esquerda. Comunistas, trotsquistas, altermundistas e verdes escolheram caminhos próprios e se perderam pelas alamedas.



Hoje, o carteiro-candidato Olivier de Besancenot, da trotsquista Liga Comunista Revolucionária, é pautado pela grande mídia francesa e virou meteórica celebridade. Utilizando esse trabalhador, a grande mídia comemora a divisão.



Besancenot talvez seja, segundo ela, o primeiro candidato da esquerda a atingir 5% dos votos. A LCR é apenas uma das três organizações trotskistas concorrentes que lançaram candidatos no primeiro turno das eleições. Além de Besancenot, há Gérard Schivardi, o candidato de 56 anos do Partido dos Trabalhadores (PT), e Arlette Laguillier, 67 anos, que está concorrendo pela última vez após seis candidaturas pelo Partido Luta Operária (LO) desde 1974.



O Partido Comunista Francês, após o projeto de uma “esquerda unida” esboroar, resolveu permanecer na disputa, com seus membros votando para que o PCF sustentasse a candidatura de Buffet, que está oscilando entre 2,5% e 1,8% das intenções de voto.



Nesta terça-feira (17), o jornal Liberation, insistiu no voto “útil” em Ségolène, sacudindo o fantasma de 21 de abril de 2002, quando Le Pen conseguiu eliminar o candidato do PS, Lionel Jospin, passando para o segundo turno com o conservador Jacques Chirac. Segundo pesquisa feita pelo jornal, 70% dos franceses consideram que seria “muito negativo” para a democracia do país que a história se repetisse no próximo domingo.