Ministra argentina critica a atuação do FMI na América Latina

A ministra argentina das finanças queixou-se neste sábado da atuação do Fundo Monetário internacional, ilustrando o fosso cada vez maior entre alguns países da América Latina e a instituição.

Segundo Felisa Miceli, os conselhos dados pelo FMI, em matéria de reforma econômica, ''alimentam o protecionismo e radicalizam a oposição política''. A intervenção foi feita em assembléia semestral do Fundo em Washington.



No início de 2006, a Argentina honrou a totalidade de seu débito com o FMI, estimado em 9,6 bilhões de dólares na época. Mesmo se as vantagens econômicas de uma tal medida não estivessem evidentes, ela permitiu à Argentina evitar de se submeter às condições do Fundo.



''De maneira repetida, o Fundo vem se opondo a qualquer fixação de um salário mínimo e se faz defensor da flexibilidade do mercado de trabalho, sem se preocupar com as convenções internacionais sobre normas sociais'',


 


Salário menor para “manda-chuvas” do FMI


 


A ministra também criticou questões administrativas da direção do Fundo e pediu a redução ou o congelamento do salário de Rodrigo de Rato, diretor-gerente do FMI, e outros altos funcionários, em resposta ao problema fiscal enfrentado pelo organismo.


 


A ministra fez o pedido em um discurso em nome do Chile, Bolívia, Peru, Paraguai, além de seu próprio país, no Comitê Monetário e Financeiro Internacional (IMFC, em inglês), órgão que dirige a estratégia da instituição.


 


“Sentimos vergonha que, enquanto há uma queda drástica de receita, seja pedido a nós que aprove um aumento do salário para a gerência e o Conselho Executivo”, disse Miceli na declaração apresentada ao Comitê.


 


“O IMFC deveria pedir à gerência e ao Conselho Executivo a redução ou pelo menos o congelamento dos salários, como uma contribuição para responder ao problema orçamentário”, disse.


 


A gerência é integrada por Rato, que ganha US$ 391,440 mil ao ano livres de impostos, o primeiro subdiretor-gerente, John Lipsky, que embolsa US$ 340,380 mil, e os dois subdiretores gerentes, Murilo Portugal e Takatoshi Kato, com US$ 324,170 mil, segundo o relatório anual do Fundo.


 


Os membros do Conselho Executivo, que representam os 185 países que integram o organismo, recebem US$ 204,4 mil.


 


Seus salários são reajustados anualmente de acordo com a inflação. Miceli disse que a Argentina votou contra aumentos de remuneração no passado e o continuará fazendo.


 


Reduzir os salários “não resolverá o problema da receita que enfrentamos, mas pelo menos será um ato visível e dará mais credibilidade ao Fundo, que pediu ajustes (salariais) a seus países-membros quando está com problemas”, disse Miceli.


 


O Fundo atravessa uma fase difícil porque é financiado com os juros que cobra pelos empréstimos concedidos a seus membros, mas ficou praticamente sem clientes.


 


Encontrar novas fontes de renda é um dos assuntos abordados hoje pelo IMFC. Miceli disse que os países do Cone Sul “não estão convencidos” que seja uma boa idéia vender parte do ouro da instituição, que é a recomendação principal de um comitê de analistas encarregado de analisar o tema.


 


No entanto, se manifestou a favor de dar ao Fundo mais opções para investir suas reservas.


 


Déficit Democrático


 


Miceli, que preside um grupo de países em desenvolvimento conhecido como G-24, também cobrou do FMI mais representatividade dos países emergentes na tomada de decisões do Fundo.


 


Um comunicado recente emitido pelo G-24 cita que reformas com objetivo de aumentar a representação dos países em desenvolvimento é de ''extrema importância para a legitimidade e eficiência das Instituições de Bretton Woods''. ''Os ministros reiteraram a necessidade para uma reforma significativa para lidar com o déficit democrático'', menciona o comunicado.


 


Para os ministros das nações em desenvolvimento, ''a nova fórmula (de cálculo) de cota em discussão no FMI deve refletir o tamanho econômico relativo de países na economia global. PIB, medido pelo poder de paridade de compra, deverá ser a principal medida para determinar o peso econômico do país'', estima o G-24.



Kirchner: ''parem de criticar a Argentina''



Na última quinta-feira (12), foi o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, quem reclamou do Fundo. Ele solicitou ao diretor-gerente do FMI, Rodrigo Rato, que deixe de criticar a Argentina.



Mais cedo, Rodrigo Rato dissera que o governo argentino deveria pôr em prática ''algumas medidas administrativas, como uma solução de curto prazo para as pressões inflacionárias''. Ele sugeriu também um controle maior da inflação no país.



''Senhor Rato, com todo o respeito que merece seu cargo, dedique-se a falar de outros, porque nós não concordamos com você'', declarou o presidente, na localidade portenha de Arrecife.



Kirchner ressaltou que o FMI ''já não pode dizer o que a Argentina deve ou não fazer'', e lembrou da ''fome, das pressões sofridas, dos desempregados, da quebra que o país sofreu e do grande endividamento que teve''.



''Deixe de criticar os argentinos, que com suas próprias idéias estão progredindo'', afirmou Kirchner. ''Tenham certeza, não terá governo argentino que pedirá mais instruções ou dinheiro do Fundo'', finalizou.



Da redação,
com agências