The Guardian: Berezovsky quer dar um golpe em Putin

Em uma entrevista publicada nesta sexta-feira (13) no jornal britânico The Guardian, o bilionário russo Boris Berezovsky, que vive em Londres evadido da Justiça de seu país, afirmou que pretende derrubar à força o presidente russo, financiando co

O empresário russo Boris Berezovsky, exilado em Londres, admitiu em uma entrevista ao diário The Guardian que planeja derrubar pela força o presidente da Rússia, Vladímir Putin, após estabelecer contatos com membros da cúpula de seu país. “Precisamos usar a força para mudar esse regime”, porque, de outro modo “é impossível”, disse Berezovsky em uma entrevista que, segundo o diário, pode complicar as relações entre o Reino Unido e a Rússia. O Kremlin já qualificou de delito o complô tramado pelo magnata e pediu a Londres que não conceda a ele o regime de asilado político.


 



Na surpreendente entrevista, o multimilionário reconhece que está financiando pessoas próximas ao presidente, que conspiram para montar um golpe. “É impossível mudar esse regime por meios democráticos. Não pode haver mudança sem força, sem pressão”, incita o empresário, cuja fortuna é estimada em 1,3 bilhão de euros. Perguntado se estaria fomentando uma revolução, o homem de negócios responde: “Você está absolutamente correto”. Berezovsky, que tinha grande influência política na Rússia antes de se exilar, agrega que não podia dar mais detalhes fundamentando suas afirmações porque a informação é muito delicada.


 


O Kremlin qualificou de “delito” os comentários do empresário e acredita que isso pode prejudicar sua condição de refugiado no Reino Unido. “De acordo com nossa lei, as afirmações são tratadas como um delito”, disse ao jornal o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, que disse também acreditar que as autoridades britânicas “nunca fornecerão asilo a alguém que quer utilizar a força para mudar o regime na Rússia”.


 



Por sua vez, o procurador-geral Iuri Tchaika considera que as palavras do exilado constituem uma “convocação de tomada do poder pela violência”, segundo artigo publicado na agência de notícias RIA-Novosti. Este fato contribui para aumentar a validade do pedido de extradição, feita há anos por Moscou.


 



O bilionário publicou um comunicado na manhã de hoje assegurando que “apóio o uso de métodos alternativos para forçar uma mudança que leve à democracia. Entretanto, quero deixar bem claro que todos esses métodos não podem ser cruéis. Quiçá as revoltas populares na Geórgia e na Ucrânia sejam bons exemplos. Respaldo a ação direta. Não defendo a violência”, completou Berezovsky.


 



Como destruir a imagem de Putin


 



Essa não foi a primeira vez que o empresário colocou em apuros o Reino Unido por declarações similares. No ano passado ele disse a uma rádio de Moscou que queria desbancar Putin pela força, fazendo o então titular britância da pasta de Relações Exteriores, Jack Straw, afirmar no parlamento que “apoiar a violência para derrubar um Estado soberano é inaceitável”, advertindo o empresário de que poderia perder o status de refugiado em Londres.


 



Na entrevista ao The Guardian, Berezovsky admite que está em estreito contato com membros da elite política da Rússia que, segundo ele, “compartilham os mesmos pontos de vista de que Putin prejudica a Rússia ao centralizar o poder”. O bilionário sublinha que “Não há mudança de poder por meio de eleições democráticas”.


 



Ainda que se negue a revelar seus contatos, afirma que está oferecendo “experiência e ideologia” a membros da elite política do país, e também como entende “o que se poderia fazer”. Disse também que existem “passos práticos” que está fazendo agora, “principalmente financeiros”.


 



Berezovsky também afirma que não lhe causa nenhuma preocupação qualquer ameaça ao seu status de refugiado junto ao Reino Unido, por causa do caso do ex-espião russo Alexander Litvinenko, assassinado em Londres no ano passado com uma dose de Polônio 210, uma substância radioativa.


 



“A realidade hoje para o caso Litvinenko é bem distinta”, observa. Também revela que dedicou os últimos seis anos para “destruir a imagem positiva” que muita gente do ocidente tem em relação a Putin, a quem classifica como “pessoa antidemocrática”. Berezovsky, de 61 anos e matemático, fez fortuna com a compra de ações do Estado quando o governo russo, de Boris Ieltsin, deu início ao processo de privatização. Ele fugiu da Rússia em 2000, após as eleições presidenciais.