Brasileiro livra diabéticos de insulina

Uma terapia experimental com células-tronco, projetado para reverter a evolução da diabetes tipo 1, permitiu aos portadores da doença se livrarem das injeções de insulina por meses e, em um caso por três anos, revelou um estudo publicado na terça-feira (1

Treze dos 15 pacientes que participaram dos testes com a nova terapia conseguiram se livrar das injeções de insulina das quais depende a maioria dos diabéticos e continuam livres de insulina até hoje, informaram os autores do estudo em artigo publicado no ''Journal of the American Medical Association'' (JAMA).


 


Um dos primeiros pacientes a se submeter ao procedimento está há três anos sem recorrer a qualquer suplemento sintético de insulina para regular os níveis de glicose em seu organismo.


 


''Esta é a primeira terapia para (portadores) de diabetes tipo 1 a ter como resultado a suspensão do tratamento com remédios'', disse Richard Burt, chefe de imunoterapia da Escola de Medicina Feinberg, da Universidade Northwestern, em Chicago, e um dos principais autores do estudo.


 


Enquanto os cientistas continuam a monitorar o progresso dos pacientes, os resultados preliminares evocam a possibilidade inquietante de que a diabetes tipo 1 não seja uma sentença perpétua, segundo um proeminente pesquisador americano especializado em diabetes.


 


''Este estudo, realizado por Voltarelli e outros, é o primeiro do tipo que provavelmente será adotado no futuro em muitas experiências com terapia celular para interditar o avanço da diabetes mellitus tipo 1'', escreveu Jay Skyler, da Universidade de Miami, em um editorial que acompanhou o artigo no JAMA.


 


''A pesquisa neste campo deve explodir nos próximos anos e deverá incluir testes aleatórios controlados, bem como estudos mecânicos. À medida que futuros estudos confirmarem e se fundamentarem nos resultados de Voltarelli e outros, poderá estar próximo o momento para o início da reversão e da prevenção da diabetes mellitus tipo 1'', acrescentou.


 


A diabetes tipo 1 abrange apenas de 5% a 10% de todos os casos da doença, mas pode resultar em complicações sérias, incluindo cegueira, falência renal, problemas cardíacos e derrame.


 


Ela ocorre quando o próprio sistema imunológico do corpo ataca e destrói as células beta do pâncreas, que produzem insulina, causando a falta do hormônio, necessário para regular os níveis de glicose no sangue. Quando a maioria dos pacientes recebe um diagnóstico clínico da doença, de 60% a 80% de suas células beta já foram liquidadas.


 


Com este estudo, os cientistas esperavam que se eles interviessem cedo o suficiente, poderiam reprogramar o sistema imunológico do corpo, permitindo ao pequeno reservatório de células beta se regenerar. Para este fim, eles recrutaram diabéticos que receberam o diagnóstico no período de seis semanas antes ao estudo.


 


Os cientistas começaram a experiência coletando células-tronco dos voluntários. Então, os pacientes se submeteram a uma quimioterapia para eliminar seu próprio sistema imunológico e, em seguida, receberam transfusões de suas próprias células-tronco para reconstruir seu sistema imunológico.


 


Catorze dos 15 voluntários — 93% — ficaram livres das injeções de insulina por algum período que se seguiu ao tratamento. Onze dos dispensados de tomar insulina suplementar depois do tratamento não recorreram desde então à insulina sintética. Os períodos de remissão variaram de 36 meses para o paciente que iniciou a terapia primeiro, a seis meses para os que a iniciaram mais tarde.


 


Outros dois pacientes precisaram de alguma insulina complementar por 12 a 20 meses depois do procedimento, mas finalmente ambos conseguiram se livrar das injeções de doses sintéticas do hormônio. Um paciente ficou 12 meses sem injeções, mas teve uma recaída um ano depois do tratamento, após sofrer uma infecção viral, e retomou as injeções diárias de insulina. Outro voluntário foi eliminado do estudo depois que apresentou complicações.


 


Segundo os autores da pesquisa, são necessários mais estudos para avaliar a segurança e a eficácia desta terapia, mas os primeiros indícios são encorajadores quanto aos benefícios e ao baixo risco de efeitos colaterais, que incluíram um caso de pneumonia e dois de disfunção hormonal.