Galdino, 10 anos depois: mais 257 indígenas foram assassinados

Um ato para marcar os 10 anos do assassinato de Galdino, lembrar os indígenas que foram mortos na luta pela terra e repudiar a violência contra os povos foi o principal evento do dia, nesta terça-feira (17), no Acampamento Terra Livre, em Brasília.

Os cerca de mil indígenas acampados caminharam da Esplanada dos Ministérios até a praça Galdino, na 703/704 Sul. No local, lideranças indígenas do Nordeste e de familiares de Galdino se menifestaram sobre o acontecimento.



Desde a madrugada do dia 20 de abril de 1997 – quando Galdino Pataxó Hã-Hã-Hãe foi queimado vivo por jovens de classe média alta de Brasília –  até março de 2007, pelo menos 257 indígenas foram assassinados em todo o Brasil, segundo levantamento do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). 



A falta de terras ou as disputas pela posse de terras e pelos recursos naturais nelas existentes são responsáveis por grande parte destas mortes. Esta realidade tanto gera os conflitos com invasores, quanto aumenta as tensões internas às comunidades, causadas pelo confinamento em espaços exíguos, que levam ao suicido.



“Os dados demonstram que as tensões internas vividas pelas comunidades indígenas vêm sendo transferidas para o seu interior, causando desequilíbrios nas relações entre as pessoas, propiciando brigas, facilitando o consumo de álcool e drogas, levando ao surgimento de assassinatos dentro da própria comunidade”, segundo o Relatório Direitos Humanos no Brasil em 2006.



Assassinato



Nos depoimentos, as lideranças indígenas relembraram as circunstâncias da morte de Galdino. O índio, 44 anos, do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe, da Bahia, foi assassinado enquanto dormia num ponto de ônibus de Brasília. Ele estava na cidade buscando apoio para luta de seu povo, que tenta até hoje recuperar suas terras tradicionais, invadidas por fazendeiros. Ele chegou tarde na pensão onde estava hospedado e foi impedido de entrar, por isso dormiu na parada de ônibus.



Também destacaram as características dos assassinos. Cinco jovens, um deles com menos de 18 anos, ao voltarem de uma festa na madrugarada do dia 20 de abril, viram Galdino e decidiram atear fogo nele. Ao serem presos, confessaram o crime e se justificaram dizendo que pensaram que Galdino fosse “apenas um mendigo”.



Os assassinos de Galdino encontram-se em liberdade condicional desde o final de 2004. O mais jovem não chegou a ser internado. Os que tinham mais de 18 anos, Tomás Oliveira de Almeida, Eron Chaves Oliveira, Max Rogério Alves e Antonio Novely Cardoso trabalharam e estudaram fora do presídio, mesmo estando em regime fechado – privilégio concedido pela Justiça, embora totalmente ilegal. Muitas vezes foram vistos nas noites de Brasília, bebendo com amigos, quando deveriam estar no presídio.



Violência do poder público



Galdino é irmão de outra liderança, João Cravim, assassinado em 1988, aos 29 anos. Desde sua morte, em 1997, mais de uma dezena de situações de violência contra os Pataxó Hã-Hã-Hãe foram registradas, sempre no contexto de disputa com fazendeiros sobre a posse de terra. Entre elas, estão atentados a dois ônibus que transportavam estudantes, invasão a uma escola, tentativas de assassinato e ameaças de morte. Houve 5 ameaças de morte desde 1997, e uma ameaça à comunidade toda em 1997.



A violência vem também do poder público, cuja omissão causou mortes por falta de assistência médica, e cuja ação causou a esterilização de mulheres e prisões ilegais.



Enquanto as violências se repetem, o processo de nulidade de títulos emitidos pelo estado da Bahia sobre terras Pataxó Hã-Hã-Hãe aguarda julgamento há 24 anos no Supremo Tribunal Federal (STF).



Fonte: Cimi