Não esqueçam crimes de guerra, diz premiê chinês ao deixar Japão

O primeiro-ministro chinês Wen Jiabao concluiu nesta sexta-feira (13) uma visita histórica de três dias ao Japão. Wen encontrou-se com o parlamento japonês, reuniu-se com líderes partidários e fez uma visita informal a agricultores, estudantes e jogadores

Na quarta-feira (11), primeiro dia de sua visita, Wen foi ao parlamento e diante de todos os deputados pediu que que não sejam esquecidas as agressões que Tóquio cometeu durante a guerra ao seu país, mesmo que as duas potências asiáticas melhorem suas relações e ampliem seus laços comerciais.


 



Wen foi o primeiro líder chinês a falar ao Parlamento japonês em 22 anos. Foi uma retribuição à visita de Shinzo Abe, o primeiro-ministro japonês, que visitou a China em outubro, um mês após assumir o cargo. Ambas as visitas pretendem melhorar as relações bilaterais, que foram estremecidas durante o governo de seu antecessor, Junichiro Koizumi, que irritou a China e o povo coreano ao visitar um santuário em Tóquio onde estão enterrados criminosos de guerra.


 



O premiê chinês também buscou ser conciliatório, reconhecendo as desculpas do Japão e atribuindo as invasões da China a um grupo militarista de Tóquio. ''Refletir sobre a história não é ficar remoendo os desagradáveis sentimentos, mas lembrar e aprender com o passado para criar um futuro melhor'', disse, em meio a aplausos dos deputados.


 



No entanto, Wen lembrou que a China continua cautelosa sobre o modo com que o Japão lida com o legado de sua sangrenta ocupação de grande parte da Ásia até 1945. ''O povo chinês sofreu muito durante a guerra e a ocupação lançados pelo Japão'', declarou Wen. Ele disse esperar que as desculpas do Japão por suas invasões nos anos 30 e 40 sejam ''transformadas em ações''.


 


Atenção a partidos


 



O premiê da China, em seu segundo dia de visita ao Japão, reuniu-se com diversos líderes de partidos japoneses. As reuniões, em separado, serviram para ambas as partes expressarem o desejo de aumentar a cooperação e o desenvolvimento a longo prazo de relações bilaterais.


 


Wen reuniu-se com Kazuo Shii, líder do Partido Comunista Japonês, com Hidenao Nakagawa, do Partido Liberal Democrata, com Akihiro Ota, do Social Democrata e vários outros líderes.


 


''A China e o Japão são países vizinhos e, por isso, o desenvolvimento das relações entre as duas nações é um traço fundamental para a expansão da cooperação mútua'', comentou o premiê e também líder do PCCh.


 


O governo chinês presta muita atenção ao desenvolvimento das relações bilaterais e mantém uma política de relações amistosas com o Japão'', continou Wen, ao reafirmar que o objetivo de sua visita é desenvolver as relações bilaterais e consolidade as bases políticas, econômicas e sociais para as relações bilaterais.


 



O premiê comentou também que por vários anos os partidos japoneses se dedicaram ao desenvolvimento das relações com a China. O PCCh teve intercâmbios proveitosos com vários partidos japoneses, aprofundando o entendimento mútuo e a confiança, indicou Wen.


 



Visita informal


 



Nesta sexta-feira (13) o primeiro-ministro chinês visitou uma família de agricultores, conversou com estudantes da língua chinesa japoneses em Quioto e apitou o início de um jogo de basebol, esporte favorito dos japoneses.


 



Na cidade histórica de Quioto, a antiga capital do Japão, Wen Jiabao participou numa cerimónia de chá ao som da harpa tradicional nipónica, perto de uma bandeira que tinha inscrito as palavras ''respeito mútuo''. ''Chegamos à compreensão, ao aprender a conhecer-nos uns aos outros'', declarou Wen.


 



O primeiro-ministro chinês descreveu hoje sua visita como ''a mais necessária e difícil realizada no exterior nos últimos anos'' e acrescentou que experimentou por isso ''um sentimento de missão e de grave responsabilidade''.


 



A visita de Wen Jiabao ao Japão, a primeira de um alto dirigente chinês desde 2000, constituiu uma nova etapa da diplomacia entre os dois países, seis meses depois da viagem histórica do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, à China.


 



As relações entre os dois países degradaram-se durante o governo do ex-primeiro-ministro Junichiro Koizumi entre 2001 e 2006.  Há dois anos irromperam em várias cidades chinesas protestos violentos contra a política de não-reconhecimento de crimes de guerra pelo governo japonês.