Estudo condena uso exclusivo dos juros como freio à inflação

Utilizar só os juros para deter a inflação é uma prática pouco eficiente e que prejudica uma política que vise ao crescimento econômico, à criação de emprego decente e à redução da pobreza. A avaliação é de um estudo feito pelo Centro Internacional de Pob

“Usar apenas a política monetária para controlar a inflação vai quase sempre exigir custos altos em termos de produção e crescimento do emprego”, afirmam os autores do relatório, Robert Pollin e James Heintz, do Departamento de Economia e Política Econômica da Universidade de Massachusetts-Amherst.



No relatório, intitulado Aumentando os Empregos Formais no Quênia: o papel da política monetária, do controle da inflação e da taxa de câmbio, os dois economistas debruçam-se sobre o caso do Quênia, país africano que ocupa o 152º lugar no ranking de 177 países do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Em alguns pontos, porém, a política monetária queniana é parecida com a aplicada no Brasil. Mesmo a crítica feita pelo relatório às limitações dos juros guarda semelhança com declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista à revista CartaCapital de dezembro de 2005, ele disse que “é um erro” o Brasil ter um “único instrumento” para controlar a inflação. “Precisamos nos dotar de mecanismos para controlar a inflação sem permitir que os juros sejam o instrumento exclusivo”, afirmou.



Limitar-se aos juros é especialmente problemático, segundo o estudo, em situações em que a inflação é causada por problemas de oferta, por choques de preços no mercado internacional ou por inércia. “Freqüentemente, a pressão inflacionária que a economia queniana enfrenta é deflagrada por choques de oferta, como um desempenho ruim na agricultura ou alta dos preços dos combustíveis e do petróleo”, afirmam os autores. “Esse tipo de choque de oferta aumenta a inflação, mas ele também desacelera o crescimento econômico”, observam. Nesse contexto, “apertar a política monetária em resposta a esse tipo de evento para manter baixas taxas de inflação implica risco de piorar o impacto econômico desses choques”.



Outros caminhos
As alternativas sugeridas pelo relatório envolvem medidas como criação de estoques de alimentos (para compensar alta de preços de produtos alimentícios em razão de seca ou outros choques), elevação temporária de subsídios para o transporte público (para contrabalançar o efeito do aumento da cotação do barril de petróleo no mercado internacional) e adoção de uma política de acordos sobre rendimentos, que possibilitaria redução de salários quando há ameaça de inércia inflacionária.



A aversão à inflação, contudo, deve ser vista com ressalvas, segundo os autores. Eles deixam claro que o controle da inflação é importante para geração de empregos no setor formal, mas observam que não há consenso entre os economistas sobre a relação entre inflação baixa e crescimento. O relatório afirma que, para o Quênia, estabelecer uma meta de inflação abaixo de 5% ao ano “pouco provavelmente vai oferecer benefícios em termos de desempenho do crescimento econômico”.



Fonte: Agência Envolverde/PNUD