Nepotismo pode derrubar presidente do Banco Mundial

Artigo do jornalista Pedro Doria, colunista do site No Mínimo, elenca algumas razões que podem levar à derrubada do presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz.

Ciranda diplomática



por Pedro Doria


 


Quem manda no Banco Mundial são os países que lhe sustentam. EUA, Japão, Alemanha, França e Reino Unido são os de maior poder, sendo que Washington – por ser melhor entre os iguais – sempre nomeia o presidente.


 


O atual, Paul Wolfowitz, vai um bocado mal.


 


Ex-número dois de Donald Rumsfeld, promotor da Guerra do Iraque, foi indicado por Bush para assumir o Banco. Nenhum dos burocratas da instituição jamais gostou dele. Mas era o chefe.


 


Sua namorada, Shaha Riza, trabalhava no banco. Wolfowitz requisitou sua transferência, por empréstimo, para o Departamento de Estado dos EUA. Providenciou também um aumento generoso, Riza foi para quase 200.000 dólares ano. É mais do que sua chefe, Condoleezza Rice, ganha.


 


Wolfowitz é judeu e, contumazmente, acusam-no de ‘sionismo’ extremado. Sua irmã é israelense, mora em Jerusalém. Riza é muçulmana, nasceu na Líbia, criou-se entre Tunísia, Arábia Saudita e Reino Unido. Estão juntos há vários anos. O homem que fez lobby para a Guerra do Iraque deixou sua mulher por Riza, um caso violento de amor.


 


Agora, também de nepotismo.


 


Está comprovado que Wolfowitz movimentou-se dentro da estrutura do World Bank para garantir à namorada um bom cargo, a continuidade de seu salário no Banco enquanto estivesse emprestada e o tal aumento, num percentual consideravelmente acima da média da instituição.


 


O conselho do Banco está reunido permanentemente, os europeus pressionam para que saia. Querem mais poder, lá. Não é simples remover o presidente do Banco Mundial, mas Bush está enfraquecido na estrutura de poder do mundo.


 


Wolfowitz entrou com discurso de ética, de limpeza interna. O pessoal de carreira não gostou do que ouviu – afinal, era uma acusação implícita de corrupção. Foi pego pela própria boca. Na quinta-feira, enquanto discursava para seus comandados, foi vaiado. De pé.


 


Não quer dizer que cairá. Se cair, não foi apenas por conta do nepotismo. O nepotismo será uma desculpa num jogo de influência no Banco.


 


Se não cair, vira uma rainha da Inglaterra. O conselho mandará em seu lugar.