Lingüista coloca em xeque teoria de Chomsky

Em artigo publicado na revista americano The New Yorker nesta sexta-feira (13), lingüista que pesquisa desde os anos 70 uma tribo da Amazônia afirma que a língua falada pelos índios que analisou coloca em xeque uma teoria elaborada pelo lingüista

O lingüista Dan Everett e sua mulher estudaram a tribo Pirahã, que vive às margens do rio Maici, em Rondônia, e fala uma língua que aparentemente não é relacionada a nenhuma outra. Um artigo sobre a tribo Pirahã, descrevendo a descoberta de Everett, foi publicado na última edição da revista americana The New Yorker.


 


Segundo Everett, os Pirahã não demonstram fazer uso de um recurso lingüístico que consiste em inserir uma frase dentro de outra do mesmo tipo, como quando o narrador combina pensamentos (“o homem caminha pela rua”, “o homem está usando uma cartola”) em uma única sentença (“O homem que está usando uma cartola está caminhando pela rua”). Chomsky argumenta que esse recurso é um marco comum a todos os idiomas.


 


Steven Pinker, cientista da Universidade de Harvard, afirma que a teoria de Everett é “uma bomba atirada em uma festa” e, durante meses, foi discutida nos meios acadêmicos.


 


Everett, que já foi discípulo de Chomsky, insiste que não apenas os Pirahã são um “exemplo contrário” à sua teoria de Gramática Universal, mas também que não são um caso isolado.


 


“Acredito que uma das razões de não termos encontrado outros grupos como este é porque, simplesmente, nos falaram que não era possível”, disse.


 


Os Pirahã usam apenas oito consoantes e três vogais. Por outro lado, seu idioma possui grande variedade de tons, sílabas longas e sílabas fortes.


 


Os índios podem usar estes recursos com vogais e consoantes juntas, cantando, cantarolando baixo ou assobiando conversas inteiras.


 


Mas os Pirahã não possuem palavras para designar números ou quantidades – termos como “tudo”, “cada um”, “cada”, “muito” ou “pouco” -, algo que era considerado comum a todas as línguas.



Lingüistas acreditam que tais termos são blocos comuns, básicos, do conhecimento humano. A língua da tribo também não tem nenhum termo fixo para cores, não tem tempos verbais perfeitos, e os índios não têm tradição em artes ou desenho.



Os fonemas (os sons que constroem as palavras) da linguagem dos Pirahã são extremamente difíceis, com sons lamentosos nasais, respirações curtas e precisas e sons feitos com estalos ou simplesmente por bater os lábios.



A natureza tonal do idioma também confunde: o significado das palavras depende de mudanças de volume. Por exemplo: as palavras para “amigo” e “inimigo” diferem apenas no volume de uma única sílaba.