Mudanças climáticas, causas e conseqüências econômicas

A mesma mídia que transmite sobre catástrofes previsíveis – fundamentadas ou meramente conjeturais – pouca atenção presta à maneira como as economias industriais dominantes, tendo os Estados Unidos como protagonista, tratam dessa questão.


Há uma crescente produção de consenso na comunidade científica especializada sobre as causas humanas que provocam mudanças climáticas, associadas ao chamado efeito-estufa. Essas causas, por sua vez, estão fortemente correlacionadas aos padrões vigentes de produção industrial e consumo de energia, cuja conseqüência direta ou indireta seja elevar a emissão dos teores de monóxido de carbono na atmosfera.


 


Ao enorme avanço em métodos e técnicas da pesquisa climatológica que permitem medir com precisão as causas provocativas do aquecimento global e, a partir destas, suas conseqüências para as mudanças climáticas – principalmente em regimes pluviométricos, nível de água dos oceanos, probabilidade de elevação da intensidade dos tufões e ciclones etc. –, praticamente nenhum ou muito pouco avanço de pesquisa tem havido para desvendar as causas das causas disso tudo. É bem verdade que, recentemente, o governo britânico divulgou relatório técnico-científico prospectivo sobre conseqüências econômicas do aquecimento global, prevendo e medindo para os próximos 50 a 100 anos os efeitos econômicos catastróficos desse aquecimento para a economia global. Mas, tirante os apelos para redução da emissão do monóxido de carbono, pouco avanço se fez na reflexão sistemática sobre os padrões de utilização de recursos naturais, produção industrial e consumo de energia, que provocam ou agravam o efeito estufa.


 


Mudanças climáticas, quando saem da prancheta dos cientistas e ingressam no debate público, têm conseqüências que vão mais além daquelas previstas pelos cientistas do clima. Em geral, o público, devidamente alertado pela grande mídia, tende, com razão, a temer pelas conseqüências que afetam sua vida quotidiana. E no Brasil há muito receio, pelo que transmite a mídia televisiva, sobre as conseqüências dos regimes de chuvas para destruição de parte da floresta amazônica, desertificação do semi-árido, ou ainda sobre a elevação do nível dos mares, afetando grande parte das cidades situadas em zonas baixas da orla marítima.


 


Essa mesma mídia que transmite sobre catástrofes previsíveis – fundamentadas ou meramente conjeturais – pouca atenção presta à maneira como as economias industriais dominantes, tendo os Estados Unidos como protagonista, tratam dessa questão.


 


Por que não se avançou na implantação do Protocolo de Kyoto, ou na substituição das fontes de energia não renováveis, principalmente do petróleo; na mudança dos “standards” de consumo e desperdício de energia que a sociedade norte-americana elegeu por paradigma – e o resto do mundo imita?


 


Não há nenhuma evidência de que o capitalismo globalizado, pelas suas próprias estratégias, esteja dando respostas eficazes às crises planetárias que as mudanças climáticas já provocam e tendem a maximizar. Mas há esperança que a sociedade humana engendre novos paradigmas na economia política mundial – onde não apenas as conseqüências, mas também as causas do aquecimento global possam ser tratadas com novos métodos de organizar a produção e o consumo de bens econômicos –, de forma consentânea com uma ecologia não predatória da vida planetária.


 


*Guilherme C. Delgado, economista do IPEA, é membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.


 


Fonte: Correio da Cidadania