Cem dias de governo Serra: modo neotucano de governar?

Por Nivaldo Santana*
O governador José Serra completou 100 dias à frente do governo paulista. Eleito no primeiro turno para a quarta gestão consecutiva do PSDB, é natural que Serra goze, no início de seu mandato, com a boa vontade da população. Embora

Uma primeira questão é a postura de Serra de procurar se diferenciar no PSDB. O governador paulista procura afastar-se de algumas características que fazem parte do estilo tucano de governar.



Serra busca, por exemplo, demarcar com a gestão de Geraldo Alckmin. Seus dois primeiros decretos (recadastramento dos funcionários e revisão de contratos de fornecedores e prestadores de serviços) acabaram por atingir o governo passado.
Além disso, Serra demite boa parte dos secretários do grupo de Alckmin, desativa metade do programa Bolsa-Escola, menina dos olhos do ex-governador e, para completar o fogo amigo, recompra um avião para uso oficial.



O discurso de posse e algumas iniciativas de Serra  pretendem passar a imagem de um governo desenvolvimentista. Com isso, quer apagar da memória popular o viés fiscalista que foi a marca central de Covas e Alckmin.



Nesse rumo, o governador tenta apertar os gastos de custeio (contigenciamento de recursos das universidades públicas e reajuste salarial por mérito e não linear para o funcionalismo, para ficar apenas em dois exemplos) para ampliar as margens de investimentos.



Sua intenção é realizar obras de impacto que causem boa impressão na população e, assim, pavimentar seu grande sonho: viabilizar sua candidatura a presidente da República em 2010.



Sua ambição esbarra na disputa interna com o governador mineiro, Aécio Neves. Por isso, Serra pretende impor-se como o grande líder do PSDB e garantir a realização de seu projeto político principal.



Isso explica os movimentos sinuosos de Serra no plano federal. Como Lula não pode ser candidato à reeleição, o governador adota uma postura contraditória: fala em parcerias administrativas, de olho em dinheiro federal, e faz oposição tópica ao presidente.



É uma espécie de conflito de baixa intensidade, na linguagem dos estrategistas militares. Coerente com essa orientação, o grupo de Serra apoiou a candidatura do candidato petista à presidência da Câmara Federal.



Mas Serra não viaja em céu de brigadeiro. O PSDB está dividido e as feridas demoram a se cicatrizar. Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra da legenda, tachou de erro estratégico o apoio ao PT na eleição da Câmara.
Ao lado dos problemas domésticos, Serra enfrenta grandes dificuldades em São Paulo. A piora da educação pública, as recorrentes crises na segurança pública e transtornos em obras como a da linha 4 do Metrô vão, progressivamente, arranhando a imagem do governador.



Outro calcanhar-de-Aquiles de Serra é a grande impopularidade do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Os dois fizeram um acordo político que tem como base à reeleição de Kassab em 2008, fato que pode gerar novo foco de atrito no PSDB.
A oposição ao governador precisa, na atual fase, ser concreta e propositiva, atacando os pontos débeis do governo. Há uma maioria parlamentar na Assembléia Legislativa que limita a ação oposicionista, mas também aí a oposição precisa ser mais contudente.



O estilo centralizador e autoritário de Serra é outra  fonte de problemas e deve ser alvo da oposição. Os movimentos sociais, em particular os servidores públicos, estudantes e movimentos comunitários, podem intensificar suas reivindicações e fustigar o governador.



O Estado de São Paulo está na contramão dos ventos mudancistas que sopram no Brasil com as duas vitórias de Lula. Construir uma alternativa avançada no Estado passa pelo êxito de uma oposição ampla que contribua para dar um fim ao longo reinado dos tucanos paulistas.



* Vice-presidente do PCdoB/SP


 


Clique ára ver mais notícias de São Paulo